A
música é algo peculiar ao ser humano em seu relacionamento com o mundo. De modo
que sua existência se confunde com a origem da civilização humana. A Bíblia
relaciona seu surgimento aos primeiros homens existentes na terra. Entre os
descendentes de Caim havia um, chamado Jubal que foi pai de todos os que tocam
harpa e flauta (Gn.4.21). Entre os sacerdotes consagrados no templo havia os
levitas, estes eram responsáveis, além das cerimônias e transporte dos
utensílios, de entoarem os louvores na congregação israelita. Na reforma desse
ministério nos dias do rei Davi, a música teve um destaque grandioso, com o
surgimento de vários salmos, bem como da restauração do ministério levita.
Entre
os gregos, a música era tida como procedente de divindades e alguns deuses
tinham suas histórias relacionadas a fatos ligados à música. Dentre eles contam-se
Dionísio e Apolo. Segundo a mitologia Anfião teria aprendido a música com
Hermes e teria construído Tebas através do som. Orfeu podia tocar harpa com
tamanha doçura que até as feras podiam quedar-se absortas. Outras nações também
têm suas histórias relacionadas à música, como os babilônicos e outros.
Entre
os cristãos a música tem também alcançado muita proeminência em seus cultos
religiosos. Desde o período onde Cristo desenvolvia seu ministério terreno
(Mt.26.30) até o apostólico onde passagens de hinos são citados em certos
trechos da Bíblia como Romanos 11.33-36. Desde então a música teve um papel
vital para o desenvolvimento da fé, sendo um rico instrumento para instruir e
exaltar a Deus.
No
período medieval ressalta-se o canto gregoriano, tendo esse nome em razão de
serem selecionados no século VI, algumas orações que foram metrificadas por
Gregório Magno. Este canto é um
gênero de música vocal monofônica, monódica (só uma melodia),
não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o organum, com o ritmo livre e não medido. Sendo uma forma de
interpretação belíssima, seguindo de perto aquilo que o dizia Santo Agostinho “Quem
canta ora duas vezes”.
No período Reformado as músicas na igreja
passaram por uma reformulação grandiosa. São dessa época os belíssimos
saltérios compostos de salmos metrificados pelo próprio João Calvino, e outras
influências musicais legadas por Lutero em seu inesquecível “Castelo Forte”,
música adaptada de uma canção cantada em bares alemães. Em período posterior a
música recebe influências de nomes como Carlos e João Wesley, Hendel, Bach,
Newton, entre outros.
Mas o objetivo desse artigo é mostrar a
contribuição da música para o crente, bem como abordar algumas questões como, é
lícito ao crente ouvir música não cristã? Passo a expor meu pensamento a este
respeito.
Há algum tempo a música não cristã, tida como
secular era um grande vilão para algumas instituições religiosas. A música era
tida como profana e algumas igrejas até proibiam que seus membros sequer
assobiassem as mesmas. Mas, atualmente isso parece estar sendo vencido por uma consequente
secularização cultural por parte do povo de Deus. É necessário dizer que esta
postura, até então, proibitiva era característica de ramos tidos como
pentecostais da igreja brasileira. Enquanto que aqueles tidos como históricos
ou tradicionais sempre foram mais maleáveis quanto a este particular.
Esta secularização ganhou destaque com o
surgimento das igrejas denominadas neo pentecostais. Estas igrejas, bem menos
rígidas em suas exigências, tinham uma abertura maior para as músicas
seculares, por exemplo, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) tinha em sua
terapia do amor um apelativo a esse gênero musical, notadamente as mais
românticas.
Hoje o número de crentes que ouvem música
secular cresce em alta velocidade, principalmente entre aqueles que são a
segunda geração de evangélicos no Brasil. Ao contrário dos seus pais, estes
detêm um maior conhecimento de certos meios, fazem parte de redes sociais e são
aquilo que chamam de geração cibernética. Mas quanto à absorção desses valores
por esta geração vejo com alguma resistência. Principalmente porque os valores
hoje aceitos não passaram por uma análise sistemática da Bíblia Sagrada, ou
seja, a absorção está sendo feita sem nenhum critério que tenha em vista buscar
a aprovação divina, mas é uma absorção cultural o que pode fazer com que muitos
errem ao trazerem a música não cristã para dentro de suas vidas sem levarem em
conta o cuidado com as letras.
Acho também que não existe ritmo sagrado. Não
penso que apenas músicas evangélicas são dignas de serem escutadas pelos
crentes. Penso que a música cristã tem seu lugar no templo, bem como no coração
de cada adorador, que não cessa de adorar quando está fora do templo, mas que
ainda assim o adora em sua vida e com seus lábios, testemunhando e honrado a
Cristo. Porém, como ser sociável, vivendo em uma sociedade relacionável, pode
também fazer uso das tendências musicais da atualidade, mas tendo cuidado com a
vulgaridade e com letras perniciosas tão comuns na musicalidade brasileira. O
cristão ao fazer uso dos recursos musicais deve se perguntar se agrada a Deus,
se edifica, se não é ofensivo a sua fé. Deve evitar música que falem
profanações, adultérios, libertinagem, entre outras formas de se corromper com
aquilo que se ouve. Todas estas questões devem ser levadas em conta, além de
achar, particularmente, que é papel da liderança da igreja orientar a atual
juventude.
Mesmo não sendo músico, acredito que a música
cristã tem algo a contribuir até musicalmente dentro da musicalidade
brasileira. Fazer com que nomes do cenário gospel venham a estar nas paradas de
sucesso parece não ser tão impossível assim, principalmente com o crescimento
desse mercado atualmente. Mas uma música de qualidade deve ser buscada, tanto
técnica quanto harmonicamente. Além de buscar a fidelidade as Escrituras. Uma
série de cuidados faz-se necessário quanto a este particular, bem como, tantos
outros são necessários em outras áreas. Mas nunca devemos nos esquecer daquilo
que somos como cristãos, nem dos nossos valores e aquilo vivemos. “Todas as
cousas são lícitas, mas nem todas convêm; todas as cousas são lícitas, mas nem
todas edificam” (1 Co.10.23). Aplicando este princípio faremos bem em nos
guardar para a glória de Deus.
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