quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A FUNÇÃO DO HOMEM NO PROPÓSITO REDENTIVO PRETENDIDO POR DEUS

Há algum tempo essa pergunta me atormenta? Tenho visto com muita frequência igrejas onde a maioria esmagadora de seus membros são mulheres e isso de alguma forma me anima, pois devemos louvar a Deus pelo forte ministério feminino, mas por outro lado fico bastante preocupado em não vermos números expressivos de homens na membresia da igreja como um todo.

É claro que ao abordar isso não quero propor nenhuma guerra entre os sexos, não é essa minha intenção. Mas se Deus tenciona salvar eletivamente uma grande quantidade de mulheres que supere em mais da metade o número de homens quem somos nós para questionarmos o Senhor? Mas percebo que o problema em questão não é tão fácil de ser resolvido e que a condição espiritual da igreja passa, a princípio, pela conversão de homens ao Senhor. Infelizmente isso não é o comum em nossos dias e alguns pontos precisam ser levantados se nós quisermos fortalecer nossas igrejas com a presença masculina bíblica e saudável. Chamo a sua atenção para algumas considerações:

A Bíblia e o papel do homem
A sociedade como nós conhecemos e que é a mesma que foi estabelecida por Deus em seu propósito original, foi criada de forma a colocar os dois sexos, homem e mulher em certo nível de igualdade, pois nossa matriz genética é composta de genes masculinos e femininos, logo os tais foram fundamentais para toda a humanidade de maneira matricial, não somente no que concerne à genética, mas também no que diz respeito à representatividade em questão, sendo os dois gêneros colocados na criação pelo Senhor de modo a mostrar a totalidade representativa tencionada pelo Criador. É óbvio que o propósito redentivo do Senhor para com os gêneros tencionou dar certa primazia ao homem no texto bíblico, isso foi refletido na própria formação cultural dos povos antigos, onde a participação masculina recebeu certo destaque em grande quantidade pela própria constituição genética do homem, que além de ir às guerras, sempre foi aquele que supre o lar e que por consequência está mais envolvido com grandes conquistas territoriais e de liderança. Porém a própria Escritura atribui ao homem um papel exponencial, quando o coloca como coroa da criação divina, que é completado plenamente com o surgimento da mulher. Mas desde o passado mais remoto vemos a primazia do homem na escolha divina para funções importantes no plano redentivo, como a escolha dos patriarcas Abrahão, Isaque e Jacó. Entre todos os herdeiros das tribos israelitas, que sem dúvida incluíam mulheres, apenas os homens receberam a primazia em seus clãs, nenhum patriarca era mulher. No período posterior, aquele que estabelece a história judaica como nação, a presença masculina também é importante, o libertador Moisés era homem, bem como seu sucessor Josué e, igualmente, os próprios juízes no período posterior, também. Apesar de haverem raríssimas exceções (Como no caso de Debora, da tribo de Efraim, que além de profetisa era também juíza. Jz 4.4). No período conhecido como profetismo o mesmo fato é constatado, apesar de haverem profetisas neste período a grande maioria eram homens (Ne 6.14 e Lc 2.36), assim como os reis no período monárquico. No Novo Testamento os doze apóstolos eram homens e apesar de haverem mulheres importantes no ministério de Jesus, elas não tinham nenhuma primazia na igreja, no sentido de liderança, não foram dados a elas cargos como apóstolas, bispas, presbíteras ou diaconisas. Esses cargos são relativamente novos na história da igreja e fazem parte das conquistas recentes do movimento feminino, apenas instituídos recentemente em igrejas onde prevalece uma teologia liberal. Organicamente e originariamente não havia essa liderança estabelecida nas Escrituras, isso não faz da mulher desnecessária, mas apenas corrobora o entendimento que o ministério na igreja de Cristo é um ministério masculino qualificado.

