domingo, 1 de junho de 2014

O triunfo do Espírito sobre a carne, nosso maior objetivo

GÁLATAS 5.16-26

Nessa parte final da carta de Paulo à região da Galácia, temos talvez o grande embate existente na vida do crente, o fato dele ser santo e ainda conviver com o pecado. Algumas pessoas acharão esse discurso contraditório, pois ou enfatizam em demasia as fraquezas ou enfatizam as virtudes. O crente não é alguém livre de embates ou lutas, mas alguém que dia a dia deve se renovar em Cristo em uma luta constante e aberta contra o pecado.

Na parte anterior do argumento paulino (5.1-9), ele se empenhou em demonstrar como estar em Cristo era diferente de estar na Lei. Isso aconteceu em razão de terem se infiltrado nessa igreja certos homens que pregavam à sujeição dos novos convertidos as práticas judaicas. Esses homens eram chamados de judaizantes. Conversos ao cristianismo, mas que negavam à liberdade do Evangelho. Foi com esses homens que Paulo lutou durante boa parte de sua vida.

A circuncisão proposta pelos judaizantes era sintomaticamente contrária à liberdade em Cristo. Paulo defende fortemente aqui a fé em Deus como única justificação do pecador (5.6), logo era necessário apenas crer em Deus para que fossemos justificados e não a prática de ritos externos, obsoletos pela plenitude do Evangelho.

Nos versos 13-15, vemos uma exortação apostólica no intuito de impedir que a igreja seja um lugar de discórdia e desavenças. Ele ratifica o conceito de que o amor é o vínculo da perfeição e que devemos nos amar uns aos outros como nos amamos.

O texto em questão é o remédio para não termos tais tensões na igreja de Cristo. A confrontação do dualismo existente entre a carne e o espírito é aqui exposta claramente. Um estilo de vida carnal favorece as tensões na igreja, enquanto que tendo frutos espirituais, solucionaremos os problemas de uns para com os outros e o nome do Senhor será glorificado.

Para que compreendamos melhor esse assunto sugiro um tema para a nossa meditação: “O triunfo do Espírito sobre a carne, nosso maior objetivo”.

É certo que ainda hoje necessitamos desses conselhos. Faremos bem a igreja e a nós mesmos se pudermos por em prática o remédio proposto por Paulo aqui, por essa razão, convido os irmãos a considerarem o seguinte caminho para triunfarmos contra a carne em uma luta constante e espiritual:

O triunfo sobre a carne envolve a mitigação do alimento carnal (vv.16-18). Uma prática comum nas batalhas dos exércitos antigos era impedir a chegada de suprimentos para abastecer as tropas adversárias. Paulo parece aqui nos indicar o mesmo caminho, vejamos sua orientação:

Jamais satisfazer a carne (v.16) – A recomendação apostólica para impedir o progresso da carne é mitigar o desenvolvimento desta, impedindo sua alimentação. A palavra “jamais”, nos faz compreender a seriedade disso tudo.

Estamos em guerra (v.17) – A imagem de um cristianismo pacífico certamente não é bíblica. Internamente no crente existe uma guerra. A carne (velho homem) e o Espírito (novo homem) são opostos ou rivais. Nenhum acordo de paz será feito enquanto um não prevalecer contra o outro.

   Uma consoladora garantia (v.18) – A lei é antagônica desse embate, pois, decreta os transgressores injustos perante Deus. Sob o Evangelho somos perdoados, mesmo sendo imperfeitos, lutando contra o pecado. O Espírito é aquele que nos aperfeiçoa e nos conduz a uma situação espiritual aceitável perante Deus. Temos o Espirito como aliado, aleluia.

O triunfo sobre a carne envolve o conhecimento de suas obras (vv.19-21). Pensando ainda na analogia da guerra que falamos outrora, precisamos conhecer plenamente nosso inimigo se quisermos triunfar sobre ele. A questão é que esse inimigo é interno e nos conhece muito bem. Vejamos aqui a direção que nos fornece o apóstolo:

