Estamos
no mês de outubro, mês que, mormente comemoramos o aniversário da grande
Reforma do século XVI. Esse acontecimento que sem dúvida alguma é um marco para
a igreja de Cristo, uma vez que nos libertou de inúmeras superstições,
adquiridas aos montões durante séculos de obscurantismo, nos chamando ao
caminho das Escrituras. Essa data deve realmente ser comemorada como um grande
dia. Todas as honrarias ao Deus da história são insuficientes para mensurar tão
grandes benefícios.
A
Reforma teve seu florescimento na Europa depois que o monge Agostiniano
Martinho Lutero contesta as práticas da igreja medieval sobre as indulgências.
As intenções com as 95 teses não eram outras a não ser convocar a todos para as
reflexões apontadas nestas teses, aliás, a prática em questão era muito comum e
teria passado despercebida se não fosse a soberania de Deus conduzindo o movimento.
A
Reforma não se restringiu apenas aos países europeus que alcançou, mas também
teve seus reflexos em países que foram posteriormente colonizados pelos anglo-saxões,
como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul. No Brasil tivemos
algumas ocasiões onde as influências reformadas foram de alguma forma
marcantes. Já no Brasil colonial os Franceses huguenotes tentaram estabelecer o
calvinismo em uma empreitada que foi frustrada internamente entre os anos de
1555 e 1560. Naquela ocasião os pastores enviados por Calvino não conseguiram
estabelecer a fé reformada em razão da dura oposição sofrida por membros da
missão que ainda eram católicos romanos.
Outra
tentativa foi o período holandês no Nordeste brasileiro. Esse período marcante
em nossa história ocorreu entre os anos de 1630 e 1637. Apesar de se tratar de
uma questão comercial, onde a prioridade era a conquista da região que produzia
a cana de açúcar, também se tratou de um empreendimento religioso e esse foi à
tentativa de se estabelecer a fé reformada na então colônia. Naquele período
igrejas reformadas foram plantadas em todo nordeste e até mesmo os índios
aderiram à fé e foram tratados com muito respeito, superior aos dos portugueses
católicos.
Por
fim, existe o período que vem até os nossos dias, onde podemos destacar o
período conhecido como o das igrejas de missões. Destas igrejas que
inicialmente evangelizaram brasileiros podemos destacar inicialmente os
Luteranos (1817), Congregacionais (1855), Presbiterianos (1859) e Batistas
(1871).
Desde
então a população brasileira, conta em sua totalidade, com uma expressiva
parcela de seus habitantes que professam ser de origem protestante. A grande
maioria deles atualmente é de linha pentecostal, sendo a Assembleia de Deus a
maior denominação desse segmento. Segundo estatísticas recentes, estima-se que
em 2040 os protestantes serão a religião dominante no país, uma situação
raríssima em qualquer lugar do planeta (veja reportagem aqui do site Exame.com).
Nesta atual conjuntura, o que se espera da fé Reformada em nossa nação para os
próximos anos, qual é o quadro atual? O que pode ser feito? Essas são as
questões que procuraremos tratar neste post, sem tencionar ser exaustivo, mas
buscando melhorar o debate.
A FÉ REFORMADA PARA OS PRÓXIMOS ANOS
No
artigo “Os calvinistas estão chegando” (veja aqui o post) publicado no blog O
TEMPORA, O MORES, o reverendo Augustus Nicodemus ressalta o crescimento da fé
reformada em todo o mundo e cita aquilo que já podemos perceber em nosso país,
onde crescem grandemente o número de eventos que contam com palestrantes
reformados e outros que são exclusivamente dessa linha, como a Conferência Fiel
para Pastores e Líderes, que ano passado juntou aproximadamente 4.000 pessoas
interessadas na fé calvinista, além de outros tantos que acessaram o link da
Conferência pela internet.
Espera-se,
com a adesão de jovens evangélicos, que até mesmo estão em igrejas de linha
pentecostal, que estes sejam introduzidos ao conhecimento reformado. Isso se
deve a imensa propaganda disseminada na internet através de blogs e vídeos do
Youtube, onde pastores como John Piper, Paul Whaser e outros são imensamente
visualizados por uma crescente gama de pessoas que buscam saber um pouco mais
sobre esses pastores e suas convicções. Nas igrejas que foram plantadas sob a
perspectiva reformada também vemos avanços bem significativos, como o
crescimento dos batistas reformados e dos presbiterianos que constantemente são
despertados para suas antigas doutrinas. No nordeste brasileiro atualmente
vemos o crescimento de grandes eventos relacionados à fé reformada, como por
exemplo, o Congresso de Consciência Cristã realizado nos feriados de carnaval
em Campina Grande-PB e o Congresso dos Puritanos realizado em Alagoas. Recife,
no Estado de Pernambuco, parece também entrar nesse cenário, recentemente o
Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) vem realizando eventos que contam com um
grande número de pessoas, ao exemplo, o Congresso de Aconselhamento Bíblico
ocorrido no mês passado na capital pernambucana.
