Estou certo de que nunca deveríamos nos ver desapontados com a igreja de Cristo. Afinal de contas ela é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade, a assembleia dos fiéis, a colônia do Reino de Deus neste mundo. Porém, um fenômeno bem comum em nossos dias é a decepção com a igreja, desde os movimentos como os "desingrejados" e pessoas que simplesmente não conseguem se ver de forma confortável no corpo de Cristo. Algumas explicações talvez nos ajudem a entender esse fenômeno comportamental tão perceptível em nossos dias:
Desapontados com os líderes eclesiásticos
Em geral essa decepção tem a ver com a dificuldade encontrada nos líderes eclesiásticos em reproduzirem o modelo de liderança esboçado por Cristo. Nesse aspecto existem uma enormidade de exigências onde aqueles que deveriam pastorear o rebanho de Deus são indiscutivelmente incapacitados. Nenhum pastor deve ter a pretensão de se equiparar a esse modelo altíssimo, porém, os princípios dessa liderança devem nortear o ministério cristão. Esse padrão ministerial só pode ser identificado ou buscado por aqueles que conseguem ter uma visão bíblica acerca do ministério cristão, ou seja, essas pessoas são geralmente mais experimentados na fé cristã, pois também conseguem ver que nossas fraquezas podem ser supridas por um chamado obediente e fiel, mesmo que jamais sejam completos em si mesmo. Aqueles que alcançam essa condição conseguem ver que seus pastores não são perfeitos e que por essa razão eles devem estar dispostos não somente em permanecer na igreja onde os pastores não são perfeitos, mas que também devem ajudar a sua liderança no desenvolvimento de uma igreja que possa avançar para os propósitos escriturísticos, conforme ensinado na Palavra de Deus. Isso fará desenvolver também o companheirismo cristão, onde líderes e liderados se ajudem mutualmente para glorificar a Cristo com seus dons e fraquezas.
Mas há também aqueles que não conseguem analisar o ministério por essa perspectiva, mas talvez movidos por ideias contrárias às Sagradas Escrituras, atribuíram aos seus mentores espirituais características contrárias a aquelas necessárias no ministério bíblico. Esses talvez foram atraídos pelo culto à personalidade, o entendimento de dependência desses líderes para reger as suas vidas espirituais, bem como confiaram nestes no sentido de vê-los como padrão de sucesso, conforme a maioria das igrejas que assimilam a teologia da prosperidade. Esses que se viram admirando esses ministérios perceberam que as expectativas postas sobre esses homens se mostraram como algo inexistente. As aspirações eram grandes em demasia e os seus líderes estavam longe da mensagem que pregavam, por essa razão deixaram as suas igrejas para talvez procurar por algo que de novo os cative e os faça sentir as mesmas aspirações inalcançáveis que outrora depositaram naqueles.
Desapontados com a vida religiosa
A vida cristã que, a princípio foi posta de maneira cativante diante dos seus olhos, não provou ser algo para empreender uma jornada a longo prazo. Muitas pessoas entram na igreja por que estavam passando por momentos críticos. Elas se afeiçoaram a mensagem da graça pregada nas igrejas que as fazeram buscar de imediato uma solução para os seus problemas e alguns, de fato, conseguiram esse lenitivo. Cristo, então, recebeu o status de solucionador de problemas como desemprego, frustrações amorosas ou em problemas familiares. Enquanto as pessoas estavam, talvez vivendo os piores momentos de suas vidas, elas encontram na mensagem cristã um paliativo para se verem livres dessas crises, mas tão logo as crises foram arrefecidas ou resolvidas, esses deixaram de ver a fé cristã como útil ou eficaz. Ficar na igreja depois de ter resolvido os problemas pareceu ser desnecessário, por isso elas abandonaram a fé ou mesmo permaneceram apenas como se quisessem satisfazer uma obrigação, algo como uma gratidão forçada e nada mais. Permanecem no rol de membros de suas igrejas, porém, há muito já não sentem nenhuma vivificação espiritual e não conseguem se manter adequadamente encaixadas nas demandas da fé que se lhes apresentam de forma rotineira. Chega a ser uma apostasia parcial, pois deixaram a Cristo no coração, ficando apenas por mera questão geográfica.
Desapontados por não verem suas perspectivas sendo satisfeitas
Outros são mais práticos, pois vieram para a igreja para serem supridos em demandas bem definidas como sucesso econômico, realização pessoal e outras. Durante o tempo que permaneceram na igreja tiveram bons momentos onde puderam ter um pouco dessas expectativas supridas e quando as conseguiram viveram felizes com a sua fé, mas quando essas demandas foram aos poucos chegando a um nível razoável de acomodação ou de realidade eles simplesmente abandonaram o entendimento de buscar essa satisfação no corpo de Cristo e migraram, interesseiramente para algo mais atrativo ou fora da igreja em algum segmento que lhes pudesse satisfazer em suas expectativas egoísticas. Esses de fato saíram geograficamente das igrejas e hoje permanecem à margem de uma vida religiosa aceitável. Criticam a tudo que tem algum tipo de identificação com a igreja, pois veem a igreja como um ambiente falho durante o momento que permaneceram por lá, por isso são ferrenhos opositores de uma vida eclesiástica saudável.
A verdadeira estabilidade espiritual na igreja
Não podemos negar que nem sempre estamos convencidos das nossas reais motivações quando procuramos uma igreja. Realmente alguns de nós procura a igreja para resolver problemas que nos afligem e por motivos corretos ou não o discurso religioso nos atrai. Porém, manter essa perspectiva quando conhecemos o evangelho genuíno é algo realmente contraditório. O Evangelho tem como objetivo, em algumas ocasiões, frustrar muitas de nossas expectativas arrogantes. Somos confrontados com nossa real noção de nós mesmos e isso pode nos levar a considerar como estávamos longe de um patamar aceitável de uma visão de nós mesmos. Estar na igreja pode nos levar, na prática, a lidar com conflitos internos e externos que na filosofia do mundo onde vivemos jamais foi concebida da perspectiva bíblica que nos fará a compreender nossos dilemas. Mesmos nos dias da carne do nosso Senhor Jesus Cristo, multidões o procuravam por motivos interesseiros e muitos até mesmo queriam segui-Lo apenas para serem satisfeitos em demandas infindáveis e pecadoras. Hoje não é diferente. A ingratidão ou abandono de igrejas bíblicas é perfeitamente compreensível e esse fenômeno tende a crescer naqueles que se fundamentaram por essas razões. Graças a Deus que a igreja ainda consegue atrair pessoas como nós que mesmo que tenham vindo a ela por motivos não muito razoáveis, ainda sim encontraram o sentido para as suas vidas aos pés de Cristo. Que a igreja continue a destruir impressões erradas que a eleição divina continue a separar o joio do trigo, mesmo nesses dias confusos.
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