Gênesis 17.1-8
Essa porção
das Escrituras que precede a instituição da circuncisão (vv.9-14) ao patriarca
Abraão tem um grande significado para a nossa concepção de santidade. É
basicamente o entendimento da santidade que eu gostaria de refletir com a
igreja hoje. Essa santidade que foi exigida de Abraão aqui recebe implicações
mais amplas, como no caso da aliança feita com os descendentes do patriarca. É
por isso que quando a igreja retoma sua atenção para tão elevado tema, algo
grandemente desafiador nos acomete, uma vez que vivemos em um mundo que deseja
muita coisa, mas talvez uma das coisas que ele menos deseje é uma vida santa.
Tendo
isso em mente gostaria de chamar atenção para o fato da escolha de Deus por um
homem semita, chamado Abrão, natural de Ur dos caldeus, tirado de um contexto
idólatra e que deveria ser pai de uma numerosa nação:
“Então,
conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que
podes. E ele lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele creu no Senhor, e
isso lhe foi imputado por justiça. Gênesis 15.5-6.
Seu
exemplo nos inspira a continuar perseguindo a santidade em nossa vida
particular, família e sociedade. Vivendo em um contexto mais favorável com
relação à presença do Senhor em nós, por meio do Espírito Santo, cabe-nos
refletir nesse texto e empreendermos nossos esforços para que a santidade não
seja apenas um conceito teológico “jurássico”, algo para ser dissecado por
teólogos, mas algo experiencial, vivido ainda em nossos dias.
Para
que tenhamos um conhecimento adequado sugiro uma reflexão a partir de um
título: “Entendendo a santidade por meio
do patriarca Abraão”. Esse pequeno texto, tem muito a nos dizer acerca
dessa tão importante verdade por vezes negligenciada pela igreja hodierna. Sendo
assim, busquemos extrair dele alguns princípios fundamentais de modo a
fortalecer a nossa própria santidade ao exemplo do patriarca Abraão:
A santidade
de Abraão era para todos os seus dias (vv.1-3).
O El-Shadday
diante do velho Abraão (v.1 parte a) – O título “El-Shadday” é recorrente
no A.T., mas está intrinsicamente ligado com a promessa da descendência. Ele é
traduzido como “Todo Poderoso” enfatiza então a capacidade descomunal do Senhor
de controlar todas as coisas segundo a força do Seu poder, inclusive o Seu
pacto. No caso da idade do patriarca vemos que desde que o Senhor lhe chamou,
aos 75 anos, até os 99 ainda essa promessa não havia sido ainda concretizada.
Isso fez com que Abraão tentasse cumprir a mesma por meios espúrios (cap.16).
A ordem do
andar com Deus (v. 1 parte b) – A escolha divina por Abraão não era
meramente por falta de opção. Existia uma promessa aos semitas (Gn. 9.25-27),
de onde Abraão descendia, além disso, ele tinha sido escolhido pelo próprio
Deus. A questão de andar com Deus denota santidade. Segundo Geerhardus Vos,
significava a supervisão de Deus de maneira próxima com relação a Abraão.
Abraão amaria essa supervisão, consentindo com seu estilo de vida. O crente
deve ter esse mesmo entendimento, ou seja, a certeza que o Senhor lhe contempla
e esse olhar não lhe preocupa, mas lhe faz se rejubilar por tão grande
comunhão.
