A Jornada Mundial da
Juventude, evento que é uma espécie de encontro mundial de jovens católicos
idealizada pelo papa João Paulo II no ano de 1984 é um evento que busca
mobilizar católicos do mundo inteiro em um encontro que tem como foco especial
alcançar primeiramente os jovens e fomentar o interesse espiritual dos mesmos
nos temas que a igreja católica julga importante. O evento acontece em uma
cidade escolhida especificamente para esse fim no período de dois ou três anos
de uma jornada para outra. Não estranhamente, devido aos grandes eventos que
serão realizados no país e a consequente exposição a presente jornada aporta em
terras brasileiras, levantando uma série de questionamentos sobre a condição do
catolicismo em nossa nação.
É fato comprovado
que o declínio católico romano desperta muito grandemente, uma espécie de
preocupação, uma vez que a maior nação católica do mundo (aproximadamente 123
milhões) está cada dia mais se tornando evangélica e muito se discute se
incluir o Brasil em uma espécie de prioridade para Sé romana não tem como
objetivo frear o crescimento evangélico no país. Entendo que cabem algumas
considerações aqui sobre a questão, são elas:
O declínio católico
Pesquisas recentes
demonstram que a população católica romana no Brasil está envelhecendo. Dentre
os mais religiosos desse segmento a grande maioria está acima dos 30 anos e os
jovens não demonstram atenção considerável a fé de seus pais ou avós. Esse
declínio chama atenção para o segmento protestante ou evangélico, que na
contramão do catolicismo, tem números expressivos nessa faixa etária, dando a
entender que os jovens não buscam na religião uma ligação familiar, mas por
iniciativa própria, buscam seu próprio caminho espiritual, muitas vezes
encontrado nas diversas denominações evangélicas.
Especialistas
projetam para os próximos 20 anos uma profunda aproximação dos evangélicos em
relação aos católicos, uma vez que o crescimento deste setor cresce em taxas
superiores aos índices populacionais do nosso país. Em pouco menos de 40 anos a
população evangélica passou de 5,2% para 22,2%.
Alguns estudiosos
tentam explicar esse declínio apontando para uma igreja mais clerical e formal
que fez com que muitos abandonassem suas fileiras e buscassem uma religião
menos formal e mais próxima, encontrando nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais
essas características. Em minha opinião essa argumentação não é totalmente
sustentável. Não penso que esse seja o fator predominante. Desde o início da
Reforma o catolicismo conseguiu se mantiver em alguns países europeus graças
aos jesuítas, naquilo que foi conhecido como “contra reforma”, bem como por
meio de tribunais denominados de “santa inquisição”, onde o movimento reformado
foi aniquilado graças ao uso da força e da perseguição que culminou na morte de
muitos protestantes em países católicos. Logo, entendo que o catolicismo, com
sua doutrina, que favorece um cristianismo mais místico é mais efetivo em
nações com menores condições de desenvolverem um amplo debate sistemático sobre
a religião. O Brasil por muitos anos esteve nesta condição, sendo em seu maior
período de história, defendido a exclusividade do catolicismo como religião
oficial e conforme, gradativamente, obteve derrotas políticas importantes, desde
a proclamação da República, tal condição tornou-se desfavorável.
A questão proselitista
O catolicismo nos
países que foram influenciados pela Reforma nunca conseguiu se reestruturar,
mesmo que recentemente com o movimento ecumênico encabeçado pelos católicos
tenham tentado reverter essa condição. Não existem êxodos em massa de países
que se transformaram protestantes para a condição católica romana. A não ser em
condições especiais como o crescimento da comunidade hispânica nos EUA, sendo
que esse crescimento não atingiu os americanos nativos. O contrário, porém é
constatado historicamente. Todos os países que hoje são protestantes já foram
outrora católicos. E em nenhum deles
houve algum tipo de movimento que fosse bem sucedido em arrancar os evangélicos
da sua fé e trouxessem de volta ao catolicismo. Fica então, muito difícil
pensar que movimentos como a jornada mundial da juventude possa contribuir com
uma “recatolização” do Brasil.
A conduta do papa em ralação às seitas
neo-pentecostais
O papa tem
surpreendido muitos pregando uma igreja mais pobre e perto do povo, buscando
obscurecer um passado católico sempre ligado à ostentação e a ideia da cidade
de Deus entre os homens, ideal defendido por Santo Agostinho em uma de suas
mais famosas obras. Porém, é inegável que mesmo que essa postura difira diametralmente
da pregação da prosperidade, defendida por pastores mediáticos, isso não será,
por assim dizer, um fator que faça o papa mais popular do que os pastores em
questão. Os fatores econômicos que o Brasil presencia podem do ponto de vista
cosmológico, favorecer mais os pastores do que a pregação de pobreza do papa. A
condição social da nova classe média brasileira o faz desejar bens de consumo
que ainda não possuem como casas e carros. Para o papa é fácil falar de pobreza
e ainda sentar em tronos de ouro, mas experimenta dizer a um operário que viaja
longos períodos de tempo, de sua casa para o trabalho em coletivo lotado, que
ele não deve desejar um carro. Os pregadores da prosperidade afinaram seu
discurso às pretensões dessa nova classe média é por isso que eles chamam mais
atenção do que o papa.
Conclusão
Entendo finalmente
que o fenômeno religioso brasileiro é irreversível. É possível que o
catolicismo consiga sobreviver nos próximos anos, mas entendo que essa sobrevivência
será mais uma subsistência do quê uma condição favorável. O cristianismo
evangélico é mais adaptável do que o catolicismo. As diversas posturas
centralizadas do catolicismo historicamente não conseguiram prevalecer quando
foram desafiadas, coisa essa que é completamente distinta entre os evangélicos,
por contarem com instituições mais próximas do povo, com estruturas mais leigas
na manutenção instituição, faz do evangelicalismo um segmento mais resistente
do que o catolicismo. Termino dizendo que o citado evento (JMJ) contribuirá
apenas para demonstrar a condição espiritual que esse país se encaminha, não
reverterá o quadro, mas realçará aquilo que inevitavelmente acontecerá em nossa
terra, uma nação mais evangélica e bem menos católica.
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