Tenho sempre muito cuidado com frases feitas. Principalmente em se tratando de frases que surgem no meio evangélico e sem nos darmos conta essa mesma fala já está sendo proclamada como verdade absoluta. Uma famosa em nosso meio é “Deus ama o pecador e aborrece o pecado”. Ora, sempre fico me perguntando quem é o autor de frases como essa. Acho que pode ser um pregador que do alto de uma exposição lança uma frase de efeito, consequentemente, tal frase começa a ser repetida e logo já se torna uma espécie de lenda urbana dos púlpitos.
Quanto a esta frase, gostaria de lembrar que algumas questões são importantes ao analisá-la. Em primeiro lugar, Deus de fato ama o pecador, mas este pecador deve ser um eleito e não qualquer tipo de pecador. Uma vez que, sem entrar em muitos detalhes aqui, Deus tem como objetivo, quanto à salvação dos homens, dispensar sua graça apenas em seus filhos amados e não para todos os homens. Logo, seu amor é eletivo. Esta primeira parte revela apenas uma primeira verdade, Deus de fato ama pecadores, mas estes são os eleitos. A razão pela qual Ele ama não é nada que estes fazem, mas o que foi feito por Seu Filho escolhido. É por Ele que Ele nos ama e não por algo existente previamente no homem caído, visto que o Senhor, em Seu decreto eterno, predestinou apenas àqueles que seriam alvo do sacrifício bendito do Senhor Jesus Cristo. Em segundo lugar Deus de fato abomina o pecado. Ás vezes quando se cita esta frase parece dar a impressão que Deus vai tolerar nossas faltas indistintamente apenas porque Ele nos ama. Só que o Senhor, a despeito de odiar o pecado, lançará no inferno o pecador com pecado e tudo mais, não apenas a transgressão. Resumindo, o pecado é algo vinculado ao homem e quando Deus pune, Ele não pune a mera transgressão, mas agentes individuais, autores com direitos autorais desse próprio pecado.
Outra frase que considero “lenda urbana dos púlpitos” que observo é a seguinte: “Pecar é errar o alvo”. Muitas questões podem ser alocadas aqui e por querer ser mais claro gostaria de enumerar as mesmas. 1) A vida cristã não é um tiro ao alvo. Ou seja, não estamos brincando com a sorte ou com a competência quando vivemos a nossa fé. Estamos tratando com a nossa fidelidade ao Evangelho, com uma vida de serviço e obediência a Deus. Logo, não estamos atirando ao esmo, mas sim buscando cumprir algo estabelecido por Deus, e auxiliados por Seu Santo Espírito estamos nos purificando de muitas mazelas do velho homem. 2) O pecado como acidente. Alguns que defendem a frase acima, também costumam dizer que “o crente peca por acidente”. Não concordo com isso, pela seguinte razão. Não é uma doutrina bíblica. Em Tiago 1.14-15, o autor sagrado diz como acontece o pecado em nós. O homem é primeiramente tentado pela sua própria cobiça, dando a entender o estado natural inclinado ao pecado desse mesmo homem, aquilo que chamamos pecado natural, segundo, como uma força de atração física a cobiça atrai o desejo, a coisa proibida e depois seduz o pecador. Depois disso, a própria cobiça, dá luz ao pecado e o pecado concebido gera a morte. Veja que existe um processo para o pecado e não um mero acidente. Outro exemplo a este respeito são as palavras do Senhor a Caim em Gênesis 4.7 “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis o que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo”. É evidente que não podemos dizer “Oops, pequei!”. Isso é mesmo uma desculpa maliciosa, que às vezes pode até mesmo ser usada com o fim de encobrir nossa responsabilidade diante daqueles que queremos nos justificar, mas a Palavra de Deus ensina que erramos conscientemente todos os dias e que esse erro é voluntário, faz parte de um processo maquiavélico, de uma mente corruptível que se inclina para o mal.
Algo que pode justificar a frase, dando um crédito a ela é a seguinte compreensão: Esse pecado como errar o alvo seria não conseguirmos atingir o alvo que é o comprimento do evangelho, de modo que se o crente peca, está falhando em acertar aquilo que deveria ser seu principal empreendimento, sem tiro a esmo, nem tão pouco desculpas esfarrapadas. Termino dizendo que devemos ter cuidado com certas frases de efeito, ditas no púlpito ou em qualquer lugar. Sempre devemos ter um filtro para tudo e até mesmo para certos vícios virais que surgem a todo o momento em nosso meio. Aprendamos a ser o mais criteriosos possíveis em nossa maneira de falar e fazendo isso o façamos o mais claro quando pudermos.
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