Obras da carne (v.19) – Paulo passa a enumerar 15 elementos ligados a carne que estaremos analisando um a um, conforme surgem no texto bíblico. Para fins didáticos os comentaristas como Ellicot, Hendriksen, listam os pecados da seguinte forma: 1) Pecados ligados à sensualidade; 2) Pecados ligados à superstição; 3) Pecados ligados ao temperamento; 4) Pecados ligados aos excessos.  
1)   Pecados ligados à sensualidade Prostituição (πορνεία), impureza (ἀκαθαρσία) e lascívia (ἀσέλγεια). Lembremo-nos que tais termos estavam sendo aplicados a aqueles que são crentes, logo tais pecados não estão longe de nosso meio.
2)   Pecados ligados à superstição – No verso 20 vemos dois pecados ligados ao falso culto, são eles: Idolatria (εἰδωλολατρία) e feitiçarias (φαρμακεία). Mesmo crentes, os gálatas ainda mantinham práticas reprovadas quanto ao culto.
3)   Pecados ligados ao temperamentoAinda no verso 20, parte b, temos os pecados ligados ao temperamento, são eles: Inimizades (ἔχθραι); Porfias ou contendas (ἔρις); Ciúmes (ζῆλος); Iras ou raiva (θυμοί); Discórdias (ἐριθεῖαι); Dissensões (διχοστασίαι); Facções ou heresias (αἱρέσεις). Paulo parece considerar mais espaço a esses pecados do que os outros, isso porque tem a ver com nossa ligação com Cristo na igreja com nossos irmãos.
4)   Pecados ligados aos excessos – No início do verso 21 temos o último pecado ligado ao temperamento que é a inveja (φθόνοι); A partir daqui temos aqueles que podemos cometer ao fazer uso exagerado de coisas lícitas, são eles: Bebedices (μέθαι); Glutonarias (κῶμοι); Coisas semelhantes a estas, algo como vício em esporte lazer ou qualquer outro tipo. Paulo termina a lista com uma severa advertência, tais práticas e praticantes “não herdarão o Reino de Deus”. 

O triunfo sobre a carne envolve a posse do fruto do Espírito (vv.22-23). Agora temos a responsabilidade de observar aquilo que um crente que se inclina para o Espírito participa. Vejamos a lista dos frutos do Espirito:
Amor – Expressa um caráter divino;
Alegria – Algo que não se pode fabricar humanamente;
Paz – Aquela que só Deus pode nos dar;
Longanimidade – O homem crente é alguém paciente;
Benignidade e bondade – Alguém bondoso e altruísta;
Fidelidade – Alguém digno de confiança;
Mansidão – Alguém de espírito manso e pacificador;
Domínio próprio – Um homem controlado e não influenciado pelas paixões.

Tais virtudes estão acima da Lei, pois são as virtudes excelentes que indicam uma genuína conversão.

O triunfo sobre a carne envolve a crucificação das paixões (vv.24-26). Finalizando, o efeito de termos uma vida vivida sob as influências dos frutos do Espírito nos levarão consequentemente ao triunfo sob aso paixões, que Paulo chama aqui de crucificação, vejamos isso mais de perto:

Os que são de Cristo (v.24) – Paulo parece aqui nos ensinar a discernir se somos ou não de Cristo usando um critério muito simples para isso, a autoanálise. Se somos de Cristo aprendemos a crucificar nossas paixões, deixando as obras da carne e nos revestindo de frutos dignos e espirituais.

Viver e andar no Espírito (v.25) – Paulo nos indica que uma vida espiritual é cercada por uma prática espiritual, ou seja, precisamos nos acostumar em ver tais frutos fazendo efeito em nossa natureza caída, subjugando a mesma e triunfando. Isso deve fazer parte de nós, deve nos acompanhar em todos os momentos.

Importantes conselhos finais (v.26) – Paulo parece terminar essa parte do argumento lembrando aquilo que havia enfatizado anteriormente, que devemos nos amar, não buscando nossa vanglória ou nos provocando na igreja, mas sendo aquilo que Deus espera de cada cristão genuinamente convertido. Que esse conselho nos ajude a caminha mutualmente.

É claro que o entendimento completo disso que foi dito aqui passa por uma profunda reflexão daquilo que temos feito enquanto cristãos. Os crentes gálatas tinham essa deficiência que a mesma de muitos hoje em dia. Não pensemos que estamos livres de nos envolver com as obras da carne. Essas palavras foram escritas para cristãos vivendo talvez na melhor época da igreja, porque hoje seria diferente?

Tenhamos cuidado em alimentar a carne. Ao fazermos isso estamos nutrindo nosso próprio inimigo, estamos militando no exército adversário e o fim disso é a nossa própria destruição.

Os frutos espirituais que precisamos são necessários para a nossa própria confirmação enquanto crentes, caso contrário, a inexistência deles nos mostrarão que não somos aquilo que dizemos que somos.


Clamemos ao Senhor nessa noite para que Ele nos faça combater tais instintos pecaminosos e que possamos nos revestir de frutos dignos de arrependimento, que realmente nos faça sermos o que pensamos que somos. Deus nos abençoe, amém.