“Nos
deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui”.
Os versos acima fazem parte da música Índios da banda de pop rock brasileiro
Legião Urbana. Surpreendentemente o verso mostra uma realidade bíblica acerca
da depravação do homem. Vivemos em um mundo que constantemente temos que viver
com dores e doenças que nos lembram diuturnamente as mazelas trazidas pelo
pecado original. Hoje, 07 de setembro de 2016, terá início as Paraolimpíadas do
Rio de Janeiro e gostaria de fazer algumas reflexões sobre o porquê de não nos empolgarmos
com a paraolimpíada como nos empolgamos com as olimpíadas.
Um
olhar indiferente sobre a dor alheia
Não temos por costume nos preocupar
com a dor alheia a não ser que essa dor seja escancarada diante de nós de forma
continuada. Vemos homens andrajosos nas ruas, viciados e deficientes e não
levamos em consideração a dor que esses indivíduos passam em serem tratados com
indiferença pela maioria das pessoas. Basta olhar as campanhas publicitárias
das maiores empresas do país e até podemos considerar certa diversidade ao
tentar mostrar pessoas de diferentes cores, mas quase nunca vemos pessoas com
deficiências físicas fazendo o papel protagonistas dessas campanhas. As
novelas, gênero artístico preferido de uma parcela significativa dos
brasileiros, também não contam com pessoas que são “especiais”. Geralmente
esses são pessoas que gozam de perfeita saúde, tem uma excelente aparência e
são “mais vendáveis”, do ponto de vista comercial do produto oferecido por
esses segmentos. Nada de pessoas em cadeiras de rodas, cegas ou amputadas nesse
segmento. Esses só aparecem na mídia para promover eventos como os jogos
paraolímpicos como o que ocorre esse ano em nosso país.
No segmento esportivo acontece o
mesmo. Confesso que quando penso em esportes de alto rendimento eu penso em
Usain Bolt quebrando todos os recordes imagináveis do atletismo, Michael Phelps
aumentando o número de suas medalhas e uma infinidade de pessoas com corpos
perfeitos, no melhor momento físico de suas vidas conquistando metas
impensáveis para pessoas comuns. Pensar em pessoas com níveis altos de
paralisia, cegos e cadeirantes buscando suas marcas não parece algo muito
empolgante a primeiro momento para a maioria das pessoas. O fato é que nós
estamos cotidianamente sendo lembrados de que o pecado nos afetou grandemente.
Eventos raros como esses nos fazem ter esse entendimento. As amputações desses
atletas, suas marcas em escala menor de alcance pessoal, suas deficiências nos
lembram dessa verdade bíblica e nos fazem considerar que também somos afetados
pelo mesmo mal, ainda que não seja algo perceptível externamente.
Os
deficientes nas Escrituras
Na Bíblia somos informados
primeiramente que alguns personagens secundários eram também deficientes. No
Antigo Testamento somos lembrados de Mefibosete, filho de Jonas, amigo de Davi,
que aos cinco anos de idade, ao saber da morte de Saul seu avô, a ama que
cuidava dele apressou-se em fugir com ele nos braços e o derrubou no chão e
Mefibosete ficou manco para o resto da vida (2 Samuel 4.4). Davi o tratou com
dignidade e o fez sentar-se em lugar de honra até a sua morte. No Novo
Testamento são inúmeros os exemplos. Talvez o mais famoso seja o caso de Bartimeu
que era cego e foi curado pelo Senhor Jesus (Mc 10.46-52). Exemplos como esses
nos relatam que nos tempos bíblicos a deficiência também era vista em sua
complexidade e retratada de forma real e atenciosa. Jesus em Seu ministério
terreno deu ênfase especial sobre os deficientes, pois lemos a Seu respeito:
“... e vieram a ele muitas multidões trazendo
consigo coxos, aleijados, cegos, mudos e outros muitos e os largaram junto aos
pés de Jesus; e ele os curou”. (Mateus 15.30)
Havia uma preocupação natural do
Senhor em assistir pessoas afetadas pela queda. Endemoniados e pessoas com todo
tipo de adversidades causadas explicitamente pela queda eram curadas por Jesus em
Seu ministério terreno. Isso mostra como, para o Senhor, restaurar o homem, em
sua integralidade, era uma de Suas maiores preocupações.
O
olhar da igreja para as deficiências humanas
Talvez estejamos mais afetados pela
queda do que percebemos. Talvez não tenhamos problemas físicos aparentes e isso
nos faz olhar para esses problemas como se eles não fossem tão graves assim,
pois são problemas de outras pessoas e não os nossos. A igreja de Cristo não
deveria ser indiferente quanto a tudo isso, pois deveríamos estar
familiarizados com todas as dificuldades que a queda nos legou. Ao nos
depararmos com pessoas deficientes deveríamos nos perguntar “por que razão não
temos um ministério que tente incluir essas pessoas de maneira redentiva em
nossas comunidades?”. Sei que existem igrejas que buscam introduzir em seus
cultos a linguagem de libras para tornar a mensagem acessível aos surdos e
mudos, que existem igrejas exclusivas para esse tipo de público, mas todos os
nossos esforços ainda são pequenos em nosso alcance, pois o “mundo doente” em
que vivemos tem variedades de inaptidões de todos os tipos. Talvez, ao
considerar o que podemos fazer, pouco pode ser feito quando comparamos nossas
condições com a obra completa de Cristo para com os deficientes, pois somente
Ele tem condições de restaurar a saúde física e espiritual de todos os homens,
inclusive de nós mesmos, mas as igrejas cristãs devem se preocupar em também
alcançar essa classe de pessoas de maneira que elas se sintam incluídas em
nossas comunidades.
Sugestões
para a igreja incluir os deficientes
Devemos nos preocupar no alcance dos
deficientes. Segue abaixo algumas sugestões para fazer isso:
- Desenvolvermos ministérios que
contemplem incluir os deficientes de maneira ampla na igreja;
- Trabalhar um conceito de tolerância
na igreja, através de exposições que mostrem o efeito da queda no
estabelecimento de deficiências que podem ser melhor compreendidas de uma
perspectiva redentiva;
- Dar acessibilidade em nossos
templos, construindo rampas, banheiros adaptados e outras ações para incluir os
deficientes;
- Trabalhar em setores que estão em
idade menor para que não discriminem os deficientes, mostrando o que causou a
deficiência naquelas pessoas, fazendo o possível para não constranger a pessoa
que serve de exemplo naquela ocasião para os pequenos.
- O desenvolvimento expansivo da
doutrina bíblica da queda para que ninguém subestime o alcance destruidor do
pecado e as diferentes mazelas que ele nos trouxe.
Olhando
adiante
Busquemos falar desse assunto sem com
isso pensarmos que estamos nos encaminhando para bandeiras ligadas a uma agenda
esquerdista. Até parece que apenas esses setores se preocupam com os excluídos
sociais e que setores conservadores são geralmente agentes opressores de nossa
sociedade. Devemos ter em vista que trabalharmos com setores que auxiliam os
deficientes não nos fazem esquerdistas, mas preocupados em glorificar a Deus,
assim como o Senhor Jesus Cristo se importou. Fazermos a missão da igreja
também nos faz levar em consideração viabilizarmos uma conduta de acolhimento de
pessoas com deficiências físicas. Que possamos ver em nosso país o crescimento
de igrejas que possam desempenhar, de forma satisfatória, tão urgente tarefa.