A conversão do homem ao ministério da igreja
O ministério masculino faz parte então, como já demonstrado anteriormente, do propósito divino para toda humanidade e mais especificamente para a liderança do Seu povo redimido, a igreja. Não estou pregando aqui uma espécie de particularismo machista, mas algo baseado naquilo que encontramos na Revelação e que diz respeito ao propósito redentivo pretendido pelo Senhor. Alguém pode perguntar: “Se faz parte do propósito redentivo do Senhor, então qual é a razão para tal questão não acontecer a contento, uma vez que já demonstramos aqui que existe um desequilíbrio numérico em nossas igrejas quanto ao número de membros masculinos?” Quanto a isso creio que devemos pensar em uma abordagem evangelística que primeiro esteja dentro dos padrões escriturísticos e isso deve ser algo fundamentalmente teológico, ou seja, deve haver uma inclinação a se buscar respostas que partam, antes de qualquer coisa, da Bíblia. Esse entendimento deve realçar a função do homem no processo redentivo, na igreja, família, trabalho e Estado. É a partir de uma conclusão centrada na Bíblia que identificaremos os problemas existentes em nossa abordagem e a maneira como produzimos, segundo a vontade de Deus, homens que possam servir de parâmetro para influenciar outros homens a verem a igreja não como algo que pertence às mulheres, mas que eles mesmos estejam engajados a encorajar outros homens neste particular.

Outra questão é o entendimento de que algo precisa ser feito no sentido de nos fazer mais atuantes em questões que o homem secular se preocupa. Quanto a isso preciso ser bem específico para não ser mal entendido aqui. Não estou defendendo que deveríamos, enquanto homens crentes, termos abordagens parecidas com aquelas demandas pretendidas pelo homem sem Deus, mas que existam sempre e de forma embasada nos princípios que estabelecemos acima, uma preocupação em suprir as principais intenções do pensamento masculino, mas com toda a complexidade da cosmovisão bíblica, ou seja, se vamos procurar falar de companheirismo precisamos ter uma preocupação de suscitar isso dentro do contexto da irmandade cristã, se falamos de lazer, pensarmos dentro da mesma perspectiva e dai por diante. Não que seja necessária uma substituição “sacralizada” do estilo de vida do homem sem Deus, mas que a igreja promova um ambiente que procure alcançar homens que encontraram na igreja uma perspectiva para desenvolver suas responsabilidades masculinas e que possa leva-los a outra que seja inteiramente focada numa teologia que busque esclarecer as principais temáticas suscitadas pelo homem. Acredito que a Bíblia tem muito a nos ensinar sobre isso. Creio que as conquistas do movimento feminino acabaram minando esse desenvolvimento em nosso meio. As igrejas, mais do que qualquer outro setor, estiveram vulneráveis às propostas do movimento feminino, isso aconteceu em grande medida em razão de termos uma teologia pouco sólida a esse respeito. Alguns setores não estavam prontos naquela época e não estão prontos hoje também. É o caso da igreja católica romana, que em sua abordagem a esse assunto se manteve longe de resolver a questão, em grande medida pela sua pouca influência nesse setor, uma vez que no caso específico da igreja romana, suas defesas do celibato dos padres e outras tantas questões como a pedofilia entre seus clérigos, sem dúvida os afastaram dessa questão da masculinidade.

Os protestantes por sua vez, tem um ambiente favorável para esse empreendimento. Temos condições não somente de desenvolver um ambiente teológico seguro, como também de proporcionar que tais doutrinas sejam exclusivamente amparadas em nossa confecionalidade, quanto aos nossos símbolos de fé e quanto nossas convicções da inerrância e infalibilidade bíblica.

O ministério masculino e os benefícios para a igreja e sociedade
Estamos experimentando dias difíceis para nossas concepções escriturísticas quanto ao papel do homem no mundo atual. As conquistas feministas foram um duro golpe à igreja, principalmente porque não houve uma salvaguarda e uma preparação adequada para isso no passado. Hoje em dia vemos o crescimento dos setores envolvidos nas reivindicações de grupos homossexuais, isso parece solapar a esperança, uma vez que prega um mundo desprovido de “pré-conceitos machistas” e enquanto isso empreende uma campanha no sentido de fazer com que o homem seja uma espécie de andrógeno, efeminado ou algo assim. Muitas pessoas de “mente aberta” já estão chafurdadas nesse argumento e pensam num homem no estilo metrossexual, um homem com forte preocupação estética e alvo fácil para os conglomerados de produtos estéticos que buscam justamente a perca da masculinidade, o que faria dessas empresas, que já lucram quantias exorbitantes com as mulheres, lucrarem também com os homens. Veja aqui que eu não estou defendendo que o homem não possa ser higiênico e preocupado com sua saúde, mas que é do interesse desses setores que o homem esteja sendo visto como público alvo de suas campanhas publicitarias, o que lhes renderão grandiosas quantias e inúmeros dividendos.

