segunda-feira, 7 de abril de 2014

Os crentes são os principais responsáveis da aversão dos não crentes pela igreja

TEXTO BASE: Romanos 2.24

Não resta dúvida da urgência e da necessidade da igreja em cumprir sua grande comissão no mundo (Mt.28.18-20; Mc. 16.15-18). A pregação é responsável pela salvação de vidas (1 Co 1.21; Rm 10.17), tirando-as das trevas e levando-as para perto de Cristo (Cl 1.13), porém, uma pregação dissociada de uma vida piedosa que glorifique a Cristo é um grande desserviço para a causa do Senhor.

Gostaria, com isso posto, de considerar, sendo esse o nosso título, que “Os crentes são os principais responsáveis da aversão dos não crentes pela igreja”. É claro que ao argumentar nessa tese quero afirmar que somente Deus é responsável pela conversão dos não crentes. Isso com o poder de Sua Palavra, usando a instrumentalização do Espírito que é a causa da vitória de Cristo sobre as mentes descrentes, porém, não resta dúvida que nossa conduta em face à pratica do nosso cristianismo é responsável pela “má fama” de nossa religião.

Antes de tudo é necessário dizer que temos a garantia de que seremos perseguidos. Pedro nos adverte: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pd. 4.14). Aqui ele estava falando da perseguição comum a aqueles que são fiéis. Está se remetendo aos desafios de sermos ovelhas enviadas para o meio de lobos (Mt.1016), algo que o nosso próprio Senhor ensinou (Jo 15.20). A perseguição faz parte da vida do crente e o crente maduro se prepara para entendê-la sem, contudo se esquecer “que a nossa luta não é contra sangue e carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef. 6.12).

Só que não estamos falando dessa perseguição, estamos falando daquilo que os não-crentes estão realmente certos em nos dizer quando nos dizem que estamos errados. Daquilo que eles observam em nosso testemunho e que dificulta a nossa mensagem.

O texto que lemos no início fala-nos de um povo que também teve a mesma tarefa no passado, sendo que estiveram mais presos as suas tradições e seu estado privilegiado, de modo a desprezar aqueles que se encontravam longe de tudo aquilo que eles estavam vivendo. Os judeus são o povo aqui exposto. Paulo os repreende por vários fatores e nós precisamos identificar o que faz um não-crente não vir à igreja por causa do testemunho dos crentes. Vejamos isso, considerando as mesmas críticas tecidas pelo apóstolo nesse texto aqui.

I- Um crente sem vida se baseia em arenosos alicerces quando é orgulhoso (vv.17-20).

O orgulho dos judeus os impedia de estender a aliança a outros povos. É claro que não vemos a recomendação de Deus para que a aliança fosse estendida aos não judeus no antigo pacto, mas Paulo assevera que era pelo menos necessário que os gentios chegassem a temer a Deus em razão da reverência que se era exigida deles. Vejamos então como a falta de vida deles fundamentou alicerces arenosos e orgulhosos:

O orgulho judaico (v.17) – A palavra καυχᾶσαι (kauchasai), traduzido aqui “glorias” é uma palavra muito utilizada pelo apóstolo Paulo. Existem alguns textos que a usam num sentido positivo como, por exemplo, Gl 6.14 “...longe de mim gloriar-me, senão na cruz do nosso Senhor Jesus Cristo.” Mas o uso mais comum é sem dúvida o sentido negativo, como temos aqui. Paulo nos lembra que os judeus se orgulhavam de terem um nascimento judeu, talvez por achar que isso fosse prova de eleição. Eles se orgulhavam da própria Lei e no conhecimento da mesma. Isso não os fazia ter misericórdia daqueles que estavam fora, mas os afastava.

Orgulho de Deus (v.18) – Isso não era algo positivo, mas negativo. O conhecimento de Deus não os conduzia a humildade e isso não por causa de Deus, mas por causa do seu próprio pecado. Talvez tenha sido este o orgulho de Jonas quando desprezou o chamamento para o arrependimento de Nínive. Eles eram instruídos desde criança na Lei e isso os fazia ter orgulho espiritual.

Orgulho ao instruir (v.19-20) – A condição elevada os fazia desprezar aquele que não tinha a mesma condição que eles, os gentios. Povo que era considerado cego, em trevas, ignorante e crianças. Esse orgulho os fazia desprezar os não judeus que eram vistos como “cachorros” (Mt.15.26). O principio utilizado para esse preconceito era a própria Lei de Deus, o que fazia os descrentes odiarem a Lei em razão daqueles que se diziam “protetores da Lei”.

II- Um crente sem vida desaprova o evangelho com um testemunho falho e pecaminoso (vv.21-23).

O orgulho não era o único pecado que os judeus cometiam. Eles pregavam algo com os lábios, mas o testemunho de vida deles era lastimável, como diz o Senhor em Isaías 29.13: “...este povo se aproxima de mim com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim”. Quão perto eles se aproximam de certos, ditos “cristãos”, que são ativos nas suas igrejas, tem até mesmo cargos, mas não conseguem viver uma vida segundo aquilo que pregam. Vejamos as implicações levantadas pelo apóstolo aqui:

A Lei e a capacidade de ensino (vv.21-22) – A Lei havia sido dada por Deus para instrução no caminho de santidade, porém, os judeus criticados por Paulo não viam desta forma. Não conseguiam ser instruídos eles mesmos. O ensino era desacreditado por algo como “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Eram ladrões, mas diziam que furtar era errado. Eram adúlteros e ensinavam que adulterar é pecado. O problema é que todos conheciam suas práticas. Nada que eles diziam causava efeito, pois faltava o poder de uma vida santa.

A desonra da Lei pelo pecado deles (v.23) – Paulo sentencia que a Lei era desonrada por práticas tão hipócritas. Os não crentes não viam porque buscar a santidade, pois testemunho nenhum viam a esse respeito. Ao anularmos a Palavra com a nossa falsidade estamos nos colocando debaixo do mesmo juízo que Deus julgará o mundo sem Deus. Não se brinca com coisas santas e aqueles judeus, como muitos hoje fazem exatamente a mesma coisa.

III- Um crente sem vida faz o ímpio blasfemar a Deus porque eles julgam o nosso Deus por testemunhos ímpios (v.24).

Segundo Hendriksen o presente texto é uma citação de Isaías 52.5. Naquela ocasião os povos gentílicos que triunfavam sobre Israel tratavam o Deus de Israel como um deus inferior aos de seus países. Apesar de haver diferença quanto ao propósito, o objetivo era o mesmo, Israel deixou de atender os requisitos de Deus, por a blasfêmia dos povos ímpios. Vejamos algo mais aqui:

Uma blasfêmia decorrente da culpa dos judeus – Eles não estavam a altura de uma mensagem tão santa. As Escrituras eram ridicularizadas, pois, parecia inalcançável para qualquer um. Sem homens santos para mostrar a santidade o texto sagrado parecia um vislumbre insano. Eles se achegavam a eles esperando luz e encontravam as mesmas trevas que eles mesmos possuíam.

Uma blasfêmia decorrente da maldade nacional – Acabando-se o testemunho de vidas santas, acaba-se o valor da mensagem. A transitoriedade da mensagem não residia na fraqueza da mensagem, mas na fraqueza do povo em cumpri-la cabalmente. Por serem maus a obediência era falha e motivo de chacota e escárnio por todos aqueles que a ouviam.

Muitos não crentes não desejam entrar por aquelas portas. Eles estão decepcionados com os crentes. Eles pecham o Senhor de um mero censurador e não como a “fonte de águas vivas”. Eles não conseguem ver nada positivo em nosso testemunho e isso nos faz induzi-los a blasfemar o nosso reto caminho. Eis a razão pela qual vemos muitas pessoas buscando na igreja somente curas e prosperidade e não um Deus que os possa os livrar dos pecados. Com o nosso testemunho acabamos dizendo que o pecado não é tão grave assim e que, portanto, não deve ser levado a sério. Só que quando falamos de valores os não-crentes nos interrogam: “Como você pode exigir isso de mim se você não faz nada disso?”

Olhemos bem para a nossa vida e vejamos se não somos a causa de tantos e tantos estarem afastados de Cristo. Deus, por Sua graça, aproximará todos os escolhidos, quanto a isso não resta dúvida, porém, quantos virão por nossa pregação? Será que estou na condição dos judeus mencionados por Paulo em nosso texto? Orgulhoso, cheio de conhecimento do evangelho, mas também cheio de pecado?

Coloquemo-nos debaixo do escrutínio do Senhor e que pelo Seu poder e misericórdia e recebamos o convencimento do Santo Espírito nos mostrando aquilo que temos sido falhos. Que Deus nos livre do Seu nome ser blasfemado por vidas orgulhosas e pecaminosas. Que as nossas vidas revelem o poder da Palavra agindo em nós, para que todos “vejam as nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus” (Mt. 5.16).