João 10.34
Queridos
irmãos, uma atitude comum a todas as épocas e não somente aos dos dias atuais é
uma atitude de rebeldia do homem para com Deus. Algumas expectativas a esse
respeito são bem conhecidas como a do vocalista da banda Beatles, John Lennon,
que afirmou em 1966 que “o cristianismo estava em declínio e que os Beatles
eram mais populares que Jesus Cristo”[1].
É
interessante perceber que essa proposta é bem antiga e foi originalmente
proferida por satanás em Gênesis 3.5 “Porque
Deus sabe que no dia que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus,
sereis conhecedores do bem e do mal”. Esse flerte de rivalidade com Deus
está no âmago do homem caído. Toda vez que ele peca um pouco desse sentimento
prevalece, pois está intrínseco na personalidade adâmica do homem. Quando vemos
o homem repetindo as palavras de satanás a Eva em Gênesis 3.4 parte b “...é certo que não morrereis”, estamos
ouvindo o eco dessa ideia que infesta as pretensões humanas e que faz atingir
até mesmo a religião.
Historicamente
um movimento intelectual que descaradamente defendeu a primazia do homem sobre
as forças sobrenaturais e sobre Deus é conhecido como humanismo. A Wikipedia
define o humanismo da seguinte forma:
“O humanismo é
uma filosofia moral que coloca o homem como objeto principal, numa escala de
importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas
que atribuem a maior importância à dignidade, aspirações e capacidade humanas,
particularmente a racionalidade”[2].
Esse
movimento tem sido de diferentes formas, observado não somente no homem
descrente, mas até mesmo no homem tido como religioso, que a despeito de ter um
Deus, não consegue entender a primazia do Senhor sob sua vida e destino. É
comum vermos pessoas tidas como religiosas desafiando Deus. Num exercício
blasfemo e perigoso que sem dúvida alguma terá consequências gravíssimas.
A
pergunta que eu faço, baseado no texto que lemos é como podemos saber se
estamos ou não cheios de nós mesmos. Os fariseus na época de Jesus estavam
buscando motivos para acusa-lo de blasfêmia, pois queriam saber se de fato
Jesus se fazia o Messias, se este era o Seu ensino.
Esse
texto de fato, nos presta uma grande informação sobre como o Senhor compreende
Seu ministério. Nesse diálogo Ele diz acerca de Si mesmo:
1. Ele assume que
é o Messias, só que os fariseus não podiam crer nisso (v.25);
2. A razão deles
não crerem é porque eles não eram das ovelhas de Cristo (vv.26-27);
3. Jesus é um com
Deus (v.30);
4. A Escritura
não falha, o Messias foi prenunciado no Antigo Testamento (v.35);
5. O Messias foi
santificado por Deus Pai e enviando ao mundo (v.36);
6. As obras de
Cristo são as obras do Pai (vv.37-38).
Dito
isso gostaria de refletir no seguinte título: “O homem é Deus?” Esse título em forma de questionamento tem como
objetivo entender porque o homem tão arrogantemente deseja ser como Deus. Para
isso, convido os irmãos a refletirem nas seguintes verdades provenientes do
texto:
Jesus
argumenta baseado no Salmo 82.6.
Depois
de fazer uma declaração que enfureceu os fariseus “Eu e o Pai somos um”, nosso Senhor indica que essa não é a primeira
vez que um título tão exaltado como Deus é atribuído a alguém nas Escrituras.
Para isso ele cita o Salmo 82.6, que diz: “Eu
disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo”. Observemos a
explicação do mesmo:
O Salmo 82 – Esse salmo
foi escrito por Asafe que no corpo do Salmo enfatiza que Deus julgaria os
juízes de Israel que estavam julgando injustamente a Lei de Deus (vv.2-4). Deus
estava mostrando, através do Salmo, que Ele é o único Juiz de toda a terra (v.8).
Os fariseus, certamente, conheciam esse texto, porque razão nunca observaram ou
questionaram esse ensino?