Ao se reafirmar o papel do homem no propósito redentivo, estaremos colocando a ênfase que Deus coloca sobre a espécie masculina. Dentro dessa perspectiva estaremos viabilizando o crescimento em nosso meio de uma liderança masculina qualificada, fazendo que nossos ofícios sejam supridos quanto a esse particular. Consequentemente as famílias estarão também sendo influenciadas, pois o próprio homem, uma vez ensinado sobre a importância da masculinidade bíblica, estará participando ativamente do prolongamento dessa perspectiva na criação que ele transmitirá a seus filhos. Haverá também a entrada desses conceitos dentro da nossa sociedade onde a mesma estará tendo um ponto de apoio para o impedimento de ideias feministas e homossexuais, uma vez que esse conceito se tornando mais conhecido e não sendo tão somente algo para rivalizar a temática pretendida hodiernamente, será algo fundamentalmente estabelecido logica e teologicamente. As consequências quanto a isso são ilimitadas. Haverá repercussão em todos os setores sociais, desde a família ao Estado, com influências sobre as leis e sobre as futuras gerações de homens.

Conclusão
É claro que ainda estamos no início desse debate. Vários teólogos em nosso país e fora estão comprometidos a fazerem uma exegese bíblica da função do homem no plano redentivo. Os avanços quanto a este particular ainda são incipientes, mas sem dúvida o debate se prolongará fortemente e conseguirá avanços notáveis. Não tenho dúvida de que podemos evitar que nossa sociedade seja tragada desse empreendimento maligno que busca destruir a imagem da masculinidade pretendida por Deus em Sua vontade revelada.



Mesmo que ainda sejamos taxados de machistas e retrógrados não devemos temer aos desafios que se nos apresentam. Precisamos focar nossa pesquisa nesse tão necessário ministério, fazer com que nossas comunidades locais tenham também desenvolvido esse debate, que conferências sobre esse tema possam irromper-se em todo país e mais e mais estejamos orientados. Urge tal necessidade, por isso faz-se necessário abordarmos assuntos como esses. Que Deus continue a despertar outros estudiosos quanto a esse particular e que a igreja de Cristo seja fator de proclamação da função do homem para todo o mundo, essa é a nossa expectativa.

domingo, 24 de novembro de 2013

A igreja e Cristo


Efésios 1.15-23

Dois grandes assuntos estão sendo abordados por Paulo nessa pequena parte das Escrituras. Aqui vemos o apóstolo considerando a fidelidade da igreja de Éfeso, ao passo que menciona suas virtudes e serviços cristãos, bem como, adiciona a doutrina sobre Cristo, o Cabeça da igreja, aquele que com seu sangue conquistou um povo para si.

Hoje a noite veremos como essas duas doutrinas são preciosas para nós. A primeira nos ensinando a amar a igreja com o amor que o próprio Cristo amou e a segunda nos mostrando o significado da obra do Mediador, aquele que se sacrificou por esse povo, que lhe é mui amado.

Diante disso, proponho um título: “A igreja e Cristo”.

Observamos como, de maneira especial, o apóstolo continua a nos ensinar sobre essas doutrinas maravilhosas. Ele é hábil em nos conduzir a padrões elevados, de fato seu objetivo é nos levar a adoração, nos conduzir ao entendimento de que nada do que foi feito por Deus é desprezível ou desnecessário. Vejamos de que maneira podemos ser instruídos aqui:

I- O ensino de Paulo sobre a igreja (vv.15-19).
Não enfatizamos a igreja aqui por ordem de importância, isso é evidente, mas por causa da abordagem do apóstolo em sua ordem cronológica. Vejamos o que ele tem a nos dizer nesses versículos sobre a igreja:

A igreja é uma comunidade de amor (v.15) – A igreja não é meramente uma instituição. É claro que muitos desejariam que ela se ocupasse apenas dessas coisas, mas isso não é o objetivo do Senhor para ela. A igreja é vista como um lugar de auxílio mútuo, onde os cristãos não somente vivem uma relação social, mas se amam entre si. Paulo ouve que isso era comum em Éfeso e se alegra com essa notícia.

Uma igreja admirável (v.16) – Porque Paulo se refere de forma tão atenciosa a essa igreja? Porque tantos elogios? Essa igreja era admirável. Paulo ora em favor dela para que ela seja mantida nessa condição, exemplo para outros. Aqui também está em realce a função pastoral de oração pelos crentes.

