Um
debate infindável trava-se entre as principais correntes da igreja brasileira,
o cessacionismo ou o continuísmo. Estas duas posições refletem o caráter
problemático da união da igreja brasileira naquilo que deveria aproximar em
seus dogmas e pressupostos.
Pertencendo
a uma igreja histórica, a Igreja Presbiteriana do Brasil, defendo sua posição
confessional, exarada na Confissão de Westminster que proclama “...tendo cessado aqueles antigos modos de
revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. Logo, é comum atribuir a Confissão
de Fé de Westminster um caráter eminentemente cessacionista. David Dickson, teólogo
escocês (1583-1663), vivendo nos dias da confecção da Confissão explica isso da
seguinte forma:
Questão
3. Aqueles modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo cessaram? Sim. Deste
modo, então, não estariam os Entusiastas e os Quakers errados, ao afirmarem que
o Senhor não cessou de revelar a Sua vontade, como ele o fez na antiguidade?
Sim. Por quais razões eles devem ser rejeitados? Porque Deus, que muitas vezes
e de muitas maneiras, falou em tempos passados aos pais, por meio dos profetas,
nestes últimos tem nos falado por meio de Seu Filho (Hb.1.1-2). O apóstolo
chamou o tempo do Novo Testamento de últimos dias, por que sob o mesmo período
nenhuma alteração deveria ser esperada, senão que todas as coisas estavam completas
e deveriam permanecer sem adição ou mudança, como ensinadas e ordenadas por
Cristo, até o último dia.
A
posição histórica daqueles que se dizem confessionais é o cessacionismo e isso
não implica em desmerecer o poder de Deus ou ser levado por uma incredulidade
insuperável, por parte dos defensores dessa corrente, mas que o argumento
cessacionista parte de uma defesa escriturística e séria. Os desmandos do
pentecostalismo são a prova mais que cabal da ineficiência do continuísmo. O
pentecostalismo não tem limites, ou seja, doutrina alguma pode ser considerada
verdade absoluta, uma vez que novas interpretações e novas revelações podem ser
comunicadas. Não existe uma área limítrofe que possa nortear os pressupostos
pentecostais, uma vez que as Escrituras não lhe servem de cerca, ficando a
critério de denominações ou interpretes pentecostais definir o que é e o que
não é “de Deus”.
Críticas
pertinentes tem vinculado o pentecostalismo ao catolicismo romano em sua defesa
das tradições eclesiásticas. Assim como naquele ramo do cristianismo, o
pentecostalismo precisa de aprovação de suas revelações. Estas nunca são
submetidas ao escrutínio da Palavra de Deus, mas pauta-se, meramente na
experiência mística, vivenciada por aquele que reivindica a autoridade.
O
cessacionismo por outro lado não teme ser chamado incrédulo, visto que tal
acusação parte daqueles que são seus opositores. Como chamar alguém de incrédulo
se esse alguém não pede outra coisa para confirmar a sua fé que a Palavra de
Deus. É incrédulo aquele que prefere viver por padrões definidos e ratificados
apenas pelo Espírito de Cristo? Será que não corre o risco do movimento
pentecostal estar se afastando da Santa Escritura por dar lugar em seus cultos
a homens que sugerem grandes revelações, que afirmam ter visto Deus e que não
estão interessados em expor a Bíblia Sagrada?
O
continuísmo acompanha todas as seitas que tem sugerido acréscimos as Escrituras
Sagradas. Os mórmons reivindicam um acréscimo a Bíblia, bem como os adventistas
nas profecias de Helen White e outras tantas teses que esgotadas de todo e
qualquer empreendimento para ratificar os seus dogmas de acordo com o texto
sacro recorrem a fontes criadas por supostos “profetas” que buscam autoridade
em algum tipo de acréscimo.
Confirmo
minha opinião de que o continuísmo defendido pelos pentecostais não pode
adequar-se com o lema reformado “Sola Scriptura”. As novas revelações do
Espírito que alguns bradam portar não passam de delírios de uma mente
perturbada, que busca por meio de transes místicos algo que iniciantes não
podem portar, a não ser por ritos para os “experimentados”, algo que seitas
gnósticas do primeiro século defendiam. Não é isso que defendem os pentecostais
quando acusam aqueles que não falam em línguas como crentes de segunda classe?
Ir
além da revelação divina é perigoso e um poço sem volta. Aqueles que contam
essas experiências não guardam as mesmas para si próprios, mas trazem as
experiências como fator normativo para as igrejas que lhes escutam, fazendo-os
cegamente confiarem naquilo que falou o “profeta” e não naquilo que fala a
Palavra de Deus. Igrejas que vivem estas experiências se cansam com a exposição
da Palavra e aqueles que tentam expô-la, ao critério deles, não passam eruditos
frios e sem vida, blindando o entendimento destes para aprenderem aos pés de
Cristo e de Sua Palavra, fazendo este movimento algo grandemente nocivo para a
igreja em todos os lugares.
O
cessacionismo não é incredulidade é fidelidade à forma que Deus estabeleceu
para a Sua igreja em todos os tempos. Seguir a Palavra de Deus é uma exigência
do Senhor e não algo restrito a cismas entre denominações. A igreja que
pretenda ser cristã não pode ter outro Profeta, Pastor ou Mestre a não ser o
Senhor da Igreja o nosso Senhor Jesus Cristo, falando na Palavra de Deus por
meio do Seu Santo Espirito, amém. Sola
Scriptura!