segunda-feira, 29 de julho de 2013

O alvoroço das turbas e a tranquilidade de Deus


Considero esse salmo o mais belo da Bíblia. Ele é uma fonte de conforto para a igreja de Cristo. Mostra-nos quanto o Deus que servimos se posiciona favoravelmente em nosso favor. Lutero compôs seu mais famoso hino, Castelo Forte (nº155 HNC), tendo esse salmo como inspiração. De fato, ele, costumava dizer em meio as perseguições “Venham, vamos cantar o Salmo 46”.

Esse salmo é da composição dos filhos de Corá, grupo de homens inspirados que compuseram belíssimos hinos de louvor a Deus. Alguns estudiosos como Calvino veem a ocasião desse salmo quando da vitória do povo de Deus sobre Senaqueribe (2 Rs 19.35-37), outros são de opinião (Rosenmüller) que se trata da vitória de Josafá sobre Moabe e Amom em 2 Cr 20.26-30). Mas isso não importa tanto, pois o que nos interessa é o ensino espiritual que dele recebemos.

Nessa noite convido-os a pensarem comigo sobre como Deus é vitorioso sobre seus inimigos e como nós que somos crentes, somos instigados a confiar apenas nele sob qualquer adversidade. Para tanto sugiro a reflexão baseada no seguinte título: “O alvoroço das turbas e a tranquilidade de Deus”. Justifico o título, baseado no que o salmo nos apresenta, conforme é o procedimento dos pagãos e gentios, frente à igreja e contra o propósito de Deus. Eles são impelidos ao ódio, mas Deus transforma esse ódio em exaltação ao Seu nome. Vejamos como Deus age frente aos opositores e nos conforta em meio à luta:

Deus fortalece aqueles que nEle confiam (vv.1-4)
O Deus que servimos (v.1) – Já na introdução o salmista nos revela o caráter grandemente misericordioso de Deus. Ele usa diferentes palavras para exprimir que Deus, para os crentes é fortaleza e refúgio. Isso nos lembra das cidades de refúgio do A.T. (Nm 35), estabelecidas para aqueles que eram perseguidos injustamente. Ele é nosso socorro. Quando todos nos espreitam a fim de nos alcançar, nosso Deus nos socorre. E por último, Ele é presente na tribulação. As pessoas geralmente fogem de nós nesses momentos, mas não o nosso Deus, pois é justamente nessa hora que Ele se agrada em nos socorrer.
Um temor injustificável, pois temos um grande Deus (v.2) – Os crentes verdadeiros não ficam espavorecidos. Eles confiam no seu Deus. Aqui o salmista fala como aquele que já experimentou tal graça. É a partir desse conhecimento prévio que vemos que Deus tem um amor eletivo por Sua igreja, a ponto de protegê-la mesmo que o mundo inteiro se levante.
Os poderes contrários (v.3) – Esse verso precisa ser visto juntamente com a última metade do anterior. Alguns veem nesses versos 2 e 3 a fúria dos inimigos da igreja. É usada essa metáfora para demonstrar que mesmo que terra e mar sejam alcançados por essa cólera, Deus, no entanto, está inabalável, assim como aqueles que são amados por Ele.
Um rio que alegra a cidade de Deus (v.4) – Calvino vê nesse texto um paralelo com Isaías 8.6, onde Jerusalém tinha um pequeno ribeiro chamado Siloé (Shiloah), que na ocasião era desprezado pelo povo de Israel. Esse rio, em seu leito calmo e brando, demonstra a maneira como Deus não se comove com o ruído das turbas, mas que age apenas em Seu tempo devido.

