O
carnaval é reconhecidamente uma das marcas da cultura brasileira. Essa festa
arrecada dividendos gerados pelo turismo, bancados por inúmeros estrangeiros
vindos ao país, em sua grande maioria, atrás do turismo sexual fácil e livre,
bastante comum nesse período.
A
festa em si não é originariamente brasileira, mas sim grega. Estudiosos
estabelecem o período de 600 a 520 a.C., como provável data para a criação da
festa, que no início tinha a ver com as comemorações da colheita e eram
celebradas festas sexuais em louvor aos deuses da fertilidade. No catolicismo a
festa tem suas origens relacionadas à criação da Semana Santa, no século XI.
Era um período dedicado a aquilo que geralmente era impedido de se praticar
durante a Quaresma, que duravam três dias e além de haver o consumo de comidas
geralmente era marcado por liberalismo excessivo, algo até hoje observado nos
atuais “carnavais” ao redor do mundo.
No
Brasil as maiores concentrações carnavalescas acontecem em cidades importantes
como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador. No Rio de Janeiro teve
início aos blocos com carros alegóricos e em Recife, no ano de 1995, o Guinness
Book, reconheceu o Galo da Madrugada como o maior bloco carnavalesco do mundo.
Esses
números e informações podem impressionar a principio, um grande número de
pessoas, principalmente nossas autoridades que preferem dar atenção a grandes
ajuntamentos como esses, em razão do colégio eleitoral que podem angariar, mas
certamente precisamos entender o fenômeno e buscar uma saída para que nossa
nação reflita sobre a importância do carnaval para nossa cultura, bem como, em
se tratando da igreja cristã, se as práticas comuns ao carnaval podem, de
alguma forma, serem preservadas em nossa sociedade. Lembremos que segundo as
estatísticas, espera-se que o Brasil em 2040 conte em sua população de algo em
torno de 50% de evangélicos em sua população. Logo é necessário refletir sobre
essa festa tão popular e sendo nós uma igreja derivada da grande Reforma do
século XVI que onde se estabeleceu discutiu-se a viabilidade de certas festas
nesses países, assim também precisamos realizar em nossa nação. Esse texto
procura então, visualizar as principais implicações referentes a esta festa
popular, vejamos se é viável tal conduta e se as implicações, de uma forma ou
de outra nos condiciona a reformar o carnaval e torna-lo útil para os
propósitos redentivos do nosso Senhor Jesus Cristo.
O arcabouço
religioso
Nem
todas as manifestações católicas romanas são ruins em si mesmo ou totalmente
desprezíveis segundo a ótica protestante. Festas como o natal e dias santos em
outras ocasiões foram utilizadas até mesmo por ícones reformados como Lutero e
Calvino em outras circunstâncias, logo a Reforma buscou conduzir a piedade e a
cosmovisão, não de uma perspectiva anticatólica, mas segundo as Escrituras,
buscando sempre que possível, coadunar tais festas de maneira a utiliza-las
como manifestações culturais perfeitamente legítimas, quando não ofendem a
honra de Cristo e Seu Evangelho.
Porém,
o carnaval é repleto de símbolos e condutas que estão longe de se identificarem
com uma cosmovisão protestante. O conceito protestante de sagrado e profano e
bem distinto do catolicismo. No catolicismo esse conceito estabelece uma clara
divisão de prioridades, sendo possível ser um bom católico e ainda assim ter um
estilo de vida não condizente com a fé cristã. No protestantismo essa concepção
impraticável, principalmente quando aplicado o princípio reformado do soli Deo Gloria, segundo esse princípio
tudo o que fazemos o fazemos para a glória de Deus e nada que não o glorifique
deve ser praticado ou amado pelos piedosos.
É
verdade que alguns protestantes seguem o calendário litúrgico, como os
luteranos, episcopais e alguns presbiterianos, porém não se trata de um consenso
entre os reformados. Sendo assim a própria significação da festa cairia em
certo descrédito em muitos círculos evangélicos, principalmente quando se discutido
a necessidade da preservação de um período como a quaresma. Não havendo
quaresma para a maioria dos protestantes, torna-se obsoleto todo e qualquer incentivo
ao carnaval da forma como conhecemos.
As implicações
sociais
Dentre
as piores mazelas realçadas pelo carnaval, sem dúvida estão aspectos
relacionados à moralidade, a violência, tanto no que concerne a aquela que é
praticada nos locais das festas, como aquela que é decorrente do consumo
exagerado de bebida alcoólica e que tem repercussões catastróficas no trânsito
nacional, gerando uma verdadeira barbárie de proporções nacionais. Segundo
dados da polícia federal rodoviária,[1]
mesmo havendo uma redução no número de acidentes e de mortos em torno de 2,6%
em relação ao ano de 2012, ainda assim os números de 2013 comprovam essa barbárie;
foram 1997 acidentes, 1098 feridos e 97 mortos. Esses dados se referem apenas
aos números em estradas federais, sem contar as estaduais e as vias locais nas
cidades.
