sábado, 27 de agosto de 2011

Refletindo sobre o batismo infantil

Todos nós sabemos que existe uma tensão entre aqueles que defendem o batismo infantil e aqueles que defendem o batismo somente de adultos. O principal argumento dos últimos é que a fé deve ser demonstrada por aquele que é batizado, logo, por inferência estes argumentam que crianças não podem assentir salvificamente à fé. Acho que cabe uma consideração aqui sobre este ponto de vista e depois pretendo falar sobre a defesa do batismo infantil.

A primeira questão que chamo atenção é o argumento de que a criança não pode demonstrar fé, ou provar que se converteu. Acredito que esta consideração parte do princípio de uma premissa falsa a respeito dos infantes. Alguns pensam que as crianças não passam de meros “anjinhos” sem pecado e totalmente impolutas. Esta idéia não encontra respaldo na doutrina da depravação total da humanidade. Não demonstramos malignidade apenas quando somos senhores de nossas capacidades, apenas na fase adulta, mas antes disso. Quantos exemplos hoje em dia temos de barbaridades cometidas por infratores infantes, que assustam aqueles que, horrorizados acompanham os noticiários com exemplos de uma orquestração maquiavélica desenvolvida por crianças muito jovens ainda.

A Bíblia está repleta de referências que dão conta dessa malignidade anterior ao nascimento como no Salmo 51.5. Neste salmo Davi nos informa que herdou uma malignidade gerada ainda no ventre. Algo bastante diferente do argumento daqueles que pretendem inocentar as crianças. A linha de raciocínio que podemos inferir quanto a isso é que se alguém consegue manifestar uma malignidade inata, pode este também manifestar uma virtude antes mesmo de uma época considerada como “idade da razão”, uma vez que malignidade e virtude são antagônicas entre si. Claro que a disposição para a maldade nasce anteriormente ao nascimento, enquanto que a virtude deve ser aprendida com a observação e o exemplo. Logo, ao meu entendimento é possível que crianças manifestem virtudes do Espírito Santo em idades tenras, comprovando suas inclinações para a fé cristã e que não precisa de uma época específica para isso.

Agora gostaria de me deter quanto ao argumento dos que batizam crianças justificando os mesmos.

A Bíblia está repleta de exemplos de como o Senhor empenhou-se em redimir a humanidade caída através de atos pactuais que garantiam certas exigências. Desde o início o Senhor intentou alcançar o homem salvadoramente. Desde o período remoto em nosso pai Adão, passando por Abel, Sem, Abraão, Moisés, Davi, até o último estabelecido por meio de Jesus Cristo como seu representante final pactual. Cristo assume a representatividade da humanidade, bem como da divindade, unindo o propósito indissolúvel desse pacto entre pactuantes distintos. Logo, nenhuma parte desse pacto, o de Cristo, pode ser quebrada, uma vez que as duas partes distintas são perfeitas. Cristo em Sua divindade e em sua humanidade, dando garantias fiéis de que esse pacto não terá um rompimento.

Em nosso caso defendemos que somos inseridos neste pacto apenas pela graça e não por algo que fazemos, visto que a fé é um dom e este é imerecido e não fazemos nada para conquistá-lo. A principal argumentação contrária é que manifestamos a inclusão neste pacto quando confessamos a Cristo como Senhor, dando um assentimento de fé, vindo esta a nos justificar perante Deus. Aqui algumas questões devem ser tratadas a este respeito. A primeira é que a justificação pela fé atesta externamente algo ocorrido internamente em nós pelo Espírito, mas quanto às crianças incluídas no pacto, estas manifestarão a fé apenas quando estiverem em uma idade prevista pelo próprio Deus. Nada garante que o batismo realmente atesta a justificação pela fé, uma vez que nem todos os que são batizados realmente receberam este dom. Caso pensemos desta perspectiva deveríamos, consequentemente, crer na regeneração batismal. Outra questão é que a fé é dom de Deus. Tanto as crianças como também os adultos a recebem sem merecimento algum (Ef 2.8). No caso das crianças filhas de crentes estas a recebem ainda num sentido de promessa, por estarem inseridas no pacto e numa família da aliança (1 Co 7.14), mas estas a manifestarão em tempo oportuno, não necessariamente na “idade da razão”, mas quando o Senhor aprouver manifestar.

Por último, o batismo assume o lugar do selo da circuncisão, visto que o pacto da graça não pode ser considerado como inferior ao de obras. Neste último aspecto devemos lembrar que todos os apóstolos tiveram este entendimento, uma vez que o argumento paulino em Gálatas e Romanos, reduziu a circuncisão a um contexto proeminentemente judaico. A substituição do selo externo acompanhou a idéia de pacto estabelecida com o povo judeu, uma vez que o rito da cirurgia havia sido conclusivamente aniquilado pelo apóstolo, o que fez a igreja desde seu nascedouro inserir toda a família como certeza da graça de Deus destinada a todos, mesmo naqueles que haveriam de nascer, se caso viessem a nascer em meio à semente da aliança (At. 2.39).  

Aqueles que argumentam favoráveis ao batismo apenas de adultos não contemplam as bênçãos destinadas à família como um todo. Visto que Deus inseriu a família cristã em Seu pacto. Perdem, portanto, uma rica esperança de salvação dos infantes, confiando apenas naquilo que é falho, como nossas resoluções pessoais para virmos a crer. Os eleitos confiam que Cristo salvará seus filhos, muito embora estes precisem, eles mesmos, manifestar a fé salfivica. Mas conferem a estes a promessa, o selo e a consequente esperança que existe em Provérbios 22.6 “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” Logo, este ensino tem a ver com exemplo em todos os níveis e o sacramento do batismo demonstra isso à criança. Ela perceberá que também é alvo da graça de Deus que o chama a responsabilidade de viver uma vida de fé, amparada por Sua graça.

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