Deus milita por Seu povo desde a antemanhã, triunfando sobre os inimigos (vv.5-9).
Deus está em Sua cidade (v.5) – É claro que esse texto quer dar a entender que Deus não fugiu covardemente da defesa do Seu povo. Aqui vemos que Ele permanece em meio à luta. A luta de Seu povo é a Sua luta. A guerra que travamos tem plena assistência divina e nunca sucumbirá, pois o próprio Deus está envolvido na peleja. A linguagem “antemanhã” é uma linguagem militar para dar uma noção dos turnos dos guardas durante a madrugada. Deus estaria então, firmemente preparado para os ataques feitos no romper da alva.
As oposições destroçadas por Deus (v.6) – Dois fatos importantes são mencionados aqui; primeiro somos informados que os inimigos da igreja parecem abalar nações e reinos. Eles são poderosos e conseguem grandes conquistas, mas que, em segundo lugar, eles não podem prevalecer diante daquele que faz ouvir a Sua voz e a terra se dissolve. Deus mesmo destruirá forças opositoras.
A condição de Deus em relação ao povo (v.7) – Duas atribuições divinas são mencionadas aqui. a) O Senhor dos Exércitos – Essa expressão dá conta da natureza conquistadora do nosso Deus, Ele é um Deus da paz, mas quando Seu nome e sua glória estão envolvidos, Ele é o Senhor dos exércitos. b) Deus de Jacó – Aqui Ele se identifica pactualmente com Seu povo, ao se lembrar do pacto Abraâmico, Deus se identifica com Sua prole eleita, povo que lhe pertence. Ele, Deus está no meio desse povo.
As assolações de Deus (v.8) – O salmista nos remete ao tempo futuro, depois do triunfo de Deus, Ele já não é mais o Deus afrontado, mas o Deus vitorioso, que assola seus inimigos em toda a terra.
O resultado da vitória divina (v.9) – Ainda contemplando esse estado futuro, vemos o resultado da ira divina, vemos o fim da guerra, arcos e lanças quebrados e carros no fogo. Acabou o folguedo dos opositores. O alarido de guerra deu lugar ao silêncio decrépito e mortal dos arraiais inimigos. Assim Deus efetua sua vitória.

Deus aquieta o coração da Igreja apesar da oposição contrária (vv.10-11). Finalmente concluímos esse texto com as seguintes considerações:
Devemos ficar quietos, pois Deus ainda é Deus (v.10) – Quando estamos nas maiores lutas de nossas vidas talvez pensemos em nos desesperar. É comum nossa agitação. Mas esse salmo nos compele a aquietar. Não em resposta ao medo, mas em confiança ao Deus que servimos. Ele lutará a peleja, Ele porá fim à guerra.
Deus está no nosso meio (v.11) – Novamente somos lembrados de que Deus é um Deus de guerra, bem como um Deus que se lembra do compromisso pactual com Seu povo, mas com um acréscimo, Ele está conosco e é o nosso refúgio.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

TEOLOGIA DO PACTO – THOMAS MONTGOMERY

Introdução – Pacto de obras e de Graça

A palavra pacto aparece 275 vezes na Bíblia. Significado do termo grego utilizado – Convênio, acordo, aliança, tratado, dividir ou cortar, segundo o A.T.

Definição segundo Berkhof: “Um pacto é um tratado entre duas partes”. Charles Hodge: “Um pacto é simplesmente uma promessa que depende de uma condição”.

“Pacto é imposto de forma unilateral”. O pacto sempre é feito através de um Mediador.

Os elementos do pacto:

Arthur W. Pink: 1) As partes contratantes; 2) Uma condição estabelecida; 3) Uma pena ou castigo; 4) Uma recompensa; 5) Selo (interior ou externo).

Um pacto pode ser condicional ou incondicional desde a perspectiva do homem. Cristo é o fiador do pacto.

O PACTO DE OBRAS

É estabelecido entre Adão e Deus (Gen. Cap. 2 e 3). Os elementos do pacto estão presentes no texto. Adão transgrediu o pacto (Os. 6.7). O mandamento era para vida (Rm. 7.6). A condição estipulada era a obediência perfeita (Tg. 2). O castigo do pacto – A morte. No sentido amplo e possível significa separação (morte espiritual). Ocorreu no momento que Adão violou o pacto. O selo – A árvore da vida. Simboliza a vida eterna (Ap. 22.2). Todos os crentes terão direito aos frutos da árvore.

Adão o cabeça federal da raça humana (Rm.5.17).
Todos morrem em Adão (1 Co. 15.22).

Alguns paralelos entre Adão e Cristo (Rm.5)
1)   Adão entrou no mundo de uma forma única, como cabeça federal, assim como Cristo;
2)   Ambos possuíam uma natureza santa;
3)   A esposa de Adão foi tirada da costela, assim como a igreja pertence ao próprio Cristo;
4)   Adão no foi enganado, mas a mulher. Adão na queda se motivou pelo amor, assim como Cristo em Sua obediência, moveu-se em favor da igreja;
5)   Adão sofreu a maldição do pacto (lei), Cristo se identifica com a esposa (igreja), sujeitando-se a Lei.
6)   Adão é o cabeça da queda, Cristo o cabeça dos redimidos;
7)   Adão imputou a morte aos descendentes, ele representava a morte do seu povo, Cristo imputa a justiça e representa a vida do Seu povo.

