Josué 2.1
Queridos
irmãos, vivemos dias em que a verdadeira fé está sendo enfraquecida por crentes
que se dizem “desingrejados”, ou seja, que não tem vínculos denominacionais.
Que estão entrelaçando-se com o mundo e pouco estão apercebidos da falta das
suas convicções cristãs. Temos testemunhos entres estes, não de coragem, mas de
covardia e indefinição, quanto a aquilo que se crê, aquilo que se professa em
nome de Cristo.
Quando
olhamos para Bíblia vemos alguns homens e mulheres que tiveram o mesmo caminho,
como Nicodemos, um homem duvidoso que relutou muito para se tornar um cristão,
além do próprio povo de Israel que flertava com os ídolos e ao mesmo tempo
desejava os favores de Deus. Mas também é verdade que somos informados de
homens e mulheres corajosos que mereceram o status de “mártir” por causa da fé
em Cristo. Esses homens e mulheres, conforme fala o escritor aos Hebreus, “o
mundo não era digno” (Hb 11.38). Dentre esses está a nossa personagem dessa
noite Raabe, a meretriz (Hb.11.31).
O
povo de Israel está de novo perto do estabelecimento do propósito divino a
posse da terra prometida. Assim como em Números 13, são enviados espias com a
função de avaliar a terra. Naquela ocasião foram enviados 12 homens
representando as doze tribos, desta feita, apenas 2 são enviados (v.1). Não
fica clara a razão da quantidade de espias, mas dá a entender que como naquele
caso, (Nm. 13.1-2) em que apenas dois creram, Josué e Caleb, que o número
preconizava exatamente a quantidade fiel dos espias. Já se passaram 38 anos,
desde aquele momento, eis que é chegada a hora de Israel prevalecer
definitivamente sobre os seus inimigos.
Creio
que também nós temos que buscar a convicção e a apropriação das promessas
divinas. Nesse sentido, penso que devemos demonstrar a mesma convicção que teve
Raabe. Tendo isso em vista gostaria de chamar a atenção da igreja para o
seguinte título: “Assumindo riscos pela
fé ao exemplo de Raabe”. Todo crente deve estar disposto a correr riscos
pela fé, vejamos como Raabe se torna nosso exemplo nesse texto. Os riscos que
Raabe correu foram:
O risco de
lutar contra seu próprio povo (vv.1-7)
Todos
nós que fizemos pública a nossa fé, precisamos correr determinados riscos, seja
de que natureza for. Mas imagine o caso de Raabe que segundo o reverendo James
Montgomery Boice, comparando-a com Atanásio disse que “Raabe estava contra o
mundo” (Raabe contra mundum)[1].
Ou seja, ela precisou ir contra todos para receber sua parte na promessa.
Vejamos mais de perto como ela correu esse risco:
Ela era uma
prostituta (vv.1-2)
– Muitas questões são subtendidas nesse texto, a primeira é porque eles
procuram inicialmente a Casa de Raabe. De acordo com alguns comentaristas, a
casa de Raabe era uma pousada e isso quer dizer que eles não sabiam que naquela
pousada era a casa de uma prostituta. Outra questão é a rapidez com que a
notícia da permanência deles ali se espalha (v.2). Ora, Israel já tinha cercado
Jericó, o povo inteiro da cidade estava preparado para o pior. A chegada dos
espias trouxe a eles o terror para além dos muros da cidade.
A descoberta
dos espias na casa de Raabe (vv.3-4) – Toda a cidade estava atenta para os
movimentos das tropas de Israel. Enviar dois espias era uma estratégia de
risco. Aqui fica claro porque Raabe desafia seu mundo. Ela logo é descoberta,
não foi por sorte que sua casa foi denunciada, alguém viu os espias em sua
casa, isso tornou a situação para ela bem difícil.
Raabe protege
os espias (vv.5-7)
– Raabe estava decidida a correr riscos não pelos espias, mas por sua vida e
sua casa. Sua preocupação era entender que os espias deveriam ser protegidos,
pois essa era a única chance que ela tinha de escapar com vida. Ela esconde os
homens e nega que os mesmos estivessem em sua casa. Por algum motivo eles não
duvidam dela, provavelmente porque ela, apesar de prostituta, tinha uma boa
reputação perante eles.
