Gênesis 3.15
É evidente que o Evangelho não é uma novidade pertencente apenas ao Novo
Testamento. Muitos resquícios dessa verdade estavam presentes no Antigo
Testamento. É por isso que o Senhor com os dois discípulos no caminho de Emaús
expôs essa verdade de forma tão efusiva (Lc. 24.27), de modo que lhes ardeu o
coração (Lc. 24.32). O texto que iremos considerar essa noite é chamado de “síntese
do Evangelho no A.T”. Charles Spurgeon, disse que “esse texto contém,
praticamente todas as verdades que são encontradas no Novo Testamento”. E é
tendo isso em mente que estaremos laborando nessa noite. Estaremos observando
que tais verdades foram o farol para os crentes do passado, um anúncio anterior
a grande verdade que hoje dispomos, de uma forma poderosa e pactual, algo que
sem dúvida anuncia nossa redenção e triunfo sobre o inimigo na Pessoa da
semente da mulher, o nosso Senhor Jesus Cristo.
O
pano de fundo desse texto remonta a um dos dias mais negros da humanidade. Dia
esse que de tão importante, ainda hoje afeta nossas afeições, desejos e
interesses. Esse dia é o dia da queda da raça humana e especificamente nesse
contexto é que somos informados das providências tomadas por Deus em razão
dessa terrível queda. Os três personagens envolvidos estão diante do Senhor a
fim de ouvirem as terríveis sentenças do Juiz de toda a terra, a serpente, o
homem e a mulher. A pequena porção que estamos observando é parte da sentença
divina dita à antiga serpente, satanás.
Creio
que esse pequeno texto pode nos ajudar a compreender melhor as promessas de
Deus no Evangelho. Ele também nos ajuda a compreender pontos importantes de
nossa luta contra a semente da serpente, além de sermos conduzidos a contemplar
o triunfo de Cristo sobre Seu inimigo. Tendo isso em vista, gostaria de propor
um título para a nossa meditação: “O
triunfo da Semente da mulher, a nossa consolação e alegria”.
Vejamos
porque podemos nos consolar e alegrar nessa antiguíssima mensagem. Olhemos de
perto as partes constituintes dessa mensagem, na ocasião do decreto da derrota
do inimigo e entendamos como isso nos enche de alegria e regozijo.
A mulher em
inimizade com a Serpente.
Uma amizade
anterior
– Antes dessas palavras serem ditas pelo Senhor, o que ficou constatado é que
anteriormente é que havia amizade entre a mulher e a serpente. Houve uma troca
de gentilezas no sentido de anuírem em comum acordo um tratado de paz de
rebeldia contra o Senhor. Satanás soube conduzir a mulher no sentido de
conquistar sua atenção. Com palavras agradáveis à mulher, a velha serpente a
engana muito sagazmente.
Uma situação
diferente a partir daqui – Depois que essas palavras foram pronunciadas
pelo Senhor, houve um revés nessa relação. Como disse Spurgeon “a amizade dos
pecadores não dura muito tempo”, sendo assim, nitidamente essas duas partes
estiveram em um litígio permanente.
Descendências distintas e inimigas.
Muitos
debates têm sido travados aqui, pois existe a necessidade de se compreender bem
a questão relativa as palavras hebraicas para “tua descendência” (zar‘ăḵā – זַרְעֲךָ֖) e “descendente” (zar‘āh; - זַרְעָ֑הּ). O problema está no uso do
pronome hebraico para “o” descendente, no lugar de descendência. De acordo
Walter Kaiser Jr, que cita R. A. Martin, diz que ele conclui que “em 103 vezes
que o pronome masculino hebraico é empregado em Gênesis, em nenhum caso em que
o tradutor traduziu literalmente ele tem rompido a concordância em grego, entre
o pronome e seu antecedente, a não ser aqui em Gn. 3.15”[1].
Logo, segundo essa informação, é muito estranho o uso de um representante para
a descendência, a não ser que consideremos o conceito de pessoa régia,
existente no Messias.
A descendência
da serpente
– Hora, é claro que satanás não reproduziu, logo não tem descendentes filias ou
genéticos, então, o que a Bíblia quer dizer com descendência da serpente?
