Considero
esse salmo o mais belo da Bíblia. Ele é uma fonte de conforto para a igreja de
Cristo. Mostra-nos quanto o Deus que servimos se posiciona favoravelmente em
nosso favor. Lutero compôs seu mais famoso hino, Castelo Forte (nº155 HNC),
tendo esse salmo como inspiração. De fato, ele, costumava dizer em meio as
perseguições “Venham, vamos cantar o Salmo 46”.
Esse
salmo é da composição dos filhos de Corá, grupo de homens inspirados que
compuseram belíssimos hinos de louvor a Deus. Alguns estudiosos como Calvino
veem a ocasião desse salmo quando da vitória do povo de Deus sobre Senaqueribe
(2 Rs 19.35-37), outros são de opinião (Rosenmüller) que se trata da vitória de
Josafá sobre Moabe e Amom em 2 Cr 20.26-30). Mas isso não importa tanto, pois o
que nos interessa é o ensino espiritual que dele recebemos.
Nessa
noite convido-os a pensarem comigo sobre como Deus é vitorioso sobre seus
inimigos e como nós que somos crentes, somos instigados a confiar apenas nele
sob qualquer adversidade. Para tanto sugiro a reflexão baseada no seguinte
título: “O alvoroço das turbas e a
tranquilidade de Deus”. Justifico o título, baseado no que o salmo nos
apresenta, conforme é o procedimento dos pagãos e gentios, frente à igreja e
contra o propósito de Deus. Eles são impelidos ao ódio, mas Deus transforma
esse ódio em exaltação ao Seu nome. Vejamos como Deus age frente aos opositores
e nos conforta em meio à luta:
Deus
fortalece aqueles que nEle confiam (vv.1-4)
O Deus que
servimos (v.1)
– Já na introdução o salmista nos revela o caráter grandemente misericordioso
de Deus. Ele usa diferentes palavras para exprimir que Deus, para os crentes é
fortaleza e refúgio. Isso nos lembra das cidades de refúgio do A.T. (Nm 35),
estabelecidas para aqueles que eram perseguidos injustamente. Ele é nosso
socorro. Quando todos nos espreitam a fim de nos alcançar, nosso Deus nos
socorre. E por último, Ele é presente na tribulação. As pessoas geralmente
fogem de nós nesses momentos, mas não o nosso Deus, pois é justamente nessa
hora que Ele se agrada em nos socorrer.
Um temor
injustificável, pois temos um grande Deus (v.2) – Os crentes
verdadeiros não ficam espavorecidos. Eles confiam no seu Deus. Aqui o salmista
fala como aquele que já experimentou tal graça. É a partir desse conhecimento
prévio que vemos que Deus tem um amor eletivo por Sua igreja, a ponto de
protegê-la mesmo que o mundo inteiro se levante.
Os poderes
contrários (v.3)
– Esse verso precisa ser visto juntamente com a última metade do anterior.
Alguns veem nesses versos 2 e 3 a fúria dos inimigos da igreja. É usada essa
metáfora para demonstrar que mesmo que terra e mar sejam alcançados por essa
cólera, Deus, no entanto, está inabalável, assim como aqueles que são amados por
Ele.
Um rio que
alegra a cidade de Deus (v.4) – Calvino vê nesse texto um paralelo
com Isaías 8.6, onde Jerusalém tinha um pequeno ribeiro chamado Siloé (Shiloah),
que na ocasião era desprezado pelo povo de Israel. Esse rio, em seu leito calmo
e brando, demonstra a maneira como Deus não se comove com o ruído das turbas,
mas que age apenas em Seu tempo devido.
Deus
milita por Seu povo desde a antemanhã, triunfando sobre os inimigos (vv.5-9).
Deus está em
Sua cidade (v.5)
– É claro que esse texto quer dar a entender que Deus não fugiu covardemente da
defesa do Seu povo. Aqui vemos que Ele permanece em meio à luta. A luta de Seu
povo é a Sua luta. A guerra que travamos tem plena assistência divina e nunca
sucumbirá, pois o próprio Deus está envolvido na peleja. A linguagem
“antemanhã” é uma linguagem militar para dar uma noção dos turnos dos guardas
durante a madrugada. Deus estaria então, firmemente preparado para os ataques
feitos no romper da alva.
As oposições
destroçadas por Deus (v.6) – Dois fatos importantes são mencionados aqui;
primeiro somos informados que os inimigos da igreja parecem abalar nações e
reinos. Eles são poderosos e conseguem grandes conquistas, mas que, em segundo
lugar, eles não podem prevalecer diante daquele que faz ouvir a Sua voz e a
terra se dissolve. Deus mesmo destruirá forças opositoras.
A condição de
Deus em relação ao povo (v.7) – Duas atribuições divinas são
mencionadas aqui. a) O Senhor dos Exércitos – Essa expressão dá conta da
natureza conquistadora do nosso Deus, Ele é um Deus da paz, mas quando Seu nome
e sua glória estão envolvidos, Ele é o Senhor dos exércitos. b) Deus de Jacó
– Aqui Ele se identifica pactualmente com Seu povo, ao se lembrar do pacto
Abraâmico, Deus se identifica com Sua prole eleita, povo que lhe pertence. Ele,
Deus está no meio desse povo.
As assolações
de Deus (v.8)
– O salmista nos remete ao tempo futuro, depois do triunfo de Deus, Ele já não
é mais o Deus afrontado, mas o Deus vitorioso, que assola seus inimigos em toda
a terra.
O resultado da
vitória divina (v.9)
– Ainda contemplando esse estado futuro, vemos o resultado da ira divina, vemos
o fim da guerra, arcos e lanças quebrados e carros no fogo. Acabou o folguedo
dos opositores. O alarido de guerra deu lugar ao silêncio decrépito e mortal
dos arraiais inimigos. Assim Deus efetua sua vitória.
Deus
aquieta o coração da Igreja apesar da oposição contrária (vv.10-11). Finalmente
concluímos esse texto com as seguintes considerações:
Devemos ficar
quietos, pois Deus ainda é Deus (v.10) – Quando estamos nas maiores lutas de
nossas vidas talvez pensemos em nos desesperar. É comum nossa agitação. Mas
esse salmo nos compele a aquietar. Não em resposta ao medo, mas em confiança ao
Deus que servimos. Ele lutará a peleja, Ele porá fim à guerra.
Deus está no
nosso meio (v.11)
– Novamente somos lembrados de que Deus é um Deus de guerra, bem como um Deus
que se lembra do compromisso pactual com Seu povo, mas com um acréscimo, Ele
está conosco e é o nosso refúgio.
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