Uma igreja Trinitária (v.17) – Aqui compartilho a ideia de Calvino e Hendriksen de que a palavra mencionada aqui como “Espírito” se refira ao Espírito Santo. Sendo assim, vemos a importância da igreja ter um relacionamento trinitário com o Senhor. Vemos a menção que o Pai do nosso Senhor Jesus é o “Pai da glória”, depois de vermos a filiação do próprio Jesus, e finalmente que o Espírito nos concede revelação e conhecimento. A igreja é uma comunidade trinitária.

A igreja precisa saber que é (v.18) – O apóstolo ora que o mesmo Espírito que revela e dá conhecimento é o mesmo que pode iluminar a igreja. Ele pode conduzir a igreja, a saber, questões importantes para sua vida. 1) A igreja precisa ser iluminada no coração; 2) Saber do seu chamamento; 3) E conhecer a riqueza de sua herança.

A igreja e o poder de Deus (v.19) – Finalizando, Paulo indica que existe muito poder em prol da igreja. O próprio TODO PODEROSO, está ao dispor desse povo. O poder despendido é segundo a eficácia da força do Seu poder, logo, essa igreja está segura e firme nas mãos daquele que pode todas as coisas.

II- O ensino de Paulo sobre Cristo (vv.20-23)
O poder que ressuscitou Cristo (v.20) – O mesmo poder que sustenta a igreja é o mesmo que ressuscitou Cristo. Aqui ele começa a nos fornecer informações sobre o Cabeça da igreja. Cristo está à destra de Deus em lugares celestiais. Essa é uma posição exaltada, que significa regência e primazia. Ao dizer que Cristo está à direita de Deus, ele nos ensina suprema importância da posição trinitária em referência a Cristo.

Mais da sua posição exaltada (v.21) – Quando ele diz que ele é acima de todo principado, potestade, poder e domínio, prefiro acompanhar Calvino quando diz que pouco se sabe sobre essas ordens. Que esses cargos possam se referir a seres angélicos isso é bem possível, mas tentar dizer o que uma ordem faz e a outra não, não é o nosso objetivo. Aqui simplesmente vemos Cristo acima de todos os anjos e isso nos basta. Em segundo lugar Ele é acima de todo nome, isso sem dúvida quer dizer qualquer nome. Não existe nenhum outro nome acima de Cristo (Atos 4.12).

Cristo acima de tudo e pertencente a igreja (v.22) – Outra posição exaltada aqui é a condição que Cristo ocupa frente às coisas criadas. Nada é semelhante a Ele em importância. Paulo ainda enfatiza que Cristo pertence à igreja e a igreja a Cristo. Deus deu Seu próprio Filho para a igreja, isso significa a substituição vicária, como também o bem maior que a igreja recebe a ter Cristo como seu. 

Cristo e a igreja (v.23) – Por fim, vemos aqui que Cristo é o Cabeça do corpo (igreja), sem Ele teríamos um monstro, uma deformação horripilante. Cristo é o responsável pela manutenção do corpo, enchendo a mesma de Suas ricas providências.

Que importantes doutrinas temos aqui. Que bela harmonia Deus estabeleceu em Seu propósito de unir Cristo e a igreja. Esses dois pontos são complementares entre si. É verdade que Cristo seria ainda exaltado se não tivesse a igreja, mas sem dúvida Seu nome é mais exaltado ainda quando Ele adorado por Seu próprio povo.


Pense no grande benefício que Deus te fez ao te dar Cristo como salvador. Lembre-se de sua condição caída e da necessidade que você tem de viver apenas para Cristo. Lembre-se da posição exaltada de nosso Mediador e veja como Ele enfrentou todas as coisas em nosso favor. Fazendo isso sinceramente veremos que nada deveria nos desestimular na igreja de Deus. Deus mesmo é que a mantém. Ele é o Senhor da igreja e conduzirá esse povo para o objetivo que Ele assim tenciona. Que Deus nos faça amar a igreja e muitas vezes mais, nos faça amar o nosso Salvador, amém.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os eleitos adotivamente predestinados

Desta feita estaremos nos dedicando a um estilo de pregação conhecido como Lectium Continua ou lições continuadas. Esse foi o estilo de pregação dos grandes reformadores, notadamente João Calvino que pregou seus sermões sempre de maneira a instruir a igreja versículo por versículo, de modo que, seus sermões até hoje são preservados em forma de livros. Faremos o mesmo com a graça de Deus, começando por essa carta tão importante, escrita pelo apóstolo Paulo.

