Atos 2.42-47
Não resta
dúvida que existe algo muito errado com a igreja. Digo mesmo assim que ainda
continuamos sendo o povo de Cristo, que ainda somos a “menina dos olhos do
Senhor”, que de fato muitas promessas grandiosas são destinadas a nós, mas algo
parece não se encaixar e ao invés de termos o modelo desse texto em nossas
igrejas, temos algo bastante distinto disso e fatalmente nos tornamos, quando
comparados com esse texto, uma anomalia bastante incômoda para tão altos
padrões.
Alguns
dizem que devemos voltar à simplicidade e que nosso objetivo é retornarmos a
esse padrão, visto que mesmo que este tenha sido uma realidade há muito tempo,
eles foram deixados nessas linhas para que toda a igreja se baseasse por esse
modelo. Concordo em quase tudo com essa condição, mas discordo que para que
sejamos uma igreja melhor precisamos ser simples. Nesse texto estão axiomas,
padrões eternos que em todas as épocas devemos buscar. Quando olhamos no
passado vemos que isso quase nunca foi uma realidade e isso nos faz pensar que
talvez nós nunca consigamos chegar nesse objetivo.
Creio
que os padrões bíblicos para igreja não nos devem fazer esmorecer, pensando que
estão muito distantes e que como ninguém nunca alcançará, nós não devemos ter
essa obrigação. No entanto, os padrões bíblicos nos desafiam a buscar aquilo
que achamos ser o melhor e sem dúvida é para nós ideal divino, por isso não
devemos desprezá-los ou simplesmente darmos de ombros, pois são inatingíveis.
Convido
então, você a pensar comigo como podemos agradar a Deus com nossas
vidas nesse povo que é a Igreja. Analisemos que esta instituição muito antiga
ainda precisa hoje de cuidados e preservação. Esse cuidado e a preservação vêm
primeiramente de Deus, único e grande interessado em sua grei e depois por nós,
que desejamos o seu bem, uma vez que fazemos parte dela. Sugiro para nossa
meditação o seguinte título: “O modelo
bíblico da igreja e sua necessidade atual”.
Não
precisamos de uma igreja que não seja bíblica, mesmo que ela alcance inúmeros
benefícios como aprovação dos homens e prosperidade financeira, precisamos da
igreja segundo os padrões deixados por Deus e são esses que chamo atenção essa
noite. De acordo com o texto a igreja é:
I- Uma
comunidade bíblica, comunal e carismática (vv.42-43).
Bíblica – Não é
possível pensar na igreja sem outra fonte primária, a Bíblia. No texto em
questão, ainda não havia o fechamento do cânon e a igreja contava com o ensino
dos apóstolos, o mesmo que hoje estão escritos para nós em nosso livro sagrado.
Nenhuma igreja poderá agradar a Deus se não buscar a centralidade nas
Escrituras, sua fé deverá ser bíblica, caso contrário não poderá ser chamada de
igreja de Cristo. A “perseverança” dá conta de uma luta em manter a doutrina,
mesmo que essa não seja desejada mais. Muita coisa pode ser repensada na
igreja, mas não o ensino, esse não perde sua validade.
Comunal – A comunhão
deve ser uma marca da igreja. Qual outra instituição consegue fazer o que a
igreja faz a esse respeito? Apenas a igreja consegue unir diversas pessoas num
interesse comum, em um objetivo, a glória de Cristo. Isso transparece
imensamente quando estamos diante da mesa da comunhão, mesa que nos une
perfeitamente como corpo de Cristo.
Oração e
carisma
– Essas duas facetas da igreja se complementam. Não se consegue coisa alguma
sem a oração. Para que a igreja seja conhecida por grandes feitos é necessária
à dependência da igreja na oração. A igreja primitiva era uma igreja
“carismática”, com dons porque orava muito e todos temiam a Deus reverentemente.
É preciso deixar claro que o texto é taxativo quanto à operação dos milagres,
ao dizer que estes eram realizados “pelos apóstolos”, enfatiza o grande período
que vivia a igreja e que esta condição não se repete hoje em dia, senão que
seus princípios ainda devem nos direcionar.
