segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como ofertar de maneira adequada

Todos nós que estamos familiarizados com o Evangelho sabemos que a obra evangelística não se mantém sozinha, ou seja, todo trabalho insipiente deve ser mantido por uma instituição, agência missionária, denominação, igreja, enfim, que haja algum tipo de salvaguarda no empreendimento, de forma que supra os gastos relativos a obra, de maneira a atender as demandas existentes. Também sabemos que o trabalho evangelístico é sobretudo um propósito divino, pelo menos esta é a motivação que nos faz investir no mesmo. Sendo propósito divino, evidentemente o sustento virá, abundamentemente providenciado pelo próprio Deus, mas isso não exclui nossa tarefa de sustentar a obra, uma vez que nós mesmos somos os instrumentos utilizados por Deus para esta manutenção. 

Com o aumento das instituições evangélicas espalhadas pelo país recebemos e-mails, telefonemas e por meio da mídia, apelos que dão conta das necessidades existentes em alguns trabalhos evangelísticos que se fomos dar conta de todos, certamente nos faltaria condições para isso. Para que haja um entendimento, sobretudo bíblico, quanto a oferta e os princípios que deveriam nortear aquele que lança a mesma diante do trono de Deus, gostaria de refletir em como devemos ofertar de maneira adequada. Observemos os princípios sugeridos.

O conceito no A.T. e N.T. O conceito de oferta em toda a Bíblia é vasto e abundante. Já no início do livro sagrado vemos, num contexto significativamente redentivo, que as ofertas lançadas por Abel e Caim determinaram externamente a fidelidade dos mesmos. Quanto a instituição da oferta na Lei Mosaica vemos que o povo eleito também deveria ser conduzido por este entendimento como fica claro em textos como Ex 25.2-3, 29.28; Js 22.23 e outros. Portanto, não há dúvida quanto esta prática no A.T e que tais ofertas tinham a ver com a comprovação pactual deste povo, sendo dever de cada israelita depositá-la diante do Senhor. No Novo Testamento o conceito da oferta permanece, já no ministério terreno do nosso Senhor Jesus Cristo vemos a necessidade da manutenção do trabalho, bem como a existência de uma pessoa responsável para recebê-las Jo 12.6. Alguns ensinamentos do Senhor tinham uma preocupação com esta prática, é o que vemos em Lucas 21.1-4. Baseado no ensino geral das Escrituras observamos que a prática de dar ofertas sempre devem ser uma constante para aqueles que são chamados como servos de Deus. Ela endossa o fato de que a oferta é um ato cúltico e que por esta razão faz-se necessário prestar, em todas as ocasiões que se for exigido, mas de acordo com nossas posses e com nossa voluntariedade, uma vez que tudo que temos provém de Deus, nada mais do que justo devolvermos voluntariamente aquilo que nos tem sido doado por Ele.

A oferta no contexto da igreja local. Quanto a igreja local muitas exigências quanto a manutenção são demandadas. Como instituição religiosa, conforme a Lei nacional, as igrejas são instituições sem fins lucrativos, portanto, a igreja local não recebe fundos estatais para sua manutenção, cabendo aos seus membros o sustento próprio dessas comunidades. As necessidades quanto a isso são as mais variadas, desde o sustento ministerial do pastor da igreja (1 Co 9.7-10 e 1 Tm 5.17-18), a manutenção dos funcionários que zelam pela a limpeza do templo, por trabalhos mantidos pela a igreja, além outras despesas como compra de materiais didáticos, despezas ordinárias com a manutenção do templo, entre outras. Tais necessidades são mantidas com o depósito dos dízimos e das ofertas, caso contrário seria praticamente impossível a manutenção do mesmo. Em países onde as leis proibem a existência da igreja sem tais recursos esta estaria totalmente desamparada e a existência dos mesmos servem para mantê-la.

A oferta no contexto mais amplo. Evidentimente que aqueles que são supridos pelo Senhor ainda podem ofertar em instituições cristãs, como orfanatos, hospitais, clínicas anti-drogas e outras, só que estas devem ser ministradas apenas a medida que as ofertas quanto ao trabalho que o crente pertence (igreja local) já estiver suprido pelo próprio crente. Logo, não é o crente que resolve onde o seu dinheiro deve ser aplicado, mas sua obrigação é em primeiro lugar direcionada aos domésticos da fé (Gl 6.10), e apenas então, direcionar seus recursos aos demais. Aqui cabe uma palavra quanto às ofertas destinadas a tele-evangelistas. No sentido mais prudente deste entendimento, acredito que ofertas direcionadas a trabalhos desenvolvidos por esta nova classe de "obreiros" oferecem alguns riscos. Como por exemplo o acompanhamento dos recursos onde as ofertas são investidas. Nunca se sabe se os mesmos são direcionados para o programa ou para o próprio obreiro. Aqui não se está contradizendo o que foi dito acima sobre o salário do obreiro, visto que a maioria desses tele-evangelistas são ligados a denominações e que portanto, tem amplas condições de se manterem condignamente. Mas me refiro ao fato de haver quem demonstre um enriquecimento desmedido e escandaloso. Por isso, aqueles que resolvem investir em divulgação de programas televisivos deveriam antes de mais nada observar a lesura dos mesmos e a maneira como são feitos os acompanhamentos daqueles que são alcançados por estes programas. É fato que nem todos são acompanhados e que muitos tem ido para seitas e estão desamparados espiritualmente, visto que não existe um acompanhamento satisfatório por estas instituições.
 
A oferta como manifestação credal. A última consideração que faremos a este respeito é o compromisso credal que aquele que oferta deve ter com o seu investimento espiritual. Isso vale para igrejas e membros, visto que é bem possível que estejamos investindo em projetos evangelísticos que não farão os que são alcançados por eles desenvolverem uma fé saudável biblicamente. Sei que muitos irão discordar de mim quanto a este particular, mas ao meu modo de ver, projetos evangelísticos que contribuem para trazer mais confusão espiritual do que esclarecimento não deve ser o foco de quem pensa biblicamente. É necessário se pensar de forma confessional quanto a isso e essa questão nada tem a ver com egoísmo e preconceito, mas com compromisso com uma fé genuína e com o crescimento da fé reformada no apoio de projetos que tenham esta preocupação e missão.

Todos estes cuidados devem ser observados quanto a este importante fator da nossa vida cristã. A devida compreensão desta importante área espiritual e o seu consequente investimento, devem ser uma fonte de bênção e um serviço a Deus, de modo que ela atinja satisfatoriamente seu objetivo, que é perpetuar a fé cristã ao longo dos anos, sendo bênção para os ofertantes e para aqueles que recebem os recursos. Que sejamos criteriosos e responsáveis quanto a isso para que cumpramos o nosso papel como despenseiros de Cristo.

2 comentários:

  1. Gostei desse comentário, espero alcance aquelas pessoas que confundem dever cristão com obrigação sócio-religiosa, amém!

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  2. Obrigado Ednel, sem dúvida é um grande constraste e prejudica a obra de Deus.

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