PACTO DE GRAÇA OU REDENÇÃO
É obra das pessoas da Trindade, antes da fundação do mundo. Deus escolhe, Cristo salva e redime seu povo e o Espírito se compromete com o dom do arrependimento, a fé e preserva a todos os crentes.

Textos relativos a esse pacto:
Sl. 25; Gl. 3; Hb. 13.20; Ef. 3.11; Ef. 1.3-4; 2 Tm. 1.9; Tt.1.2; Ap.13.8. Jo cap.17.

Características do pacto

I-            Um pacto de graça – Uma demonstração da graça de Deus. 1) Deus proporciona um fiador para que Ele cumpra as obrigações do pacto; 2) Deus determina aqueles a quem serão outorgados o pacto; 4) Todas as bênçãos são concedidas gratuitamente, sem mérito algum; 5) Deus reina de forma soberana vencendo inimigos e obstáculos, logrando êxito em Seus propósitos predeterminados; 6) Este pacto está baseado nos méritos perfeitos de Jesus Cristo; 7) O Novo Testamento afirma que esse pacto é administrado desde um trono de graça.
II-          Um pacto Trinitário – O Pai origina, o Filho executa, o Espírito é o administrador (Ef. 1.6-7).
III-        Trata-se de um pacto eterno (Hb.13.20).
IV-        Um pacto particular, pois não é universal. Só aqueles que são de Cristo tem parte nesse pacto.
V-          O pacto é incondicional. Cristo cumpre as condições desse pacto por Seu povo.

Argumentos sobre Cristo ser o Fiador do pacto.

Fiador – Alguém que se compromete com as obrigações legais de outro. Garante que elas se cumpram. Assim, Ele expia os pecados e concede suas virtudes ao Seu povo. Cristo se compromete em cumprir o acordo. Não existem contradições naquilo que é relativo a vontade de Deus Pai e de Cristo. A morte de Cristo foi um ato voluntário (Jo 17.4; Lc. 22.29; Sl 89.3-4; Hb. 12.2.

Obrigações de Cristo no pacto.

1)   Devia ser homem – Filho de mulher e ter um corpo humano;
2)   Ter uma vida de obediência ao Pai – Servo obediente até a morte. Uma vida subordinada (Sl. 89). Enquanto homem (Ef. 2.6-11).
3)   Dependência do Espírito Santo (Is. 42.1 e 61.1). Ele recebeu do Espírito, poder de forma única. Garantia de êxito em sentido amplo (Gálatas 4.4). Como fiador do pacto Cristo esteve sujeito ao tempo. Ele deveria nos redimir da Lei, nos fazendo Seus filhos. Cristo se comprometeu a cumprir o pacto, tanto pela vida, como pela morte.
4)   As promessas feitas a Cristo em razão de ser Fiador. A) Por sua obediência Ele vence a morte, obtendo vitória sobre o pecado e o diabo; b) O Pai, como recompensa, lhe dá uma semente numerosa. Essa semente recebe vida eterna e Ele atrai todos a Si. C) Essa semente proclamaria Seu nome ao mundo; d) Eles, a semente, recebem os dons e capacidades derivados de Cristo (Ef. 4.8).  



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Considerações sobre a Jornada Mundial da Juventude

A Jornada Mundial da Juventude, evento que é uma espécie de encontro mundial de jovens católicos idealizada pelo papa João Paulo II no ano de 1984 é um evento que busca mobilizar católicos do mundo inteiro em um encontro que tem como foco especial alcançar primeiramente os jovens e fomentar o interesse espiritual dos mesmos nos temas que a igreja católica julga importante. O evento acontece em uma cidade escolhida especificamente para esse fim no período de dois ou três anos de uma jornada para outra. Não estranhamente, devido aos grandes eventos que serão realizados no país e a consequente exposição a presente jornada aporta em terras brasileiras, levantando uma série de questionamentos sobre a condição do catolicismo em nossa nação.

É fato comprovado que o declínio católico romano desperta muito grandemente, uma espécie de preocupação, uma vez que a maior nação católica do mundo (aproximadamente 123 milhões) está cada dia mais se tornando evangélica e muito se discute se incluir o Brasil em uma espécie de prioridade para Sé romana não tem como objetivo frear o crescimento evangélico no país. Entendo que cabem algumas considerações aqui sobre a questão, são elas:

O declínio católico
Pesquisas recentes demonstram que a população católica romana no Brasil está envelhecendo. Dentre os mais religiosos desse segmento a grande maioria está acima dos 30 anos e os jovens não demonstram atenção considerável a fé de seus pais ou avós. Esse declínio chama atenção para o segmento protestante ou evangélico, que na contramão do catolicismo, tem números expressivos nessa faixa etária, dando a entender que os jovens não buscam na religião uma ligação familiar, mas por iniciativa própria, buscam seu próprio caminho espiritual, muitas vezes encontrado nas diversas denominações evangélicas.

