terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O natal e aquilo que foi esquecido a seu respeito

Lucas 2.34-35

O texto em questão traz basicamente aquilo que eu gostaria de enfatizar nesse natal. Nem sempre aquilo que vemos nos dias natalinos consiste na realidade dos fatos relativos ao natal. Assim como a festa ganha contornos distantes daquilo que foi o dia propriamente dito o objetivo da festa por muitas vezes passa por cima de aspectos importantes e muitas vezes esquecidos pela maioria dos pregadores hoje em dia.

É por essa razão que nesta noite estarei abordando aspectos esquecidos do natal. Fatos que, se esquecidos não culminariam em todas as nuances dessa bela festa cristã. É então, por essa razão que eu os convido a considerar o seguinte título de nossa mensagem: “O natal e aquilo que foi esquecido a seu respeito”.

Justifico o título primeiramente enfatizando que o que estaremos mencionando foi “esquecido” e não “ignorado”, uma vez que não penso que muitos pregadores tem intensão de fazer tal coisa, só que a Bíblia deve ser pregada toda e não de acordo com nossos interesses.

O texto que estamos comentando narra a ida do Senhor, ainda menino ao templo a fim de realizar sua purificação (Lv. 12.6-8), após a circuncisão (v. 21). Lá se encontrava um homem piedoso chamado Simeão, que movido pelo Espírito foi ao templo. O mesmo Espírito havia revelado que “ele não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor”.

Simeão em sua fala diz algo muito importante para nossa consideração: 1) Ele é destinado para ruína e para o levantamento de Israel; 2) Para ser alvo de contradição; 3) Uma espada transpassará a própria alma para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. Logo, de acordo com a profecia de Simeão, a pessoa do Senhor Jesus causa dois sentimentos distintos, o abatimento e a exaltação. Isso é bastante claro ao observarmos o que o texto bíblico nos ensina acerca do nascimento de Cristo, vejamos então esses relatos:

A situação da família de Jesus em Seu nascimento (Mt. 1.19)
O nascimento virginal e suas implicações – Maria estava prometida a José, ela era virgem e ainda não tinha contato com aquele que seria seu esposo. De uma hora para outra ela aparece grávida. O anjo tinha anunciado a ela (Lc 1.26-38), mas não a José ainda, por essa razão ele resolve deixa-la (Mt. 1-19). Antes do nascimento o Senhor enfrenta esse primeiro conflito que é resolvido após a aparição do anjo a José.
Um risco para Maria – Segundo a Lei, Maria poderia morrer apedrejada, caso não se provasse a questão de seu filho. José tem um papel fundamental quanto ao nascimento, visto que apenas alguém realmente escolhido por Deus e fiel, poderia fazer parte de tão gracioso propósito. A escolha divina para ser pai do Senhor sem dúvida atesta isso.

II- Os magos do Oriente e a fuga para o Egito e a matança dos inocentes (Mt.2.1-18)
Uma narrativa que busca apenas relatar a visita dos magos no presépio, esquece-se dos fatos que mostram o quanto aqueles dias eram terríveis, analisemos as implicações:
A busca pelo Messias nos palácios (Mt. 2.1-12) – Esses magos, provavelmente advertidos pelo estudo da Lei, sendo estrangeiros e não sabendo que o rei de Israel era um rei ímpio e sanguinário, foram até o palácio real esperando que lá encontrassem a Cristo. Nessa ocasião a profecia de Simeão se cumpre mais uma vez, eles buscam adorá-lo, enquanto Herodes buscava a sua própria ruína. Deus os guiou de maneira segura até Cristo, mas a maldade de Herodes já havia sido despertada.
Jesus e seus pais vão para o Egito (Mt. 2.13-15 e Os 11.1) – Cumprindo a profecia de Oséias, após a visão do anjo, Jesus é enviado para o Egito. Fatos cruéis o aguardavam se Ele permanecesse em Israel.
A matança promovida por Herodes (Mt. 2.16-18) – Esse rei sanguinário tinha por intenção promover o extermínio do Messias. Ele certamente sabia de sua linhagem real (filho de Davi), a mesma que ele como rei não pertencia. Sua matança tinha em vista destruir a possibilidade do retorno ao trono da família de Davi, que na época de Cristo não era tão importante como em outras épocas, pelo menos financeiramente. Esses fatos não aparecem no presépio na noite de natal.

