O
chamado cristão para o ministério implica em uma série de exigências que
envolvem a atuação dos líderes em áreas das mais distintas. Tanto aqueles que
são ministros do Evangelho, quanto a qualquer outro cristão que se importe em
servir adequadamente ao seu Senhor, deverão pô-las em prática. É comum no
chamado cristão observamos o envolvimento desses irmãos em áreas das mais
diversas tais como ação social, magistério eclesiástico, política, entre
outras. Mas talvez nenhuma outra área da igreja seja mais urgente do que o
envolvimento na promoção do ministério da Palavra.
Este surge com a
própria essência da mensagem, ou seja, não é temporal, findando-se em alguma
época específica, mas atemporal, pois é a essência do ministério da igreja.
Para ser um pregador da Palavra não basta apenas portar um dom retórico ou ser
versado em algumas áreas do conhecimento, nem mesmo dominar algum poder
persuasivo sobre o público em questão, no caso específico aqui, a igreja do
Senhor. Deve o pregador ser imensamente capacitado de uma unção espiritual, que
não pode ser conseguida sem o consentimento divino. Tendo em vista o caráter
espiritual do ministério em questão, bem como do seu chamado.
Além do quê, aquele quê,
aquele pretende atender a e esse chamado perante os seus pares, não pode ser um
neófito, ou noviço, mas um cristão experiente, pois estará sob a incumbência de
ensinar a sacra doutrina a aqueles que são também seus irmãos na fé. Jamais um
pregador deve se colocar acima da congregação que pastoreia. Não deve ser comum
que aqueles que têm seu chamado posto a prova arroguem qualquer tipo de
pretensão. Sei que nesses dias é comum a busca de títulos para se alcançar
primazia frente ao povo de Deus. Isso ocorre em razão daqueles que fazem da
igreja comércio e lucram em torno da piedade, fazendo da igreja uma espécie de
balcão da fé, conseguindo com isso muitos seguidores. Mas este não deve ser o
procedimento daquele que se dedica fielmente a prediga. O pregador deve ser sempre
voluntarioso e disposto em buscar o serviço Deus como um conservo e não de um
líder que se põe acima daqueles que estão ao seu lado para a mesma tarefa que é
prosseguir durante a vida glorificando a Deus e encontrando-se na satisfação do
gozo espiritual que faz a igreja um local onde Cristo e buscado e apreendido de
modo a ser observado por todos, inclusive os que estão de fora da comunidade
cristã.
O pregador da Palavra
é, portanto um servo que busca a fidelidade no ministério. Não apenas no que se
refere ao texto bíblico, mas o é também na vivência da fé cristã. Sendo
experimentado suficientemente para expor os principais desafios da fé com
maturidade. Deve também fornecer não somente o ensino, mas também a prática
daquilo que está ensinando, sendo ele próprio àquele que viveu e teve experiência
suficiente para deduzir lógica e criticamente em algum aspecto espiritual. Este
pregador também é alguém intimamente ligado ao cotidiano da congregação que
pastoreia, ou seja, ele deve viver todas as demandas daqueles que o escutam
diariamente. Não pode se blindar como se nada acontecesse com ele, como se
vivesse longe dos desafios de sua própria comunidade. Deve este viver,
razoavelmente parecido com o padrão de vida do seu povo, não buscando no poder
econômico, que porventura consiga, muito provavelmente com a ajuda de outra
área em que atue, pois na grande maioria das vezes, o ministério não consegue
proporcionar tal coisa. Pois, se assim
for acabará se mostrando alheia a vida de seu povo, sendo mais um estrangeiro
em meio a aqueles que deveria admoestar como pai.