A cidade de Éfeso era uma importante cidade da Ásia menor. Era um centro que englobava duas importantes culturas a ocidental e oriental. Dentre seus principais edifícios estavam o templo da deusa Diana. Essa deusa era exaltada como a fundadora da cidade de Éfeso e nas cercanias do templo existia a prática de permitir que os artífices fizessem seus nichos e imagens que eram vendidos para toda região. É precisamente esse cenário que Paulo encontra em Atos 19 durante a sua segunda viagem missionária. Paulo encontrou alguns discípulos de Cristo que ainda não tinham sido batizados pelo Espírito Santo (19.1-7) e deles estabeleceu uma igreja, também em Éfeso fez da escola de Tirano o primeiro seminário cristão, durante um período de dois anos (19.8-20). Nesse período muitos se converteram e queimaram seus livros de bruxaria (19.19-20). Também em Éfeso um certo ourives chamado Demétrio excitou um tumulto contra os cristãos, apelando para o passado idólatra da cidade (19.23-40). Paulo nessa confusão não falou a turba, mas alguns cristãos foram apanhados em seu lugar (Aristarco e Gaio), conforme ensina Atos 19.29. Depois desse incidente Paulo decide partir para a Macedônia (20.1).

Éfeso é a primeira cidade mencionada nas cartas enviadas pelo Senhor Jesus às igrejas da Ásia Menor (Ap. 2.1-7). A igreja nesse período é identificada como uma igreja perseverante e que punha a prova àqueles que se diziam apóstolos e não eram, provavelmente essa igreja ainda tinham uma ortodoxia forjada durante o período de ensino do apóstolo Paulo (v.2). Era uma igreja que guardava o nome de Cristo bravamente (v.3), mas já era uma igreja fragilizada e sem ânimo espiritual (v.4). O conselho de Cristo era que ela se levantasse de onde caiu e voltasse a praticar as suas primeiras obras (v.5).

Depois que conhecemos um pouco mais sobre sua história, proponho um título para a nossa meditação: “Os eleitos adotivamente predestinados”. Essa é a principal ideia nessa porção inicial. Para que sejamos orientados no ensino exarado, vejamos quais são os benefícios de sermos adotivamente predestinados, são eles:

Somos reputados como santos e fiéis (vv.1-2)
O apóstolo Paulo (v.1) – Provavelmente Paulo escreve essa carta quando estava preso em Roma, próximo do martírio. Essa carta então é fruto de uma vida de reflexão e entendimento do que é a igreja de Cristo.  Paulo saúda os efésios com um tratamento extremamente digno, chamando-os de santos. A razão de eles serem considerados assim é razão da fé em Cristo Jesus.
A saudação do apóstolo (v.2) – Paulo continua sua saudação explicitando que eles foram alcançados pela graça de Deus e que recebem por essa razão a paz que vem dele, nosso Pai e do Senhor Jesus.

Somos alvo da bênção de Deus e escolhidos antes da fundação do mundo (vv.3-4)
Um Deus abençoador (v.3) – Paulo continua sua saudação à igreja enfatizando que temos um Deus abençoador. Quando ele diz “nos tem abençoado”, ele naturalmente explica que não somente ele, Paulo, mas também a igreja tem sido alvo da bênção do Senhor. Essas bênçãos são espirituais, mais que são sentidas fisicamente por nós. São bênção de salvação e também do cuidado paternal de Deus por nós. E finalmente quando ele demonstra por que nos são concedidas essa bênçãos, vemos que nosso Mediador é aquele que propicia tal condição, sem Ele nunca receberíamos tão grande mercê.
Uma escolha antiga (v.4) – Aqui o apóstolo começa nessa carta a descortinar os altos mistérios da predestinação da igreja. Aqui somos informados que isso aconteceu antes da fundação do mundo. Ou seja, isso não é algo novo, não foi considerada nossa vontade, nem nosso estado em pecado, mas apenas o beneplácito de Deus em salvar um povo para si. Essa escolha nos direciona para a santidade e vida irrepreensível, algo que alguns acusadores insistem em não observar. E isso tudo aconteceu porque Ele nos amou antes mesmos de praticarmos qualquer obra (Rm 5.8).