Especialistas projetam para os próximos 20 anos uma profunda aproximação dos evangélicos em relação aos católicos, uma vez que o crescimento deste setor cresce em taxas superiores aos índices populacionais do nosso país. Em pouco menos de 40 anos a população evangélica passou de 5,2% para 22,2%.

Alguns estudiosos tentam explicar esse declínio apontando para uma igreja mais clerical e formal que fez com que muitos abandonassem suas fileiras e buscassem uma religião menos formal e mais próxima, encontrando nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais essas características. Em minha opinião essa argumentação não é totalmente sustentável. Não penso que esse seja o fator predominante. Desde o início da Reforma o catolicismo conseguiu se mantiver em alguns países europeus graças aos jesuítas, naquilo que foi conhecido como “contra reforma”, bem como por meio de tribunais denominados de “santa inquisição”, onde o movimento reformado foi aniquilado graças ao uso da força e da perseguição que culminou na morte de muitos protestantes em países católicos. Logo, entendo que o catolicismo, com sua doutrina, que favorece um cristianismo mais místico é mais efetivo em nações com menores condições de desenvolverem um amplo debate sistemático sobre a religião. O Brasil por muitos anos esteve nesta condição, sendo em seu maior período de história, defendido a exclusividade do catolicismo como religião oficial e conforme, gradativamente, obteve derrotas políticas importantes, desde a proclamação da República, tal condição tornou-se desfavorável.

A questão proselitista
O catolicismo nos países que foram influenciados pela Reforma nunca conseguiu se reestruturar, mesmo que recentemente com o movimento ecumênico encabeçado pelos católicos tenham tentado reverter essa condição. Não existem êxodos em massa de países que se transformaram protestantes para a condição católica romana. A não ser em condições especiais como o crescimento da comunidade hispânica nos EUA, sendo que esse crescimento não atingiu os americanos nativos. O contrário, porém é constatado historicamente. Todos os países que hoje são protestantes já foram outrora católicos.  E em nenhum deles houve algum tipo de movimento que fosse bem sucedido em arrancar os evangélicos da sua fé e trouxessem de volta ao catolicismo. Fica então, muito difícil pensar que movimentos como a jornada mundial da juventude possa contribuir com uma “recatolização” do Brasil.

A conduta do papa em ralação às seitas neo-pentecostais
O papa tem surpreendido muitos pregando uma igreja mais pobre e perto do povo, buscando obscurecer um passado católico sempre ligado à ostentação e a ideia da cidade de Deus entre os homens, ideal defendido por Santo Agostinho em uma de suas mais famosas obras. Porém, é inegável que mesmo que essa postura difira diametralmente da pregação da prosperidade, defendida por pastores mediáticos, isso não será, por assim dizer, um fator que faça o papa mais popular do que os pastores em questão. Os fatores econômicos que o Brasil presencia podem do ponto de vista cosmológico, favorecer mais os pastores do que a pregação de pobreza do papa. A condição social da nova classe média brasileira o faz desejar bens de consumo que ainda não possuem como casas e carros. Para o papa é fácil falar de pobreza e ainda sentar em tronos de ouro, mas experimenta dizer a um operário que viaja longos períodos de tempo, de sua casa para o trabalho em coletivo lotado, que ele não deve desejar um carro. Os pregadores da prosperidade afinaram seu discurso às pretensões dessa nova classe média é por isso que eles chamam mais atenção do que o papa.

Conclusão
Entendo finalmente que o fenômeno religioso brasileiro é irreversível. É possível que o catolicismo consiga sobreviver nos próximos anos, mas entendo que essa sobrevivência será mais uma subsistência do quê uma condição favorável. O cristianismo evangélico é mais adaptável do que o catolicismo. As diversas posturas centralizadas do catolicismo historicamente não conseguiram prevalecer quando foram desafiadas, coisa essa que é completamente distinta entre os evangélicos, por contarem com instituições mais próximas do povo, com estruturas mais leigas na manutenção instituição, faz do evangelicalismo um segmento mais resistente do que o catolicismo. Termino dizendo que o citado evento (JMJ) contribuirá apenas para demonstrar a condição espiritual que esse país se encaminha, não reverterá o quadro, mas realçará aquilo que inevitavelmente acontecerá em nossa terra, uma nação mais evangélica e bem menos católica.