III- O natal e sua principal mensagem (Lc. 2.10)
Boa nova de grande alegria (Lc. 2.10) – Eu não faço coro a aqueles que pensam que o natal é uma festa pagã. O natal é a maior festa cristã. O nascimento de Cristo é o maior anúncio que o mundo pôde receber. Se Ele não tivesse encarnado naquela criança simples naquela “noite feliz” eu e você, assim como o mundo inteiro não teria nenhuma esperança.
Paz na terra entre os homens (Lc. 2.14) – As palavras da milícia celeste de anjos refletem não a profecia de Simeão, mas uma profecia para a época presente e para o final das eras, quando Jesus for a paz nos homens convertidos e tementes a Deus hoje e a multidão de redimidos no Reino eterno.

Não devemos nos enganar com as sutilezas comerciais dessa época. Muita coisa foi acrescentada ao verdadeiro natal. Cabe a igreja cristã se preocupar para que isso seja recuperado. Temos o manual para toda e qualquer Reforma que nos cabe fazer, as Escrituras.

Recuperemos aqueles dias em nossas mentes com sincero temor. Lembrando-nos dos fatos relativos ao nascimento do nosso Salvador. Lembrando que Ele surge como uma espada que divide a humanidade e que apesar de muitos buscarem algo relativo a Ele nesse dia e nessa noite de natal, suas vidas não o fazem constantemente.

A igreja cristã é o real baluarte do verdadeiro natal. Celebremos esse natal na certeza de que Cristo é para nós elevação sobre Israel, mas para aqueles que não lhe conhecem vero abatimento. Louvamos a Deus por sua infinda graça.




quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A FUNÇÃO DO HOMEM NO PROPÓSITO REDENTIVO PRETENDIDO POR DEUS

Há algum tempo essa pergunta me atormenta? Tenho visto com muita frequência igrejas onde a maioria esmagadora de seus membros são mulheres e isso de alguma forma me anima, pois devemos louvar a Deus pelo forte ministério feminino, mas por outro lado fico bastante preocupado em não vermos números expressivos de homens na membresia da igreja como um todo.

É claro que ao abordar isso não quero propor nenhuma guerra entre os sexos, não é essa minha intenção. Mas se Deus tenciona salvar eletivamente uma grande quantidade de mulheres que supere em mais da metade o número de homens quem somos nós para questionarmos o Senhor? Mas percebo que o problema em questão não é tão fácil de ser resolvido e que a condição espiritual da igreja passa, a princípio, pela conversão de homens ao Senhor. Infelizmente isso não é o comum em nossos dias e alguns pontos precisam ser levantados se nós quisermos fortalecer nossas igrejas com a presença masculina bíblica e saudável. Chamo a sua atenção para algumas considerações:

A Bíblia e o papel do homem
A sociedade como nós conhecemos e que é a mesma que foi estabelecida por Deus em seu propósito original, foi criada de forma a colocar os dois sexos, homem e mulher em certo nível de igualdade, pois nossa matriz genética é composta de genes masculinos e femininos, logo os tais foram fundamentais para toda a humanidade de maneira matricial, não somente no que concerne à genética, mas também no que diz respeito à representatividade em questão, sendo os dois gêneros colocados na criação pelo Senhor de modo a mostrar a totalidade representativa tencionada pelo Criador. É óbvio que o propósito redentivo do Senhor para com os gêneros tencionou dar certa primazia ao homem no texto bíblico, isso foi refletido na própria formação cultural dos povos antigos, onde a participação masculina recebeu certo destaque em grande quantidade pela própria constituição genética do homem, que além de ir às guerras, sempre foi aquele que supre o lar e que por consequência está mais envolvido com grandes conquistas territoriais e de liderança. Porém a própria Escritura atribui ao homem um papel exponencial, quando o coloca como coroa da criação divina, que é completado plenamente com o surgimento da mulher. Mas desde o passado mais remoto vemos a primazia do homem na escolha divina para funções importantes no plano redentivo, como a escolha dos patriarcas Abrahão, Isaque e Jacó. Entre todos os herdeiros das tribos israelitas, que sem dúvida incluíam mulheres, apenas os homens receberam a primazia em seus clãs, nenhum patriarca era mulher. No período posterior, aquele que estabelece a história judaica como nação, a presença masculina também é importante, o libertador Moisés era homem, bem como seu sucessor Josué e, igualmente, os próprios juízes no período posterior, também. Apesar de haverem raríssimas exceções (Como no caso de Debora, da tribo de Efraim, que além de profetisa era também juíza. Jz 4.4). No período conhecido como profetismo o mesmo fato é constatado, apesar de haverem profetisas neste período a grande maioria eram homens (Ne 6.14 e Lc 2.36), assim como os reis no período monárquico. No Novo Testamento os doze apóstolos eram homens e apesar de haverem mulheres importantes no ministério de Jesus, elas não tinham nenhuma primazia na igreja, no sentido de liderança, não foram dados a elas cargos como apóstolas, bispas, presbíteras ou diaconisas. Esses cargos são relativamente novos na história da igreja e fazem parte das conquistas recentes do movimento feminino, apenas instituídos recentemente em igrejas onde prevalece uma teologia liberal. Organicamente e originariamente não havia essa liderança estabelecida nas Escrituras, isso não faz da mulher desnecessária, mas apenas corrobora o entendimento que o ministério na igreja de Cristo é um ministério masculino qualificado.