II- Uma
comunidade preocupada com a condição social (vv.44-45).
Unidos por
causa da fé (v.44)
– Eles não estavam juntos porque tinham a pobreza em comum. Eles se faziam
juntos porque foram chamados na mesma vocação.
O desprendimento
em favor do próximo (v.45) – Aqui não diz que eles se desfaziam de suas
riquezas porque buscavam o favor de Deus. Eles assim o faziam porque viam que
precisavam amar seus irmãos e entesourar para o Reino de Deus. Aqui não está a
prática do comunismo cristão. O comunismo tenta usar esses princípios mais caem
em uma situação que apenas os poderosos podem dizer como o povo deve andar.
Esses cristãos não pensavam assim, mas em favorecer seu irmão, pois não
precisavam mais do dinheiro e da riqueza para estar bem ou ter algum tipo de
garantia.
III- Uma
comunidade adoradora que crescia com a simpatia dos de fora (vv. 46-47).
Adoração
(v.46)
– A adoração passou a ser o centro da vida comunitária, mais do que os eventos
promovidos pela religião instituída. O cristianismo tem sua teocentricidade em
sua vida comunitária no momento de adoração. A igreja é igreja quando adora,
quando se reúne com fins de adoração e não quando se torna partido político ou
ONG.
De casa em
casa
– Na igreja de Cristo não pode haver lugar para individualismo ou para grupos
comuns. A verdadeira igreja de Cristo preocupa-se com como está o irmão. Se ele
não tem o pão eu levo, onde existe a carência, se ele não tem emprego, eu posso
ajudar e todos se ajudam mutualmente. O verdadeiro crente não vai à casa do
irmão apenas quando tem culto doméstico, mas todas as vezes que ele precisa.
Louvando a
Deus e tendo simpatia (v.47) – Eles não eram simpáticos ao
descrente porque era parecido com eles. Eles eram simpáticos porque faziam da
vida um culto. Se hoje não contamos com a simpatia dos descrentes isso se deve
a muitos fatores, mas não sendo iguais a eles que resolveremos essa questão.
O acréscimo do
Senhor
– Veja que Ele não acrescentava porque havia muitos eventos missionários, mas
porque eles, a igreja, eram estes crentes atuantes e vigorosos em sua fé. Deus
abençoa aqueles que lhe buscam e fazem de si algo pertencente a Ele. O
acréscimo depende do Senhor e não do pastor, de sermos ricos ou de eventos.
Cada crente verdadeiramente fiel é responsável por ser fiel e o crescimento
decorre da graça divina que acrescenta conforme Seu propósito usando vidas
santificadas.
Termino
explicando porque esse modelo de igreja é imbatível e grandemente necessário
para nós hoje em dia. Existem muitos métodos e isso não faz falta a ninguém.
Quantos querem ver a igreja crescida, mas quantos estão disponíveis a verem
suas vidas transformadas por Cristo.
Esses
crentes tinham vidas santificadas, buscavam viver a fé de uma maneira atuante e
vibrante, não existia hipocrisia entre eles, eles estavam acima da
religiosidade judaica, por isso eram abençoados por Deus.
Hoje
precisamos reconhecer que estamos longe desses princípios, deveríamos chorar
quando não vemos nossos frutos, deveríamos nos envergonhar de que em dias como
esses estejamos tão distantes desse estilo de vida.
Nenhuma
igreja será de fato reconhecida como tal senão estiver buscando viver como
esses crentes viviam. Que nós nessa noite tenhamos a consciência de que
precisamos galgar um longo caminho, mas esse é recompensador e verdadeiramente
glorificará o Senhor mais do que inúmeras conferências missionárias, dinheiro,
eventos e seja lá o que nossa mente pragmática propor.
Deus
nos livre de estarmos abaixo desses padrões e nos julgue segundo eles, para a
glória do Seu nome, amém.
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