segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O presente século e o fascínio que ele exerce em muitos ainda hoje

A expressão "presente século" aparece três vezes nas Escrituras Sagradas. A primeira vez que ela ocorre é em  Gálatas 1.4, onde em algumas traduções lemos: "O qual se deu por si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai". Em outras traduções utiliza-se a expressão "mundo perverso" como no caso da Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida. Neste texto o apóstolo Paulo está iniciando seu argumento aos gálatas em uma saudação que ele tenciona deixar claro aos ouvintes a tentação de dar ouvidos a doutrinas que visem nos conduzir ao apresso por este mundo transitório e isso ele fala em relação a judaização pretendida por seus adversários na Galácia. 

O segundo texto é 2 Timóteo 4.10, o mesmo apóstolo usa novamente a a expressão para enfatizar o declínio de espiritual de um homem chamado Demas, que resolve abandonar Paulo na prisão e vai para Tessalônica, provavelmente para viver uma vida de licenciosidade e promiscuidade, pelo menos é isso que parece querer dizer o apóstolo.

No último e terceiro texto, Tito 2.12, a ênfase não é negativa quanto ao presente século, mas sim positiva. Paulo orienta o jovem pastor a observar o presente século de uma maneira produtiva e adequada. Suas palavras indicam a forma de viver prudente, que pode ser reformada a partir da observância de uma  postura piedosa, regulada pelo evangelho.

É evidente, a partir dos textos fornecidos, que a expressão "presente século" não tinha nada a ver com os dias do apóstolo, ou seja o primeiro século da era cristã, mas com o amor ao mundo e com o relacionamento do cristão com este mundo mau, que ele tem que se relacionar, mesmo sem concordar plenamente com sua filosofia.

Tanto naqueles dias como nos atuais percebemos a fascinação que este mundo tem exercido em tantos atualmente. Isso faz com que a maior ameaça ao cristianismo não sejam as heresias em seu próprio contexto, mas a sedução do mundo que faz com que muitos cristãos, assim como Demas, amem este século.

Quanto a isso, uma grande soma de especulações tem sido ventiladas sobre a razão desse fenômeno, alguns tem argumentado que isso é fruto de um fenômeno global chamado "secularização", outros culpam a fragilidade dos púlpitos em nossos dias e outros ainda a opção pelo obscurantismo de muitas igrejas, como o crescimento do desinteresse da teologia e outros fatores. Acho, particularmente, que todos estes problemas citados realmente contribuem para tão grande apostasia atualmente, mas ainda falta-se mensurar o fato de que todos nós somos inclinados ao pecado e consequentemente o mundo produz grande soma de atrativos quanto a este particular, que seduz e atrai a atenção de muitos cristãos.

Os púlpitos, ao tratarem do tema, devem tratar o assunto com a ênfase doutrinária que a situação merece e não tentar mascarar a doença, oferecendo paliativos ao invés de tratar a infecção. Deve-se ainda enfatizar o fato de que somos pecadores inclinados ao mal moral. Acho que boa parte desses púlpitos estão influenciados por uma visão deficiente sobre os efeitos do pecado, além também de refletir ideologias psiquiátricas e sociológicas sobre o mal moral. Com isso, certamente, sofre a nossa concepção sobre o mal e pouco se pode combater quando o diagnóstico é deficiente.

Estes mesmos púlpitos parecem perder a prática de denúncia ao pecado. Uma pregação existencialista e reprimida não poderá alertar ao povo sobre o perigo dos andares superiores do prédio estarem incendiando, enquanto o térreo parece nada sofrer. Aqueles que estão no térreo precisam ser avisados, não com sussurros ou palavras sem preocupação, mas com gritos e clareza no falar. Muitos precisam ser avisados quanto ao perigo, não podemos nos esquecer que os pastores são profetas do Senhor, ao exemplo de Ezequiel 2.5-7 "Assim diz o Senhor. Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta. Tu, o Filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras, ainda que hajam sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles, porque são casa rebelde. Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam, quer deixem de ouvir, pois são rebeldes".

O problema é que os púlpitos deixaram de ter esta características. Quanto aos escândalos, eles são inevitáveis, mais ai daqueles por onde eles chegarem (Lucas 17.1). Muitos Demas, estão destinados a aparecerem nas igrejas, quanto a isso não podemos evitar. Mas podemos alertar a igreja de Cristo quanto ao perigo que correm todos aqueles que mantiveram uma relação de amor com este mundo. Lembremos as palavras ditas pelo Senhor: "Não peço que os tires do mundo, e sim que os guarde do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou". (João 17.15-16). Todo aquele que quiser fazer a vontade de Deus quanto a este particular deve aproveitar a ênfase positiva que Paulo oferece a Tito (2.12), não precisamos ser inimigos do mundo, apenas precisamos nos acautelar dos seus atrativos, sabendo exatamente o que somos em Cristo.

Rogamos a Deus que os púlpitos sejam outra vez o lugar de alerta para o povo de Deus e não o lugar onde os egos são massageados para não se perder membros ou o status quo de muitos líderes hoje em dia. 

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