Um pacto, uma
promessa (v.2)
– Além da exigência de comunhão no que se refere à santidade, era necessário,
segundo o entendimento do Senhor, que fosse estabelecida as bênçãos do pacto em
razão da condição eleita do patriarca. Essa condição era unilateral, não
dependia de Abraão, ou seja, nada ele podia fazer de sua perspectiva ou de sua
parte, mas apenas de Deus podia. Não existe o apelo para Abraão fazer algo,
mesmo que antes Ele tenha dito “sê perfeito”, isso não fazia Abraão perseguir a
perfeição, mas apenas contemplar os altos critérios de Deus. Aqui Deus concede
a Abraão a confirmação que Suas palavras não eram promessas vazias, mas a
certeza do cumprimento, pois Ele as havia feito. Mesmo sem ter um único filho,
ele seria pai de numerosa nação. “Por isso, também de um, aliás, já amortecido, saiu uma posteridade tão
numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do
mar”. Hebreus 11.12
A adoração de
Abraão (v.3)
– Aqui vemos uma das características desse notável homem Abraão. Aqui o vemos
com a “cara no pó” diante do Santo. Ele não pensa duas vezes, mesmo já tendo um
certo costume com as epifanias particulares, ele tem o senso da devoção que só
os santos têm no Senhor.
A
santidade de Abraão era uma nova perspectiva, uma nova missão (vv.4-6).
Uma condição
que excedia a vida do patriarca (v.4) – É fato que ele ainda continuaria a
desfrutar das benesses da sua condição eleita enquanto fosse vivo, mas tal
condição não seria restrita apenas a ele. Outros estavam envolvidos. Esses
seriam aqueles que fossem descendentes dele, aqueles que o próprio Deus
pretendia alcançar, o povo eleito, sendo redimido não somente por essa
promessa, mas também pela promessa dessa remissão ocorrida pelo Mediador.
A mudança do
nome dá uma nova perspectiva e missão (v.5) – A questão dos nomes na
cultura semítica era bem recorrente. Geralmente eles denotavam uma qualidade a
ser pretendida ou mesmo já existente no indivíduo. Sendo assim, Abrão (pai
exaltado), passa a ser Abraão (pai de multidões). Essa condição estava em
estrito relacionamento com o que Abraão se tornaria o pai da fé, o pai de um
povo escolhido.
A promessa da
bênção decorrente da aliança (v.6) – A condição prevista para o
patriarca e seus descendentes não se estende apenas a aqueles que são
naturalmente descendentes, mas a aqueles que se achegam as mesmas promessas por
meio do Descendente. Sendo assim, as bênçãos do pacto não estão relacionadas
apenas com o povo hebreu, mas também com os descentes pela fé de Abraão.
A
santidade de Abraão era para ele e para sua descendência (vv.7-8).
Uma aliança perpétua
(v.7)
– Isso quer dizer que não estava essa aliança dependente do homem, ou condição
desse a quebrar, mas estava baseada em Deus, pois somente por isso ela seria
eterna. As bases dessa aliança então são mencionadas da seguinte forma
“estabelecerei minha aliança”, logo ele pertence unilateralmente a Deus. O
homem é parte pactual apenas no concerne a ser beneficiado e apenas isso. Essa
seria transmitida, ininterruptamente para os descendentes do pacto, os quais
são eu e você e também nossos descendentes.
Descanso e
possessão santificados (v.8) – Aqueles que descendem de Abraão
também estão debaixo daquilo que foi prometido a ele quanto as promessas. Deles
também serão o descanso das peregrinações e a possessão de um local eterno,
prefigurado em Canaã.
Mesmo que o
caminho a santificação seja algo desconhecido de muitos hoje em dia, aquilo
para que fomos separados permanece, somos chamados à perfeição e santidade que
o nosso pai Abraão foi requerido. Resta-nos depois de contemplar esse texto
observarmos o que temos feito para que uma vida de santidade esteja sendo
buscada por nós. Temos um chamado de aliança perpétua, esse chamado fala de
como o Senhor deseja para si um povo santo, um povo que fosse realmente
dedicado a Sua causa, que vivesse ao Seu lado “anda na minha presença”, que
estivesse certo de sua separação consagrada e fiel. Que Deus nos faça priorizar
a santidade nesses dias maus e que pela graça de Deus continuemos a avançar,
tendo como objetivo a fidelidade que todos os santos que entenderam isso
buscaram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário