Mateus 5.21-26
A partir daqui vemos a aplicabilidade de Jesus diante da Lei de Deus. Ele tinha dito outrora (v.17) que não revogaria a Lei mais que cumpriria, sendo assim, Ele começa a mostrar como um cristão deve fazer para que também cumpra a Lei, uma vez que temos o Senhor como nosso exemplo.
A partir desta porção bíblica, Jesus define como cumprir o mandamento “Não matarás” (Êx. 20.13). Diante dessa exposição do Senhor sugiro um título: “As diversas formas de se cometer um homicídio contra o próximo”.
Observemos em nosso texto, como isso pode ser possível, ou seja, como podemos causar dano ao nosso próximo, segundo a interpretação da Lei que faz o nosso Senhor. De acordo com Ele isso acontece da seguinte maneira:
I- Indo além da morte do outro (vv.21-22)
a) O que foi dito aos antigos (v.21) – O Senhor aqui está fazendo referência ao sexto mandamento. Mas também, de acordo com alguns comentaristas, está se referindo ao acréscimo que fizeram os fariseus “estará sujeito a julgamento”, eles se baseavam para isso em Nm 35.30,31. Dando força ao fato que não tinham cometido coisa alguma se não estivessem diante de um tribunal.
b) O conceito de Cristo (v.22) – A interpretação do Senhor é grandemente diferente, ela começa com a ira. Ela está dentro daquilo que chamamos de foro íntimo do homem, é interno, não demonstrável, logo este assassinato começa no coração. É interessante perceber que a expressão “sem motivo” não aparece nos melhores textos, isso torna a exigência bem maior. Logo a intenção já é suficiente para nos credenciar como assassinos.
Outra questão é o termo raca (revista e corrigida), corresponde a chamar o próximo de desprezível, a nossa versão omite o termo, mas chama de insulto, dando a entender que ficamos magoados e esta mágoa nos faz ferir o outro. Este insulto é considerado como o próprio ato do homicida, nos fazendo dignos de julgamento divino.
II- Quando não entendemos que a misericórdia é maior do que o sacrifício (vv. 23-24).
a) O ato de louvor (v.23) – O Senhor aqui nos lembra do ato externo da oferta, mas poderia ser o de ir ao culto, fazer orações e etc. Ele quer nos fazer lembrar palavras semelhantes a 1 Samuel 15.22 “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à Sua Palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros”. Ele nos recomenda a perscrutar o coração e vê se há algo que prejudique nosso relacionamento com o próximo, para só então realizar o ato externo.
b) Uma postura pouco realizada hoje (v.24) – Essa recomendação mostra-nos como estamos longe de um comportamento condizente, nos agradamos dos atos externos, muito mais do que a limpeza da alma através do cumprimento da Palavra. O correto é deixar a oferta no altar, ou seja, sem que essa seja ainda depositada e então, correr para se reconciliar com aquele que ofendemos e só depois voltar e fazer o depósito.
III- Quando não entramos em acordo com o nosso adversário (vv. 25-26)
a) O acordo (v.25) – A solução para que não sejamos tidos como assassinos é o acordo, no original, fazer amizade, ou reconciliar-se. É preciso fazer isso enquanto estamos no caminho, ou seja, enquanto temos tempo, como filhos, devemos imitar o exemplo do Pai que se reconcilia com seus inimigos que somos nós. O Senhor pensa em alguém que pode nos entregar diante do tribunal divino e reclamar as nossas ofensas diante dEle, quando Ele julgar a causa pode ser que sejamos os réus e não vítimas, sendo dignos de pagarmos a dívida até fim.
b) O pagamento (v.26) – Ele tem poder para nos fazer pagar tudo o que devemos, através de Seu juízo. Em Cristo sabemos que isso já foi feito, mas estas palavras não devem ser vistas de forma leviana por aqueles que se consideram salvos, caso contrário, podemos ter uma terrível surpresa no futuro.
Conclusão: Quantos de nós temos demandas contra o nosso próximo? Quantos de nós nos iramos de maneira irresponsável e pecaminosa, fazendo-nos merecedores dessas solenes palavras? Precisamos tomar cuidado com palavras que querem diminuir, humilhar e desconsiderar aquele que nós consideramos adversário. Temos várias formas de transgredir este mandamento e nas palavras do Catecismo de Westminster somos informados que fazemos isso quando: “o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém.” (Catecismo Maior, pergunta 136).
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