Somos adotados por meio de Cristo graciosamente no Amado (vv.5-6)
O objetivo da predestinação (v.5 parte a) – Após sermos instruídos que Ele nos adotou em Cristo, agora somos informados a razão dele nos escolher. Ele nos escolhe para Ele, somos predestinados a fim de pertencermos a Deus. Não fomos apenas salvos do inferno, fomos salvos para Deus, somos propriedade dele e devemos viver assim como Ele vive.
O beneplácito da vontade divina (v.5 parte b) – Foi a suma vontade de Deus que nos elegeu. Não havia nada em nós que agradasse ao Senhor. A vontade divina e Seu propósito gracioso foram as causas de nossa salvação.
 Salvos para adorar (v.6 parte a) – Exaltamos ao Senhor porque por Sua graça Ele resolveu nos salvar. Isso nos estimula a adorar, pois não havia nada em nós que nos fizéssemos justos perante o Senhor.
Gratuito sem pagar nada (v.6 parte b) – Nada fizemos para conseguir a salvação. Tudo veio de graça por causa de Cristo, a Quem fomos dados e Quem conquistou tudo. Nisso somos totalmente passivos e Cristo ativo, morrendo por nós e nos justificando ainda quando éramos pecadores.

O início dessa carta deveria nos fazer adorar a Cristo incansavelmente. Contrariando a visão ufanista da humanidade que encontramos hoje em dia, vemos o homem totalmente dependente da graça de Deus. Vemos o Senhor nos abençoando, nos adotando, nos predestinando, nos justificando e nos fazendo um em propósito por Cristo. Nada está no homem, tudo está em Deus. Deveríamos nos envergonhar se caso ainda pensemos que temos algum tipo de participação em nossa salvação. Tudo é para Deus, por Cristo e para Sua glória e faremos muito bem se entendermos tudo isso conforme está nessa porção de Efésios.


Que Deus nos ajude a glorificar a Deus por tão grande salvação, que o Senhor abençoe a igreja ricamente, amém. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Seria o homem um produto do meio? Uma reflexão sobre as perspectivas de uma nova vida no Evangelho

Existem algumas "máximas" do pensamento comum, aceito pela grande maioria das pessoas que se não refletirmos bem estaremos fadados a nos envolver em muitas dificuldades de epistemologias e porque não dizer até mesmo muito estreitas, pois a medida que nos identificamos com elas e repetimos tais "máximas" acabamos aceitando a estreiteza de suas convicções. Dentre essas "máximas" está a que diz que o "homem é produto do meio". Este pensamento é associado a sociólogo alemão Karl Marx que claramente está influenciado pelas diferentes concepções existencialistas em torno do homem, que faz do indivíduo um mero agente em construção de suas próprias perspectivas. 

Apesar do citado pensamento ser de fato um indicativo de como um indivíduo pode ser influenciado pelo meio em que vive, quando diante das diferentes perspectivas morais, sociais e culturais a que é submetido pode interagir de modo a ser tragado por determinado meio, como por exemplo alguém que vive em um ambiente onde ele não tem valores morais, onde a criminalidade é imperativa, onde lhe foi negada uma reflexão repleta de conceitos benéficos, esse pode mesmo ser condicionado, a partir dessas influências, a uma vida que realmente reflita tais condições. Não discordo que esse entendimento possa, de alguma forma, ser até mesmo determinante em suas escolhas e fazê-lo optar por uma forma de viver muito próxima daqueles que lhe legaram tais condições depreciadas. Mas descordo que em todos os casos isso possa ser posto como axiomático com relação a todas as pessoas. Para isso estou pensando naquele que, apesar de estar dentro de um conceito ou meio perverso se torna um cristão e tem suas prioridades e vontades transformadas à luz da nova vida implantada em seu coração.