II- O risco de
abandonar a sua religião (vv.8-13)
Esse
risco corrido por Raabe é algo que todos nós precisamos fazer se quisermos
agradar a Deus. É quando deixamos todas as nossas superstições e corremos para
o Deus que se revela nas Escrituras. Vejamos como Raabe efetuou o abandono de
sua velha religião:
Ela abandonou
o medo (vv.8-9)
– Toda a cidade de Jericó estava espavorecida diante dos israelitas, não
propriamente do povo de Israel, mas, sobretudo, por causa das notícias dos
grandes livramentos do Senhor. Ela, ao invés de optar pelo medo, escolhe optar
pela esperança do Senhor.
Ela se apegou
ao Deus revelado (vv.10-11) – Os feitos do Senhor já estavam bem conhecidos
aos habitantes de Jericó. Raabe lista dois desses livramentos: 1) A passagem
pelo mar vermelho; 2) a vitória sobre Seom e Ogue (v.10). Logo, após ela revela
sua conversão a Deus com o reconhecimento de que outro Deus não há em toda a
terra e céu.
Ela se apegou
ao Deus que livra (vv.12-13) – A preocupação de Raabe não estava
restrita a preservação de sua vida, mas também com aqueles que faziam parte de
sua família, pai, mãe e irmãos. A casa de Raabe, posteriormente, se torna uma
espécie de arca, conforme a palavra dos espias. A salvação dependia de estar
perto dela. Isso só foi possível porque Raabe se apegou ao Deus que pode
livrar.
O risco
de vacilar na nova fé (vv.14-21)
Assim
como todos nós, havia o risco do enfraquecimento da fé que Raabe acabara de
aceitar. Após a saída dos espias houve um período de tempo que Raabe deveria
passar para maturar sua fé. É justamente nesse período que devem ter acontecido
os maiores dilemas para Raabe, vejamos isso de perto:
Ela devia
provar a fé (v.14)
– Se Raabe estava mesmo convicta, ela não denunciaria a missão dos espias. Caso
ela não estivesse o próprio Deus estaria julgando sua convicção, com o juízo
que se abateria sobre toda a cidade.
Ela orienta a
fuga dos espias (vv.15-16) – Raabe dá provas de que sua fé não era
vacilante. Ela instrui os espias de forma a viabilizar a fuga dos mesmos. Todos
os detalhes que ela dá da fuga, livram os espias dos seus patrícios.
Ela tem um
novo teste de fé (vv.17-21) – Durante a saída dos espias ela passa um tempo
afastada daqueles homens. Sua fé poderia retroagir e se caso ela fosse
nacionalista, poderia voltar às suas raízes. Porém, mais uma vez ela demonstra
sua fé inabalável ao esperar por promessas que livrariam ela e os de sua casa.
O risco de
confiar em outrem (vv.22-24)
O
último risco que Raabe correu foi de confiar apenas nos espias. Ela não tinha
garantia de Josué de que essas palavras seriam cumpridas. Da mesma forma
estamos confiados apenas nas Palavras e obras de Cristo. Analisemos mais um
pouco desse risco:
Os espias
contam a Josué (vv.22-23) – Com toda certeza eles falaram da promessa feita
a Raabe. A estratégia de ocupação israelita em Jericó certamente levou em conta
a proteção de Raabe e sua família.
O testemunho
reforça a fé (v.24)
– Mesmo que esse último verso não fale de Raabe, vemos como o testemunho dos
espias ajuda as tropas israelitas. Ela serve de incentivo e fé para eles, logo
ela também está presente ali.
Ao
vivenciarmos esses dias temos talvez, tanto quanto Raabe, a necessidade de
sermos convictos em nossas decisões. Deus não aceitará, menos do que isso.
Devemos correr riscos. O risco de lutar contra o povo, de abandonar a antiga
religião, o risco de não vacilar na nova fé e por fim, o risco de confiar em
outrem, sendo esse o próprio Cristo.
Raabe
ocupa uma posição especial na redenção por causa do seu testemunho. Ela é
antepassada do nosso Senhor (Mt.1.5); ela é exemplo de fé na galeria da fé
(Hb.11.31) e exemplo de fidelidade (Tg. 2.25).
E
nós o que somos? Também temos que vencer o medo, temos que estar prontos para
sermos subjugados por Deus, como a cidade de Jericó foi, mas Raabe teve uma
sorte melhor do que eles. Assim como ela somos chamados para o mesmo
empreendimento. Que Deus nos faça firme, ao exemplo de Raabe, que Ele nos
conceda sua bravura e convicção nesses dias, amém.
[1] BOICE, James Montgomery. An
Expositional Commentary, Joshua, Editora Backer Books, 2005, Grand Rapids, EUA
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