Quanto à ministração da
mensagem, esta deve ser clara e contundente. Não pode ser rebuscada com rodeios
ou com peripécias retóricas para se camuflar o real sentido da Palavra. Deve
também ser imensamente compreensível, evitando-se o uso de palavras que
dificultem a assimilação por parte do povo. Deve buscar a excelência do
significado, ainda que se deva ir geralmente a recursos mais rebuscados como o
uso de léxicos das línguas estrangeiras que compunham o texto sagrado, mas
nunca florear demasiadamente a ponto de tornar a prediga algo acessível apenas
a intelectuais do seu mesmo nível. A igreja é composta de pessoas de diversos
níveis intelectuais e o pregador deverá buscar o bom senso no que se refere ao
uso da linguagem que utiliza de acordo, sobretudo, das exigências do seu
público. Logo, ele é alguém que faz uso de um recurso imensamente erudito, mas
que também em sua exposição torna o pensamento espiritual como algo simples e
inteligível. Os requintes ou a exposição de assuntos mais elevados devem ser
guardados para os meios onde tais artifícios sejam compreendidos, mas isso não
significa que a prediga é simplória ou destituída de vitalidade intelectual. O
pregador deverá saber dosar essa intelectualidade, por causa do seu público
distinto, porém jamais deverá parecer desqualificado sob qualquer aspecto, pois
não transmitiria segurança a aqueles que dispõem de uma mentalidade mais
crítica.
Várias considerações veem
a mente do pregador quando este se põe a frente da igreja, mas a principal
delas é que ele é apenas um instrumento da vontade divina. Ele edificará os
santos e também convencerá os pecadores. Por meio dele alguns serão chamados para
fé e, grandes trevas serão dissipadas de mentes até então, entenebrecidas com
superstições e equívocos, além do que, uma nuvem de testemunhas deverão atestar
o seu ensino, esses são aqueles que fazem parte da igreja do Senhor, que nunca
podem ser vistos com passividade, mas como parte legítima e capaz de analisar o
ensino do seu pastor ou pregador.
Lamentavelmente nos
dias atuais temos visto as mais bizarras figuras que se propõe instruir o povo
de Deus. É certo que boa parte deles é exatamente aquilo que os seus ouvintes
gostariam que eles fossem. Estes se comportam como se fossem meros funcionários
do seu auditório e não profetas. Esta caricatura deformada da pregação é uma característica
que danifica a mensagem e atende gostos alheios ao recebimento do verdadeiro
ensino da Palavra de Deus. O pregador verdadeiro não aceitar comercializar sua
pregação, seu envolvimento com a pregação deve ser algo inteiramente fiel. Ele
deve estar tão envolvido com a mensagem que ele mesmo deva se confundir com ela,
em muitos momentos. Portanto, essas “caricaturas de pregadores” que vemos hoje
não são os genuínos ministros da Palavra de Deus, são, de fato uma grande
aberração que prestam um desserviço ao Evangelho, dignos representantes de uma
farsa que chamam erroneamente de evangelicalismo contemporâneo. Tais pessoas,
ao invés de promover a causa de Cristo, a deformam monstruosamente e os adeptos
de suas ideias são semelhante uma imagem monstruosa e repugnante do que deveria
ser um cristão genuíno.
Se desejarmos ser
aceitos neste ofício precisamos primeiramente do tratamento divino. Este
tratamento não pode ser entendido como uma colônia de férias, nem tão pouco tem
lugar para principiantes e aventureiros, este é um lugar para aqueles que foram
provados pelo fogo, para aqueles que subiram ao terceiro céu da sublimidade de
Cristo, para aqueles que são servos e não senhores. Ao meu modo de ver existem
dois tipos de pregadores, aqueles que são forjados por Deus e aqueles que são
forjados pela sua congregação, de modo a atender aos caprichos destes. Os
primeiros não temem sofrer as agruras do ministério, os últimos repudiam o
escárnio da função preferindo as honras dos homens no lugar da aprovação
divina.
Logo, como pregadores
somos profetas e como profetas não devemos nos mover por conveniências ou por sórdida
ganância. Pregamos o evangelho como disse Charles H. Spurgeon, “mais claro do
que nunca”, um evangelho que é escândalo para judeus e loucura para os gentios,
o evangelho do poder de Deus, que é mais sábio do que a sabedoria humana. Que
não depende dos artifícios intelectualizantes e retóricos, mas do Cristo
crucificado. Quem tem posto a mão no arado do ministério não olha para trás,
mas avança firmemente na direção de Cristo e seu total empenho, ainda que seja
extenuante e exaustivo não é nada daquilo que deveria ser, mas ainda falta
muito para alcançar o prêmio da soberana vocação. Que os pregadores dessa nova
geração saibam aquilo que foi tão comum em outras épocas, que o temor do Senhor
é o princípio da sabedoria e que o ministério sem fogo na exposição é
irrelevante e frívolo, desnecessário, portanto para a igreja de Deus.