Segundo o entendimento bíblico, uma parte da humanidade foi adquirida pelo
próprio satanás, ele passou a vindicar aqueles que são rebeldes contra Cristo.
Logo, todos aqueles que vivem nesse estado pertencem a ele. Sendo assim, mesmo
os eleitos estiveram nessa condição em outro momento, antes de serem salvos por
Cristo.
O descente da
mulher
– Como já observamos o uso desse conceito, não de uma descendência, mas de um
descendente, denota uma condição régia e messiânica. Estamos falando então
daquele que tem condições de esmagar a cabeça da serpente. Isso quer dizer que
a partir dele uma nova descendência seria criada. Esses são hoje inimigos dos
descendentes da serpente, logo estão estes em total litígio, pois estão assegurados
na pessoa do “Descendente” que é Cristo.
O
ferimento da serpente na cabeça.
Quis
o Espírito Santo que o triunfo fosse enunciado antes do final, talvez para
mostrar que a suprema vitória do descendente é algo perfeitamente esperado,
pois não existem contratempos para o Senhor.
Um golpe fatal – Dentre
todos as partes constituintes do ser humano a cabeça é a mais exaltada. Nela
está a sede de todos os empreendimentos, nossa racionalidade, além de nossos
sentidos mais nobres. Quando o Senhor atinge essa parte do corpo de satanás,
com a vitória de Cristo, isso implica dizer que todo o empreendimento do
inimigo não tem mais o poder de antes. Cristo vitoriou-se sobre o algoz da raça
humana, o descendente, o cabeça federal do pacto destruiu os intentos da grande
serpente.
Um golpe
salvador
– Esse golpe significa, sobretudo, a vitória de Cristo sobre o território do
maligno, sobre aqueles que lhe eram vassalos, mas que hoje são os despojos de
Deus, os eleitos. Quando somos conduzidos a profundidade dessas palavras
lembramos que nós pertencíamos a serpente, éramos sua descendência, porém
agora, depois do golpe de Cristo, temos um novo Senhor, o Descendente, Cristo
Jesus, o nosso vitorioso redentor.
IV- O
ferimento do descendente no calcanhar.
Resta-nos
falar dos efeitos do golpe dado pela serpente, vejamos o que isso quer dizer:
Não foi um
golpe fatal
– Em comparação ao golpe do Descendente, o golpe da serpente não causa tanto
espanto assim. É verdade que é a partir desse golpe que vemos a terrível atrocidade
que é o pecado, pois isso custou a vida do Justo, mas uma vez que Aquele que
sofreu o golpe, é “a Ressurreição e a Vida”, tal golpe não o pode destroçar,
mas apenas causar-lhe danos temporais. Esses são suas chagas graciosas por Seus
eleitos.
Um golpe
sorrateiro
– Esse, uma vez que foi desferido pela serpente, ganha contornos de tocaia,
pois é assim que as serpentes desferem o seu golpe. Porém, Cristo prevaleceu
sobre tal empreendimento, todas as forças do inferno não foram capazes de
destruir o empreendimento santo, há muito previsto da derrota do inimigo. E
nenhum dos seus esforços malignos foram capazes de anular, tão previsível
desfecho.
Conclusão:
O Evangelho é antiguíssimo. Ele não é um planejamento, tendo por base uma
estratégia mudada conforme as adversidades. Ele está previsto por Deus desde os
tempos eternos. Cristo é o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo
(Ap.13.8). Logo, Deus tinha em vista a morte substitutiva do nosso Mediador,
antes que tudo tivesse ocorrido, antes da queda dos nossos pais, antes da queda
do próprio diabo.
Que
consoladora mensagem temos aqui. Se estamos do lado daqueles que hoje podem ser
considerados “sementes da mulher”, assim como o nosso Cristo, podemos dizer que
ninguém pode triunfar sobre nós. Nossa vitória em Cristo, a vitória da Noiva,
da igreja é um enredo conhecido, antes mesmo de qualquer acontecimento. Cristo
é a nossa garantia, Ele é o nosso Rei invicto, aquele que inimigo algum pode
destruir.
Termino
esse sermão com as palavras de Apocalipse 6.1,2.
“Vi quando o
Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo,
como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu
Cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; ele saiu vencendo e para
vencer.”
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