O
carnaval em sua essência etimológica, como propõe seu significado “festa da
carne”, também destrói inúmeras vidas que terão a certeza que meros momentos de
prazer, terão repercussões gravíssimas naqueles que nunca conhecerão seus pais
e serão filhos de mães solteiras, a enormidade de crimes sexuais relacionados à
festa como os estupros, assédios sexuais, prostituição infantil e atentado
violento ao pudor. Essas transgressões demonstram a total ineficiência de
nossas autoridades em gerir a lei e a ordem durante o período carnavalesco. Se
nossas instituições já são parcamente preparadas para enfrentar situações de
crise em outras ocasiões, imagine ter que fomentar a ordem em uma festa
gigantesca como o carnaval.
A cultura
apelativa nesse período
Muitos
justificam a necessidade do carnaval alegando que muitas cidades tem
conquistado uma certa condição financeira com a festa onde lucram setores como
a hotelaria, os blocos e agremiações, o comércio e outros. Porém, conforme
observado acima, no que concerne as questões referente ao impacto social, tais
dividendos deveriam, em uma cultura mais ética, nos envergonhar, mesmo que
sustente certos ramos econômicos. Como justificar uma família dilacerada em
troca de divertimentos alheios? Como permitir que tantos morram, enquanto
outros se esbaldam em porfias sem fim? Ora, uma conduta que justifique
investimentos nessas áreas deveriam envergonhar cada um de nós, seja as instituições
governamentais ou privadas que mantém esses investimentos. O mesmo governo que
viabiliza a festa em muitas ocasiões é o mesmo que viabiliza políticas públicas
que combatem os efeitos dessa festa. Logo, observamos uma prática hipócrita sem
precedentes que são uma mancha para a nossa nação.
A Reforma de
uma festa como essa
É
verdade que a fé protestante ao longo dos anos em culturas distintas tem se
preocupado em viabilizar a glória de Cristo, permitindo manifestações
culturais, desde que estas não afetem a glória de Cristo nem Seu santo
Evangelho, porém, penso que o carnaval não pode ser reformado neste particular.
A festa em si traz grandes malefícios a nação e a indivíduos, sendo necessário
que aja uma postura veementemente dedicada a solucionar tais problemas, de
maneira que cada setor da igreja esteja engajado. Dito isso não penso que os
retiros espirituais são boas alternativas para essas questões. Isso apenas
demonstra uma atitude maniqueísta a ser evitada pela igreja, uma vez que se
ausenta da cidade em um período crucial para a vida de muitas pessoas. Quando
digo isso penso em nossa contribuição com pregações durante o ano todo que
abordem a necessidade de uma vida reta e absorção de uma cultura moralizante
por nossa sociedade.
Inúmeros
métodos podem ser utilizados como campanhas junto aos órgãos governamentais que
ajudam na promoção de um trânsito mais seguro ou contra a prostituição infantil
e todas as outras questões que envolvem os dias de festas. O retiro é algo
danoso e prejudicial, pois priva os foliões da pregação da Palavra, do
escrutínio de suas consciências, segundo às Escrituras. Aproveitar um feriado,
enquanto muitos estão morrendo é uma grande transgressão, certamente observada
pelo justo juízo de Deus, pelo que devemos afirmar que Ele mesmo nos punirá com
a perpetuação dessa prática.
Finalizando,
penso que devemos considerar mais seriamente o citado evento. A igreja de
Cristo deve buscar a proclamação do Evangelho em um período grandemente
delicado e isso deve ser abordado no sentido de minimizar os efeitos nos
desejos daqueles que deverão trabalhar nesse período. Que Deus nos ajude a
buscar com que tal festa receba nossa atenção, mesmo que não possamos reforma-la,
da mesma forma que outras festas podem ser, porém, ignorá-la é uma grande falha
que a igreja de Cristo deve buscar responder a altura. As implicações de ações
assim, sem dúvida são difíceis de mensurar, mas sem dúvida estarão de acordo
com nosso mandato cultural, conforme ensinado nas páginas sagradas. Que Deus
nos faça apiedar do carnaval e que não possamos nos esconder das nossas
responsabilidades cristãs.
[1]
Relatório da Polícia Rodoviária Federal http://pt.slideshare.net/jespindola1970/relatiro-parcial-da-operao-carnaval-2013-polcia-rodoviria-federal