Todos
esses eventos provam a vitalidade da fé reformada em denominações protestantes
e em diferentes regiões de nosso país. As perspectivas são animadoras e
certamente a influência reformada nos setores evangélicos do nosso país podem
até mesmo se estender com o entendimento de que é possível influenciar
biblicamente todo esse cenário, com a firmeza doutrinária adquirida durante
tantos anos de Reforma Protestante.
A
POSTURA NECESSÁRIA
Entendo
que ainda estamos muito insipientes em toda a obra reformada em nosso país. Já contamos
com inúmeras instituições de peso como editoras, seminários, conferências e
outros tantos avanços que fazem da fé reformada um seleiro constante de
estudiosos que crescem em conhecimento e ajudam a manter um nível elevado de
debate, porém resta-nos estabelecermos nossas instituições teológicas. São
extremamente necessárias medidas que concretizem os cursos de pós-graduação
para os bacharéis em teologia, que não se concentram apenas nas regiões mais
abastadas de nosso país, para isso é necessário que nossos teólogos busquem
desenvolver essas regiões, fortalecendo os seminários e proporcionando uma
administração menos burocratizada e com maior sensibilidade às necessidades
regionais.
Compete
às nossas denominações uma postura mais firme sobre a profissão dessa mesma fé,
uma vez que muitos insistem em buscar a aceitação de setores que não andam
nessa perspectiva e muitas vezes tomam decisões políticas, tratando de questões
de grande urgência como a doutrina do culto com evasivas e artimanhas retóricas
que nem sempre buscam a fidelidade doutrinária. É dever de nossas igrejas
extirpar essa “politicagem” e fazer prosperar uma postura mais comprometida com
a fidelidade das Escrituras, pois, assim sendo, teremos como falar de uma
verdadeira Reforma, pois essa não acontece apenas com Conferências, Editoras e
Instituições, mas com homens piedosos que sejam havidos na educação, mas também
em piedade. Sendo instrumentos em suas denominações e que isso seja refletido
nas decisões conciliares, sem dúvida isso traria inúmeros benefícios para as
mesmas, bem como para o povo que saberá que linha seguem suas denominações, ao
invés de acolherem setores pragmáticos e heterodoxos que danificam o Corpo de
Cristo.
Devemos
favorecer o acesso de livros a população leiga. Precisamos estudar uma maneira
de baratear os custos dos livros reformados em nosso país. É necessário que as
editoras estejam dispostas a investirem em escritórios regionais ou mesmo lojas
em cada região do país, pois os preços cobrados pelo frete pela estatal de
Correios encarecem os livros em mais de 20% e isso é muito desestimulante.
É
preciso também romper com as “panelas de influência”, pois muitos pensam que
ser teólogo reformado é ter aceitação de pessoas de grande influência nesse
setor. Isso não nos ajuda no debate teológico, mas centraliza o mesmo em
pequenos grupos e isso não faz desenvolver as diferentes perspectivas
reformadas. É necessário que nossas denominações favoreçam o acesso a cursos de
pós-graduação, permitindo algo mais descentralizado e que invistam recursos nesses
cursos. Muitos pastores de pouca condição financeira desejam participar desses
empreendimentos, mas muitas vezes são impedidos de chegarem ao propósito
acadêmico pelas condições financeiras limitadas do ministério.
CONCLUSÃO
Termino
dizendo que o quadro é animador, porém desafiador. Temo que em nosso país
apenas uma pequena elite tenha acesso à fé reformada, enquanto que uma grande
massa de pessoas, espalhadas nas pequenas cidades e longe dos grandes centros,
ainda tenham que conviver com a ignorância de alguns pastores e líderes quanto
aos princípios que incendiaram o mundo há quase cinco séculos atrás. Podemos
estar perdendo a oportunidade de ampliarmos nossas cercas. Temos recursos e
material humano, mas precisamos focar no que queremos, ou seja, influenciar o
maior número possível de pessoas e fazer com que nossa fé, realmente seja algo
acessível e menos elitizada. Conclamo as grandes denominações protestantes a
fazerem seu papel, bem como as editoras e instituições de ensino a também se
engajarem. Temos muito ainda para fazer em nossas igrejas locais, mas é
necessário um maior empenho de todas as partes, pois precisamos continuar a
obra que nossos pais reformados iniciaram. Que Deus abençoe a Reforma em nosso
país e que ela verdadeiramente ocorra em toda a sua excelência o quanto antes.
Soli Deo Gloria!
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