A conversão do homem ao ministério da igreja
O ministério masculino faz parte então, como já demonstrado anteriormente, do propósito divino para toda humanidade e mais especificamente para a liderança do Seu povo redimido, a igreja. Não estou pregando aqui uma espécie de particularismo machista, mas algo baseado naquilo que encontramos na Revelação e que diz respeito ao propósito redentivo pretendido pelo Senhor. Alguém pode perguntar: “Se faz parte do propósito redentivo do Senhor, então qual é a razão para tal questão não acontecer a contento, uma vez que já demonstramos aqui que existe um desequilíbrio numérico em nossas igrejas quanto ao número de membros masculinos?” Quanto a isso creio que devemos pensar em uma abordagem evangelística que primeiro esteja dentro dos padrões escriturísticos e isso deve ser algo fundamentalmente teológico, ou seja, deve haver uma inclinação a se buscar respostas que partam, antes de qualquer coisa, da Bíblia. Esse entendimento deve realçar a função do homem no processo redentivo, na igreja, família, trabalho e Estado. É a partir de uma conclusão centrada na Bíblia que identificaremos os problemas existentes em nossa abordagem e a maneira como produzimos, segundo a vontade de Deus, homens que possam servir de parâmetro para influenciar outros homens a verem a igreja não como algo que pertence às mulheres, mas que eles mesmos estejam engajados a encorajar outros homens neste particular.

Outra questão é o entendimento de que algo precisa ser feito no sentido de nos fazer mais atuantes em questões que o homem secular se preocupa. Quanto a isso preciso ser bem específico para não ser mal entendido aqui. Não estou defendendo que deveríamos, enquanto homens crentes, termos abordagens parecidas com aquelas demandas pretendidas pelo homem sem Deus, mas que existam sempre e de forma embasada nos princípios que estabelecemos acima, uma preocupação em suprir as principais intenções do pensamento masculino, mas com toda a complexidade da cosmovisão bíblica, ou seja, se vamos procurar falar de companheirismo precisamos ter uma preocupação de suscitar isso dentro do contexto da irmandade cristã, se falamos de lazer, pensarmos dentro da mesma perspectiva e dai por diante. Não que seja necessária uma substituição “sacralizada” do estilo de vida do homem sem Deus, mas que a igreja promova um ambiente que procure alcançar homens que encontraram na igreja uma perspectiva para desenvolver suas responsabilidades masculinas e que possa leva-los a outra que seja inteiramente focada numa teologia que busque esclarecer as principais temáticas suscitadas pelo homem. Acredito que a Bíblia tem muito a nos ensinar sobre isso. Creio que as conquistas do movimento feminino acabaram minando esse desenvolvimento em nosso meio. As igrejas, mais do que qualquer outro setor, estiveram vulneráveis às propostas do movimento feminino, isso aconteceu em grande medida em razão de termos uma teologia pouco sólida a esse respeito. Alguns setores não estavam prontos naquela época e não estão prontos hoje também. É o caso da igreja católica romana, que em sua abordagem a esse assunto se manteve longe de resolver a questão, em grande medida pela sua pouca influência nesse setor, uma vez que no caso específico da igreja romana, suas defesas do celibato dos padres e outras tantas questões como a pedofilia entre seus clérigos, sem dúvida os afastaram dessa questão da masculinidade.

