GÁLATAS
5.16-26
Nessa parte final da carta de Paulo à região da Galácia, temos talvez o grande
embate existente na vida do crente, o fato dele ser santo e ainda conviver com
o pecado. Algumas pessoas acharão esse discurso contraditório, pois ou
enfatizam em demasia as fraquezas ou enfatizam as virtudes. O crente não é
alguém livre de embates ou lutas, mas alguém que dia a dia deve se renovar em
Cristo em uma luta constante e aberta contra o pecado.
Na
parte anterior do argumento paulino (5.1-9), ele se empenhou em demonstrar como
estar em Cristo era diferente de estar na Lei. Isso aconteceu em razão de terem
se infiltrado nessa igreja certos homens que pregavam à sujeição dos novos
convertidos as práticas judaicas. Esses homens eram chamados de judaizantes.
Conversos ao cristianismo, mas que negavam à liberdade do Evangelho. Foi com
esses homens que Paulo lutou durante boa parte de sua vida.
A
circuncisão proposta pelos judaizantes era sintomaticamente contrária à
liberdade em Cristo. Paulo defende fortemente aqui a fé em Deus como única justificação
do pecador (5.6), logo era necessário apenas crer em Deus para que fossemos
justificados e não a prática de ritos externos, obsoletos pela plenitude do
Evangelho.
Nos
versos 13-15, vemos uma exortação apostólica no intuito de impedir que a igreja
seja um lugar de discórdia e desavenças. Ele ratifica o conceito de que o amor
é o vínculo da perfeição e que devemos nos amar uns aos outros como nos amamos.
O
texto em questão é o remédio para não termos tais tensões na igreja de Cristo.
A confrontação do dualismo existente entre a carne e o espírito é aqui exposta
claramente. Um estilo de vida carnal favorece as tensões na igreja, enquanto
que tendo frutos espirituais, solucionaremos os problemas de uns para com os
outros e o nome do Senhor será glorificado.
Para
que compreendamos melhor esse assunto sugiro um tema para a nossa meditação: “O triunfo do Espírito sobre a carne, nosso
maior objetivo”.
É
certo que ainda hoje necessitamos desses conselhos. Faremos bem a igreja e a
nós mesmos se pudermos por em prática o remédio proposto por Paulo aqui, por
essa razão, convido os irmãos a considerarem o seguinte caminho para
triunfarmos contra a carne em uma luta constante e espiritual:
O triunfo
sobre a carne envolve a mitigação do alimento carnal (vv.16-18). Uma prática
comum nas batalhas dos exércitos antigos era impedir a chegada de suprimentos
para abastecer as tropas adversárias. Paulo parece aqui nos indicar o mesmo
caminho, vejamos sua orientação:
Jamais
satisfazer a carne (v.16) – A recomendação apostólica para impedir o
progresso da carne é mitigar o desenvolvimento desta, impedindo sua
alimentação. A palavra “jamais”, nos faz compreender a seriedade disso tudo.
Estamos em
guerra (v.17)
– A imagem de um cristianismo pacífico certamente não é bíblica. Internamente
no crente existe uma guerra. A carne (velho homem) e o Espírito (novo homem)
são opostos ou rivais. Nenhum acordo de paz será feito enquanto um não
prevalecer contra o outro.
Uma
consoladora garantia (v.18) – A lei é antagônica desse embate, pois, decreta
os transgressores injustos perante Deus. Sob o Evangelho somos perdoados, mesmo
sendo imperfeitos, lutando contra o pecado. O Espírito é aquele que nos
aperfeiçoa e nos conduz a uma situação espiritual aceitável perante Deus. Temos
o Espirito como aliado, aleluia.
O triunfo
sobre a carne envolve o conhecimento de suas obras (vv.19-21). Pensando ainda
na analogia da guerra que falamos outrora, precisamos conhecer plenamente nosso
inimigo se quisermos triunfar sobre ele. A questão é que esse inimigo é interno
e nos conhece muito bem. Vejamos aqui a direção que nos fornece o apóstolo:
Obras da carne
(v.19)
– Paulo passa a enumerar 15 elementos ligados a carne que estaremos analisando
um a um, conforme surgem no texto bíblico. Para fins didáticos os comentaristas
como Ellicot, Hendriksen, listam os pecados da seguinte forma: 1) Pecados
ligados à sensualidade; 2) Pecados ligados à superstição; 3) Pecados ligados ao
temperamento; 4) Pecados ligados aos excessos.
1)
Pecados
ligados à sensualidade – Prostituição (πορνεία), impureza (ἀκαθαρσία) e lascívia (ἀσέλγεια). Lembremo-nos
que tais termos estavam sendo aplicados a aqueles que são crentes, logo tais
pecados não estão longe de nosso meio.
