Provérbios
21.1
O mundo
inteiro pertence ao Senhor, nada acontece por acaso ou pelo destino. Confiamos
plenamente na soberania de Deus e segundo essa doutrina cremos que nada
ocorrerá sem a preordenação e permissão divina. Caminhando junto com essa
doutrina está àquela chamada de responsabilidade humana, essa nos informa que o
homem toma decisões responsáveis perante um Deus Santo. O homem não é uma
máquina, mas um ser autônomo e responsável. Essas duas doutrinas não se
conflitam, mas se complementam.
Hoje
fomos às urnas para eleger nossos representantes no contexto político da nossa
nação. Os que forem eleitos nesse processo serão responsáveis por uma parte
considerável de nossas vidas nos próximos quatro anos. Temos a responsabilidade
perante Deus por nossas escolhas, mas também cremos que Ele está conduzindo
nossa história. Mesmo os nossos erros estão sendo administrados por Deus e é
por essa razão que trabalhamos para que nossas decisões reflitam os valores do
Reino, quando isso acontece, somos abençoados, mas quando fazemos o contrário,
não nos resta nada a não ser pagarmos pelas decisões que tomamos
equivocadamente.
Dentro
desse conceito de eleições eu gostaria de refletir sobre quatro passagens bíblicas
que são geralmente evocadas nessa época. Gostaria de refletir quais são as
implicações dessas passagens, saber se realmente aplicamos elas corretamente
quando as usamos e vermos o que podemos deduzir de tais passagens. Para isso, a
fim de nos orientar, gostaria de sugerir um título: “Refletindo nas passagens preferidas no período de eleição”. Sei
que não serei exaustivo na exposição, mas buscarei instruir a igreja naquilo
que Deus deseja para nós, nesses momentos onde estamos fitos naquilo que esse
processo eleitoral nos reserva.
Considere
comigo as seguintes lições das seguintes passagens:
Salmo
33.12, a nação feliz governada pelo Senhor.
Essa
passagem bíblica é exaustivamente usada por políticos cristãos. Segundo a comum
interpretação, eles entendem que uma nação governada por Deus envolve
representantes que sejam fiéis, que tenham princípios cristãos a fim de tornar
uma nação realmente governada por Deus. Observemos o texto de perto e vejamos
as lições que podemos tirar dele:
Contexto – Esse salmo
de romagem demonstra um dos benefícios da comunidade do pacto na antiga
dispensação. O salmista está especificando os benefícios da nação de Israel em
comparação com as outras nações. As outras nações rivais a Israel confiam em
reis, exércitos, homens valentes (v.16), mas Israel confia em Deus.
Relevância
para nós
– Esse texto tem por base uma nação que pactualmente depende de Deus, logo, bem
sabemos que quase nenhuma nação atualmente goza desse privilégio. Mesmo Israel
atualmente não tem o direito de se por dessa forma, uma vez que esses negaram o
Messias. Este status que foi dado a Israel, nenhuma outra nação possui
atualmente.
Aplicação
espiritual
– É inegável que as nações que tem a graça de que homens de Deus governem estão
mais próximas de serem conduzidas por Deus para Seus propósitos santos, mas
isso não quer dizer que Deus não possa nos abençoar sob o governo de ímpios. A
Inglaterra do século XVI, sob o governo de Mary “a sanguinária” recebeu talvez
os homens mais santos da Europa ocidental e isso foi uma bênção para a igreja
daquele país.
Provérbios
21.1, o coração do rei nas mãos do Senhor.
Essa
passagem é bastante usada para demonstrar a regência de Deus sobre o coração do
rei. E isso quer dizer suas volições, vontades e inclinações. Vejamos a mesma
mais de perto:
Contexto – O livro de
provérbios é uma coletânea de pensamentos em linguagem de sabedoria. O mesmo é
atribuído ao rei Salomão, que pediu sabedoria a Deus e recebeu. O texto em
questão se enquadra nesse conceito, pois não tem nexo com o restante dos outros
versos a não ser o verso seguinte provavelmente.
Relevância
para nós
– Deus continua sendo o administrador do coração de qualquer líder que haja no
mundo. Esse não é um privilégio apenas de Salomão. Mesmos reis ímpios são
usados por Deus como Ciro, são usados por Deus para obedecerem ao Seu propósito
(Isaías 45.1). Esse conceito ajuda-nos a confiar no governo de Deus, mais
exaltado do que qualquer governo.