Outros
exemplos de algo similar – Moisés havia recebido uma designação semelhante
perante o Faraó (Êx. 4.16 e 7.1); Os juízes tinha status de reverência, similar
ao tributado a Deus (Êx.22.28) e eles quando julgavam faziam isso como se fosse
o próprio Deus (Dt. 1.17). Logo, o ensino de Cristo estava pautado nas
Escrituras que os fariseus diziam conhecer.
Jesus
argumenta de forma retórica e desafiadora.
No
argumento de Cristo, além de existir a ratificação de que Ele não estava
ensinando nada novo, existe o fato dele usar uma retórica desafiadora para
derrotar os seus interpeladores. Vejamos como isso acontece:
Ele os
desafiou a olhar para si mesmos – Esse desafio nos faz buscar a razão
de nossa própria rebeldia perante Deus. Porque temos o costume de nos
autovalorizar, nos colocar na frente dos outros, buscarmos nossos próprios
interesses? Apesar de não professarmos abertamente em muitas ocasiões nos
colocamos em posição exaltada, isso demonstra que Jesus não falou algo
impensadamente.
Ele os
desafiou a depender mais de Deus – É somente quando temos nossa
altivez destruída, quando nos arrependemos dos pecados que cometemos que
podemos realmente entender que nunca estaremos no nível de Deus. O mundo pode
mentir para nós e tentar nos lisonjear, mas esse empreendimento em um crente
fiel será sempre frustrado, porque Ele aprendeu a depender exclusivamente de
Deus e ele não se vê em posição de igualdade com Deus.
Jesus
argumenta com o propósito de nos levar à humilhação. Jesus termina
nos mostrando que os fariseus não podiam ser seus discípulos enquanto
estivessem cheios de si mesmos. Isso nos incita a buscar em nós aquilo que tem
nos levado ao orgulho e aquilo que cativa nosso coração para nos afastar do
caminho do Senhor. Vejamos um pouco mais isso:
Cristo é o
Único Deus
– Não existem dois senhores, ou você pertence a Cristo ou não pertence a
ninguém. Não é possível termos um culto sincretista, dividido entre nós e Deus.
Se você tem posto sua confiança em você mesmo e não em Deus isso significa que
você é um crente sincrético, misturando o humano com o sagrado como diz Paulo
em Romanos 1.24-25:
“Por
isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu
próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a
verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador,
o qual é bendito eternamente, amém.”
Cristo é a
nossa vida
– Ao nos opormos ao pensamento dos fariseus de que Cristo era um blasfemo, nos
identificamos com o próprio Cristo com Seus milagres, com Sua obra e com Sua
justiça. Quanto mais temos a Cristo, mais temos a nossa condição restaurada,
mais nos afastamos da idolatria do culto a si mesmo desses dias.
Todos aqueles
que trocam Cristo por si mesmos são grandessíssimos idólatras. Com o pretexto
de se preocuparem consigo mesmos, acabam relegando a obra de Cristo, Seu culto
e a santidade. Precisamos terminantemente ser contra toda e qualquer conceito,
seja ele intelectual, seja ele de acomodação, que nos coloque no centro de
nossas prioridades.
Lamento
que hajam tantos crentes que não escapam dessas palavras pronunciadas por
Cristo a tanto tempo. Eles são egoístas, avarentos, amantes de si mesmos e
idólatras. Precisamos de cristãos que estejam deixando a si mesmos todos os
dias aos pés de Cristo, que não estejam interessados em buscarem seus próprios
interesses e sim o de Cristo.
Quando
isso ocorrer em nós, descobriremos como são doces as palavras que nos convocam
a ter vida, como nos beneficiaremos como Paulo que disse em Gálatas 2.20: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim”. Alguém assim renunciou o próprio eu, tem uma índole parecida com a de
Cristo que se identificava com Deus, sendo um com Ele. Deus nos faça assim para
Sua glória, que Ele nos abençoe ricamente, amém.
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