Os protestantes por sua vez, tem um ambiente favorável para esse empreendimento. Temos condições não somente de desenvolver um ambiente teológico seguro, como também de proporcionar que tais doutrinas sejam exclusivamente amparadas em nossa confecionalidade, quanto aos nossos símbolos de fé e quanto nossas convicções da inerrância e infalibilidade bíblica.

O ministério masculino e os benefícios para a igreja e sociedade
Estamos experimentando dias difíceis para nossas concepções escriturísticas quanto ao papel do homem no mundo atual. As conquistas feministas foram um duro golpe à igreja, principalmente porque não houve uma salvaguarda e uma preparação adequada para isso no passado. Hoje em dia vemos o crescimento dos setores envolvidos nas reivindicações de grupos homossexuais, isso parece solapar a esperança, uma vez que prega um mundo desprovido de “pré-conceitos machistas” e enquanto isso empreende uma campanha no sentido de fazer com que o homem seja uma espécie de andrógeno, efeminado ou algo assim. Muitas pessoas de “mente aberta” já estão chafurdadas nesse argumento e pensam num homem no estilo metrossexual, um homem com forte preocupação estética e alvo fácil para os conglomerados de produtos estéticos que buscam justamente a perca da masculinidade, o que faria dessas empresas, que já lucram quantias exorbitantes com as mulheres, lucrarem também com os homens. Veja aqui que eu não estou defendendo que o homem não possa ser higiênico e preocupado com sua saúde, mas que é do interesse desses setores que o homem esteja sendo visto como público alvo de suas campanhas publicitarias, o que lhes renderão grandiosas quantias e inúmeros dividendos.

Ao se reafirmar o papel do homem no propósito redentivo, estaremos colocando a ênfase que Deus coloca sobre a espécie masculina. Dentro dessa perspectiva estaremos viabilizando o crescimento em nosso meio de uma liderança masculina qualificada, fazendo que nossos ofícios sejam supridos quanto a esse particular. Consequentemente as famílias estarão também sendo influenciadas, pois o próprio homem, uma vez ensinado sobre a importância da masculinidade bíblica, estará participando ativamente do prolongamento dessa perspectiva na criação que ele transmitirá a seus filhos. Haverá também a entrada desses conceitos dentro da nossa sociedade onde a mesma estará tendo um ponto de apoio para o impedimento de ideias feministas e homossexuais, uma vez que esse conceito se tornando mais conhecido e não sendo tão somente algo para rivalizar a temática pretendida hodiernamente, será algo fundamentalmente estabelecido logica e teologicamente. As consequências quanto a isso são ilimitadas. Haverá repercussão em todos os setores sociais, desde a família ao Estado, com influências sobre as leis e sobre as futuras gerações de homens.

Conclusão
É claro que ainda estamos no início desse debate. Vários teólogos em nosso país e fora estão comprometidos a fazerem uma exegese bíblica da função do homem no plano redentivo. Os avanços quanto a este particular ainda são incipientes, mas sem dúvida o debate se prolongará fortemente e conseguirá avanços notáveis. Não tenho dúvida de que podemos evitar que nossa sociedade seja tragada desse empreendimento maligno que busca destruir a imagem da masculinidade pretendida por Deus em Sua vontade revelada.



Mesmo que ainda sejamos taxados de machistas e retrógrados não devemos temer aos desafios que se nos apresentam. Precisamos focar nossa pesquisa nesse tão necessário ministério, fazer com que nossas comunidades locais tenham também desenvolvido esse debate, que conferências sobre esse tema possam irromper-se em todo país e mais e mais estejamos orientados. Urge tal necessidade, por isso faz-se necessário abordarmos assuntos como esses. Que Deus continue a despertar outros estudiosos quanto a esse particular e que a igreja de Cristo seja fator de proclamação da função do homem para todo o mundo, essa é a nossa expectativa.

domingo, 24 de novembro de 2013

A igreja e Cristo


Efésios 1.15-23

Dois grandes assuntos estão sendo abordados por Paulo nessa pequena parte das Escrituras. Aqui vemos o apóstolo considerando a fidelidade da igreja de Éfeso, ao passo que menciona suas virtudes e serviços cristãos, bem como, adiciona a doutrina sobre Cristo, o Cabeça da igreja, aquele que com seu sangue conquistou um povo para si.

