segunda-feira, 3 de maio de 2010

A DOUTRINA DA SOBERANIA DIVINA SEGUNDO A CPAD



Algumas questões particulares me fazem escrever este artigo. Não é uma espécie de depreciação pública falar de uma instituição de uma igreja evangélica nacionalmente reconhecida. Não é um terrorismo infundado ou uma espécie de execração preconceituosa que propaga a superioridade espiritual de alguma denominação. Mas apenas uma reflexão sobre aquilo que se está sendo ensinado nas escolas dominicais de algumas igrejas evangélicas.
A crítica que faço, faço baseado no texto da revista da Escola Dominical Lições Bíblicas, cujo tema é “Jeremias, esperança em tempos de crise”. Publicação da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Mais precisamente na lição seis (6), do título “A soberania e a autoridade de Deus,” assinado pelo Pr. Claudionor de Andrade, constatamos os seguintes ensinamentos sobre a soberania divina, segundo esta revista:
1) O texto de Jeremias – Todo o estudo é baseado em Jeremias 18.1-10. Que segundo a interpretação do escritor “é conhecido como uma parábola da soberania de Deus”. Quanto a isso não há citação alguma de quem denominou Jr. 18.1-10 de parábola. Uma vez que esse texto não é uma parábola, mas um texto escrito em estilo profético. Faz parte de uma visão profética recebida pelo profeta e em hipótese alguma pode se dizer que é uma parábola, nem pelo estilo gramatical, nem pelo contexto alocado.
2) Calvinistas extremados – A lição usa também um termo um tanto quanto dúbio de significado. Ela menciona o fato que o texto é preferido por calvinistas extremados, só que não explica o porquê do uso desse texto pelo grupo mencionado e também quem são os mesmos. Parece que o autor quis bater e assoprar ao mesmo tempo ao invés de ser mais específico.
3) Tema incompreensível e complexo – Outra declaração feita pelo Pr. Claudionor é dizer que o tema da soberania de Deus é incompreensível e complexo para algumas escolas teológicas. Também aqui não há registro de quem ele quer atingir. É sabido que a escola calvinista jamais se isentou de expor nenhum texto bíblico. O que foi dito por Calvino e alguns reformados é que alguns temas específicos estão longe da interpretação humana, como os decretos e algumas questões referentes a Deus e jamais o Calvinismo fugiu desse texto.
4) O livre arbítrio – Na página 30, da citada revista existe a seguinte expressão “Assim como o oleiro tem poder sobre a argila, de igual modo trata-nos Deus consoante à sua soberania, levando em sempre em conta, naturalmente, o livre arbítrio (grifo meu) com ele nos dotou. Aqui me parece intencional repetir um erro crasso do arminianismo, ou seja, defender a existência do livro arbítrio sem oferecer base bíblica para isso. E também o autor da revista parece pensar que apenas as suas palavras são suficientes para isso, visto que também não cita texto algum, nem argumento que comprove a existência desta filosofia grega.
5) Textos em Romanos – O escritor pede que se estudem Romanos 9, 10 e 11. Dizendo que no capítulo nove Paulo comenta a respeito da eleição de Israel. Mas não considera a inter-relação entre filiação e promessa no verso 8. A promessa não pode apenas ter sido dirigido ao povo de Israel, mas também se estende aos gentios. O capítulo 10 realmente fala sobre a rejeição do Israel incrédulo e o capítulo 11 fala em termos de reconciliação de Israel, mas não mais como povo único, mas como povo que compartilha com os gentios a eleição por meio de Cristo.
6) Predestinacionismo absoluto e cego – Outra crítica sem explicação é o termo predestinacionismo absoluto e que parece dar a entender que o autor defende uma predestinação parcial e maleável. A crítica não tem nenhum aparato, mas apenas usa termos desconexos para dar uma impressão pejorativa. A predestinação é absoluta em termos e em atos. Deus não a compartilha com o homem, ela não é comunicável, logo ela é absoluta sim, queira o homem ou não.
7) Soberania não é arbitrariedade – Não há dúvidas sobre isso, o autor endossa o pensamento calvinista. Arbitrariedade é a usurpação de direitos e isso Deus não faz, visto que o homem não tem direito algum, pois se algum dia ele teve o perdeu quando pecou.
8) Salvação e danação eterna – O autor diz “Deus jamais criaria uns para a salvação e outros para a danação eterna. Isto contraria os dois principais atributos de Sua bondade: Santidade e justiça. Apenas superficialmente, gostaria de saber se o pastor Claudionor realmente crê que Deus não escolhe aqueles que Ele resolve amar? Até mesmo nós o fazemos e Deus também não faria? Deus condena e salva, não por méritos, mas por Seu propósito santo, sua eleição e amor. Quanto aos atributos, Deus é ainda Santo quando cumpre a penalidade destinada aos réprobos. Ele ainda continua justo quando condena. Ele não perde nenhuma virtude quando faz isso, pois Sua santidade e Justiça são eficazes para perdoar e condenar.
9) Ensino do universalismo – O mais espantoso é esse ensinamento “A predestinação é universal. Ou seja: Deus, em seu profundo e inigualável amor, predestinou todos os seres humanos à vida eterna (Jo 3.16). Por conseguinte, ninguém é chamado à vida para ser lançado no lago de fogo (...)”. Será que Claudionor não considera que o mesmo texto utilizado diz que “(...) deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” Ou seja, sem muita exegese, a predestinação não é universal é apenas para os eleitos, pois eles são os que vão crer no unigênito Filho de Deus. A não ser que o pastor creia que todos podem crer em Deus, assim é fácil abrasar o universalismo. Ainda que ele cite que é necessário crer, não tomamos posse disso por nós mesmos, a fé é dom de Deus, conforme ensina Efésio 2.8.
A conclusão que tenho a esse respeito é que o autor descreveu a soberania divina de forma parca e pobre. Ainda que não seja um estudo exaustivo, pois se trata de uma aula de EBD, os membros da AD, merecem uma melhor preparação. Para falar de temas assim, não devemos usar apenas um texto, como foi o caso, mais enriquecer com outros tantos que definem melhor o tema. Além do que, boa parte das citações e idéias demonstram preconceito e falta de conhecimento da doutrina calvinista.
Qualquer trabalho que se proponha para Deus e para instrução de Sua Igreja, seja ela qual denominação for, merece uma boa exposição. Argumentos descabidos e impróprios demonstram falta de bom senso de ir as fontes como livros reformados e o entendimento da doutrina que brilhantemente é exposta pela fé calvinista. Lamento imensamente tal estudo. Recomendo aos membros da AD estudar os comentários de Calvino, As Institutas e outros livros recomendáveis, para então fomentar uma idéia segura sobre a soberania divina.

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