sexta-feira, 19 de julho de 2013

Considerações sobre a Jornada Mundial da Juventude

A Jornada Mundial da Juventude, evento que é uma espécie de encontro mundial de jovens católicos idealizada pelo papa João Paulo II no ano de 1984 é um evento que busca mobilizar católicos do mundo inteiro em um encontro que tem como foco especial alcançar primeiramente os jovens e fomentar o interesse espiritual dos mesmos nos temas que a igreja católica julga importante. O evento acontece em uma cidade escolhida especificamente para esse fim no período de dois ou três anos de uma jornada para outra. Não estranhamente, devido aos grandes eventos que serão realizados no país e a consequente exposição a presente jornada aporta em terras brasileiras, levantando uma série de questionamentos sobre a condição do catolicismo em nossa nação.

É fato comprovado que o declínio católico romano desperta muito grandemente, uma espécie de preocupação, uma vez que a maior nação católica do mundo (aproximadamente 123 milhões) está cada dia mais se tornando evangélica e muito se discute se incluir o Brasil em uma espécie de prioridade para Sé romana não tem como objetivo frear o crescimento evangélico no país. Entendo que cabem algumas considerações aqui sobre a questão, são elas:

O declínio católico
Pesquisas recentes demonstram que a população católica romana no Brasil está envelhecendo. Dentre os mais religiosos desse segmento a grande maioria está acima dos 30 anos e os jovens não demonstram atenção considerável a fé de seus pais ou avós. Esse declínio chama atenção para o segmento protestante ou evangélico, que na contramão do catolicismo, tem números expressivos nessa faixa etária, dando a entender que os jovens não buscam na religião uma ligação familiar, mas por iniciativa própria, buscam seu próprio caminho espiritual, muitas vezes encontrado nas diversas denominações evangélicas.

Especialistas projetam para os próximos 20 anos uma profunda aproximação dos evangélicos em relação aos católicos, uma vez que o crescimento deste setor cresce em taxas superiores aos índices populacionais do nosso país. Em pouco menos de 40 anos a população evangélica passou de 5,2% para 22,2%.

Alguns estudiosos tentam explicar esse declínio apontando para uma igreja mais clerical e formal que fez com que muitos abandonassem suas fileiras e buscassem uma religião menos formal e mais próxima, encontrando nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais essas características. Em minha opinião essa argumentação não é totalmente sustentável. Não penso que esse seja o fator predominante. Desde o início da Reforma o catolicismo conseguiu se mantiver em alguns países europeus graças aos jesuítas, naquilo que foi conhecido como “contra reforma”, bem como por meio de tribunais denominados de “santa inquisição”, onde o movimento reformado foi aniquilado graças ao uso da força e da perseguição que culminou na morte de muitos protestantes em países católicos. Logo, entendo que o catolicismo, com sua doutrina, que favorece um cristianismo mais místico é mais efetivo em nações com menores condições de desenvolverem um amplo debate sistemático sobre a religião. O Brasil por muitos anos esteve nesta condição, sendo em seu maior período de história, defendido a exclusividade do catolicismo como religião oficial e conforme, gradativamente, obteve derrotas políticas importantes, desde a proclamação da República, tal condição tornou-se desfavorável.

A questão proselitista
O catolicismo nos países que foram influenciados pela Reforma nunca conseguiu se reestruturar, mesmo que recentemente com o movimento ecumênico encabeçado pelos católicos tenham tentado reverter essa condição. Não existem êxodos em massa de países que se transformaram protestantes para a condição católica romana. A não ser em condições especiais como o crescimento da comunidade hispânica nos EUA, sendo que esse crescimento não atingiu os americanos nativos. O contrário, porém é constatado historicamente. Todos os países que hoje são protestantes já foram outrora católicos.  E em nenhum deles houve algum tipo de movimento que fosse bem sucedido em arrancar os evangélicos da sua fé e trouxessem de volta ao catolicismo. Fica então, muito difícil pensar que movimentos como a jornada mundial da juventude possa contribuir com uma “recatolização” do Brasil.

A conduta do papa em ralação às seitas neo-pentecostais
O papa tem surpreendido muitos pregando uma igreja mais pobre e perto do povo, buscando obscurecer um passado católico sempre ligado à ostentação e a ideia da cidade de Deus entre os homens, ideal defendido por Santo Agostinho em uma de suas mais famosas obras. Porém, é inegável que mesmo que essa postura difira diametralmente da pregação da prosperidade, defendida por pastores mediáticos, isso não será, por assim dizer, um fator que faça o papa mais popular do que os pastores em questão. Os fatores econômicos que o Brasil presencia podem do ponto de vista cosmológico, favorecer mais os pastores do que a pregação de pobreza do papa. A condição social da nova classe média brasileira o faz desejar bens de consumo que ainda não possuem como casas e carros. Para o papa é fácil falar de pobreza e ainda sentar em tronos de ouro, mas experimenta dizer a um operário que viaja longos períodos de tempo, de sua casa para o trabalho em coletivo lotado, que ele não deve desejar um carro. Os pregadores da prosperidade afinaram seu discurso às pretensões dessa nova classe média é por isso que eles chamam mais atenção do que o papa.

Conclusão
Entendo finalmente que o fenômeno religioso brasileiro é irreversível. É possível que o catolicismo consiga sobreviver nos próximos anos, mas entendo que essa sobrevivência será mais uma subsistência do quê uma condição favorável. O cristianismo evangélico é mais adaptável do que o catolicismo. As diversas posturas centralizadas do catolicismo historicamente não conseguiram prevalecer quando foram desafiadas, coisa essa que é completamente distinta entre os evangélicos, por contarem com instituições mais próximas do povo, com estruturas mais leigas na manutenção instituição, faz do evangelicalismo um segmento mais resistente do que o catolicismo. Termino dizendo que o citado evento (JMJ) contribuirá apenas para demonstrar a condição espiritual que esse país se encaminha, não reverterá o quadro, mas realçará aquilo que inevitavelmente acontecerá em nossa terra, uma nação mais evangélica e bem menos católica.





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