2)
Pecados
ligados à superstição – No verso 20 vemos dois pecados ligados ao falso
culto, são eles: Idolatria (εἰδωλολατρία) e feitiçarias (φαρμακεία).
Mesmo crentes, os gálatas ainda mantinham
práticas reprovadas quanto ao culto.
3)
Pecados
ligados ao temperamento – Ainda no verso
20, parte b, temos os pecados ligados ao temperamento, são eles: Inimizades (ἔχθραι); Porfias ou
contendas (ἔρις);
Ciúmes (ζῆλος);
Iras ou raiva (θυμοί);
Discórdias (ἐριθεῖαι);
Dissensões (διχοστασίαι);
Facções ou heresias (αἱρέσεις).
Paulo parece considerar mais espaço a esses pecados do que os outros, isso
porque tem a ver com nossa ligação com Cristo na igreja com nossos irmãos.
4) Pecados ligados aos excessos – No início
do verso 21 temos o último pecado ligado ao temperamento que é a inveja (φθόνοι); A partir daqui
temos aqueles que podemos cometer ao fazer uso exagerado de coisas lícitas, são
eles: Bebedices (μέθαι);
Glutonarias (κῶμοι); Coisas semelhantes a estas, algo como vício
em esporte lazer ou qualquer outro tipo. Paulo termina a lista com uma severa
advertência, tais práticas e praticantes “não herdarão o Reino de Deus”.
O triunfo
sobre a carne envolve a posse do fruto do Espírito (vv.22-23). Agora temos a
responsabilidade de observar aquilo que um crente que se inclina para o
Espírito participa. Vejamos a lista dos frutos do Espirito:
Amor –
Expressa um caráter divino;
Alegria – Algo
que não se pode fabricar humanamente;
Paz – Aquela
que só Deus pode nos dar;
Longanimidade
– O homem crente é alguém paciente;
Benignidade e
bondade – Alguém bondoso e altruísta;
Fidelidade –
Alguém digno de confiança;
Mansidão –
Alguém de espírito manso e pacificador;
Domínio
próprio – Um homem controlado e não influenciado pelas paixões.
Tais
virtudes estão acima da Lei, pois são as virtudes excelentes que indicam uma
genuína conversão.
O triunfo
sobre a carne envolve a crucificação das paixões (vv.24-26). Finalizando, o
efeito de termos uma vida vivida sob as influências dos frutos do Espírito nos
levarão consequentemente ao triunfo sob aso paixões, que Paulo chama aqui de
crucificação, vejamos isso mais de perto:
Os que são de
Cristo (v.24)
– Paulo parece aqui nos ensinar a discernir se somos ou não de Cristo usando um
critério muito simples para isso, a autoanálise. Se somos de Cristo aprendemos
a crucificar nossas paixões, deixando as obras da carne e nos revestindo de
frutos dignos e espirituais.
Viver e andar
no Espírito (v.25)
– Paulo nos indica que uma vida espiritual é cercada por uma prática
espiritual, ou seja, precisamos nos acostumar em ver tais frutos fazendo efeito
em nossa natureza caída, subjugando a mesma e triunfando. Isso deve fazer parte
de nós, deve nos acompanhar em todos os momentos.
Importantes
conselhos finais (v.26) – Paulo parece terminar essa parte do argumento
lembrando aquilo que havia enfatizado anteriormente, que devemos nos amar, não
buscando nossa vanglória ou nos provocando na igreja, mas sendo aquilo que Deus
espera de cada cristão genuinamente convertido. Que esse conselho nos ajude a
caminha mutualmente.
É claro que o entendimento completo disso que foi dito aqui passa por uma
profunda reflexão daquilo que temos feito enquanto cristãos. Os crentes gálatas
tinham essa deficiência que a mesma de muitos hoje em dia. Não pensemos que
estamos livres de nos envolver com as obras da carne. Essas palavras foram
escritas para cristãos vivendo talvez na melhor época da igreja, porque hoje
seria diferente?
Tenhamos
cuidado em alimentar a carne. Ao fazermos isso estamos nutrindo nosso próprio
inimigo, estamos militando no exército adversário e o fim disso é a nossa
própria destruição.
Os
frutos espirituais que precisamos são necessários para a nossa própria confirmação
enquanto crentes, caso contrário, a inexistência deles nos mostrarão que não
somos aquilo que dizemos que somos.
Clamemos
ao Senhor nessa noite para que Ele nos faça combater tais instintos pecaminosos
e que possamos nos revestir de frutos dignos de arrependimento, que realmente
nos faça sermos o que pensamos que somos. Deus nos abençoe, amém.
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