Essa homem nesta condição, estaria factualmente rompendo com o histórico degradante e amoral que outrora vivia e as distintas mudanças que ocorreram em sua mente e sentidos não pode mais se enquadrar nas influências que este havia recebido outrora. De fato aconteceu com esse homem uma mudança de perspectiva fundamental, aquilo que no passado regia seus impulsos foi suplantado pela luz do Evangelho que destronou o antigo homem e o levou a uma nova condição em Cristo, fazendo desse homem uma nova criatura, criado segundo Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. É óbvio que alguns não vejam essa condição da maneira com ela acontece de fato, atribuirão a essa mudança uma explicação a partir do meio primário como meramente uma apreensão de conceitos religiosos e que o homem continuará com as influências apreendidas em sua vida pregressa, porém do ponto de vista das Escrituras, uma vez que ela é o nosso pressuposto para o argumento aqui levantado, nos mostrará que uma nova natureza foi implantada no homem renovado, conduzindo-o a uma nova perspectiva, rompendo imediatamente com aquela antiga natureza que fazia com que os conceitos que haviam sido legados pelo meio, fossem gradativamente destruídos por essa nova vida.

Aqui então, segundo o nosso argumento, o conceito pretendido como axiomático para todas as pessoas não se aplica ao cristão depois de regenerado. Se porventura esse cristão tenha sido criado em um meio onde os valores que lhe foram transmitidos foram aqueles que aparecem nas Escrituras e que foram aplicados ao meio onde ele vive e então esses valores já existem, esse indivíduo então pode ter o entendimento de aquilo que fora apreendido pode agora ser esclarecido por um conceito bem mais efetivo, onde não mais subsiste apenas no que fazer ou deixar de fazer, mas na obediência a Cristo por amor a Ele e ao Seu Evangelho. Aquilo que já fazia desse homem um sujeito íntegro, fará dele um homem preocupado com valores eternos, com sua salvação e com o agrado de Cristo. Essas preocupações não lhe eram comuns em sua vida pregressa, mas apenas as praticava como que por instinto e não por uma reflexão adequada.

Quanto a aquele que teve sua vida imerso em uma cultura degradante e foi criado onde os valores éticos não lhe eram conhecidos e a maldade e a condição moral do meio não tinham qualquer indício de valores, esse, ao conhecer a Cristo é levado ao entendimento de que laborou em erro por toda uma vida e que as perspectivas que lhe foram legadas em nada agradam a forma de vida que agora ele se preocupa. Seus valores são mudados, seu meio também, fazendo com que venha a se apegar a aquilo que satisfaz a Cristo, seguindo de perto os padrões que a Revelação lhe orienta. Assim entendemos porque nações inteiras tiveram um histórico pérfido abandonado simplesmente quando foram alcançadas pelo Evangelho. As mesmas tinhas estado nessas condições por séculos e a perfídia adquirida durante esse tempo os identificava com aquilo que há de mais baixo e ofensivo, mas que tão logo tiveram uma apreensão do Evangelho, abandonaram seus conceitos e buscaram uma vida orientada pela revelação, mudando-se não somente a cultura desse país, mas suas leis e até mesmo suas cosmovisões, fazendo da cosmovisão bíblica o balizamento de suas ideias.

Não creio que nosso país deve viver ad eternum com os conceitos e perspectivas do passado. É claro que esses conceitos para o entendimento sociológico, são determinantes devendo os mesmos nortear as concepções sobre as influências que levaram os brasileiros a absorver algumas práticas, como por exemplo o tal "jeitinho brasileiro", a corrupção e uma visão não muito realista daquilo que ele significa dentro de um quadro bem mais amplo, seja fácil de se resolver. Principalmente porque o tipo de evangelho empreendido por muitas denominações protestantes hoje em dia, em quase nada serve para uma real mudança a esse respeito. Defendo que somente uma perspectiva que forneça uma cosmovisão cristã, preocupada com a vida como um todo, que aborde a necessidade de uma mente cativa, de uma mudança urgente, possa contribuir para que tais mudanças aconteçam  a longo prazo na sociedade brasileira. Se acontece no passado, pode acontecer conosco. Alguns indícios importantes já podem ser detectados, mas eles ainda são muito tênues e precisam ser mais sentidos. Esse é um tema para outra publicação. A priori defendemos uma releitura dos quadros sistêmicos que influenciam a perspectiva de se ver o brasileiro e a partir daí observar quais serão os impactos sentidos de uma forma mais geral e não somente individual. Que Deus ao Seu tempo alcance aqueles que ainda não foram afetados pela mensagem de Cristo e uma vez alcançados esses possam contribuir em todas as áreas do pensamento humano, levando a uma mudança global de nossas perspectivas. É o que esperamos do nosso país quando esse for fielmente alcançado pelo Evangelho.