Aplicação
espiritual
– Nesse entendimento entendemos que toda história obedece à determinação do
Senhor, mesmo reis ou governantes que não conheçam ao Senhor podem ser usados
por Ele e isso Ele o faz. Eles seguem o curso que Deus determinou, mesmo sem
saber, mesmo sendo eles descrentes e ímpios. Somos confortados com o governo de
Deus sobre toda a terra.
Provérbios
29.2, o governo dos justos.
Outra
passagem preferida pelos políticos cristãos é essa que estamos analisando.
Segundo eles, apenas quando somos governados por justos teremos o lenitivo, em
contrapartida um governo ímpio é uma tragédia para o povo. Vejamos o que
podemos aprender aqui:
Contexto – Nem todas
as traduções traduzem בִּרְב֣וֹת - birḇōwṯ
por governo. Algumas usam a expressam como “multiplicar”, como no caso da
revista e atualizada. Na King James a tradução é “tem autoridade”, logo, nem
todas indicam governo, na forma como conhecemos. Segundo a tradução que usamos
pode ser entendida somente como quando crescem os fiéis há mais justiça sobre a
terra.
Relevância
para nós
– Deus não depende de governos para fazer a Sua vontade. Na época de Cristo
existia claramente um governo muito distante dos propósitos divinos, mas foi a
época conhecida como plenitude dos tempos. No período apostólico a igreja
conheceu talvez a pior perseguição que já houve, no entanto, foram dias de
crescimentos expressivos em número e em piedade. Nesse caso os justos se
“multiplicaram”, mesmo sem a interferência no Estado.
Aplicação
espiritual
– O texto nos conclama a buscarmos a expansão do Reino de Deus através de
nossas vidas santificadas, no testemunho, piedade, evangelismo, igrejas sadias.
Não nos diz que devemos ter um “projeto de poder”, ou seja, dominarmos todas as
esferas culturais e sociais. Isso pode acontecer um dia, mas enquanto isso não
acontece devemos continuar nossa marcha de levarmos pecadores aos pés de
Cristo.
Mateus
22.21, o que pertence a César e o que pertence a Deus. Finalizando
estaremos observando o último texto, esse por sua vez está no Novo Testamento e
foi dito pelo próprio Senhor Jesus Cristo.
Contexto – Jesus está
sendo questionado o pelos discípulos dos fariseus e pelos herodianos (v.16). O
primeiro grupo já estava a algum tempo buscando fazer o nosso Senhor cair em
alguma falha na Lei de Moisés. O segundo grupo tinha uma bajulação subserviente
à Roma, então todos estavam interessados em saber um pouco sobre a opinião do
Senhor sobre as questões relativas ao Estado. Seria Jesus contrário ao Estado?
Eram essas as questões envolvidas aqui.
Relevância
para nós
– A fé cristã não se opõe as organizações humanas como o Estado. Jesus deixou
claro que ambos podem coexistir, a fé e as responsabilidades cívicas. Não somos
como os anabatistas no passado, contrários e com pensamentos anarquistas quanto
a toda forma de governo. Servimos a Deus neste mundo como peregrinos, sabendo
que nossa pátria está no céu. “Tememos a Deus e honramos o rei” (1 Pedro 2.17).
Aplicação
espiritual
– Enquanto depender de nós trabalharemos exaustivamente para que todas as
esferas de nossa atuação nesse mundo caído reflitam os princípios do Reino de
Cristo. Ele reina, mesmo que esses princípios não estejam plenamente estabelecidos.
Nós somos instrumentos desse Reino, vivemos como se lá vivêssemos, com isso
cumprimos a determinação de Cristo exposta nesse texto.
Quando
descansamos nessa expectativa, ou seja, Deus governa o mundo, entendemos que
nada pode impedir o avanço fiel de sua Grei. Somos instrumentos de Deus nessa
terra, seja em nossas famílias, nossa sociedade e em nosso Estado. Os
governantes dessa nação estarão nas mãos de Deus, sejam eles crentes ou
descrentes. Nenhum deles tem autonomia de governarem sem Deus. É por isso que
oramos para que eles exerçam seus governos com a bênção de Deus. Que a igreja
não seja tocada por eles, pois assim sendo a ira de Deus vira sobre os mesmos.
Seja
quem for que seja eleito, hoje e no futuro, serão como todos os outros do
passado, apenas homens que Deus colocou ali. Não estão neles a nossa confiança
de coisa alguma. Nossa confiança está em Deus. É nEle que descansamos, e é
somente nEle que iremos viver. Que Deus conduza todas as coisas em nosso país.
Que os justos se “multipliquem”, que os crentes trabalhem para o bem de nossa
pátria e que Deus governe todas as nossas esperanças, amém.
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