Hoje a noite veremos como essas duas doutrinas são preciosas para nós. A primeira nos ensinando a amar a igreja com o amor que o próprio Cristo amou e a segunda nos mostrando o significado da obra do Mediador, aquele que se sacrificou por esse povo, que lhe é mui amado.

Diante disso, proponho um título: “A igreja e Cristo”.

Observamos como, de maneira especial, o apóstolo continua a nos ensinar sobre essas doutrinas maravilhosas. Ele é hábil em nos conduzir a padrões elevados, de fato seu objetivo é nos levar a adoração, nos conduzir ao entendimento de que nada do que foi feito por Deus é desprezível ou desnecessário. Vejamos de que maneira podemos ser instruídos aqui:

I- O ensino de Paulo sobre a igreja (vv.15-19).
Não enfatizamos a igreja aqui por ordem de importância, isso é evidente, mas por causa da abordagem do apóstolo em sua ordem cronológica. Vejamos o que ele tem a nos dizer nesses versículos sobre a igreja:

A igreja é uma comunidade de amor (v.15) – A igreja não é meramente uma instituição. É claro que muitos desejariam que ela se ocupasse apenas dessas coisas, mas isso não é o objetivo do Senhor para ela. A igreja é vista como um lugar de auxílio mútuo, onde os cristãos não somente vivem uma relação social, mas se amam entre si. Paulo ouve que isso era comum em Éfeso e se alegra com essa notícia.

Uma igreja admirável (v.16) – Porque Paulo se refere de forma tão atenciosa a essa igreja? Porque tantos elogios? Essa igreja era admirável. Paulo ora em favor dela para que ela seja mantida nessa condição, exemplo para outros. Aqui também está em realce a função pastoral de oração pelos crentes.

Uma igreja Trinitária (v.17) – Aqui compartilho a ideia de Calvino e Hendriksen de que a palavra mencionada aqui como “Espírito” se refira ao Espírito Santo. Sendo assim, vemos a importância da igreja ter um relacionamento trinitário com o Senhor. Vemos a menção que o Pai do nosso Senhor Jesus é o “Pai da glória”, depois de vermos a filiação do próprio Jesus, e finalmente que o Espírito nos concede revelação e conhecimento. A igreja é uma comunidade trinitária.

A igreja precisa saber que é (v.18) – O apóstolo ora que o mesmo Espírito que revela e dá conhecimento é o mesmo que pode iluminar a igreja. Ele pode conduzir a igreja, a saber, questões importantes para sua vida. 1) A igreja precisa ser iluminada no coração; 2) Saber do seu chamamento; 3) E conhecer a riqueza de sua herança.

A igreja e o poder de Deus (v.19) – Finalizando, Paulo indica que existe muito poder em prol da igreja. O próprio TODO PODEROSO, está ao dispor desse povo. O poder despendido é segundo a eficácia da força do Seu poder, logo, essa igreja está segura e firme nas mãos daquele que pode todas as coisas.

II- O ensino de Paulo sobre Cristo (vv.20-23)
O poder que ressuscitou Cristo (v.20) – O mesmo poder que sustenta a igreja é o mesmo que ressuscitou Cristo. Aqui ele começa a nos fornecer informações sobre o Cabeça da igreja. Cristo está à destra de Deus em lugares celestiais. Essa é uma posição exaltada, que significa regência e primazia. Ao dizer que Cristo está à direita de Deus, ele nos ensina suprema importância da posição trinitária em referência a Cristo.

Mais da sua posição exaltada (v.21) – Quando ele diz que ele é acima de todo principado, potestade, poder e domínio, prefiro acompanhar Calvino quando diz que pouco se sabe sobre essas ordens. Que esses cargos possam se referir a seres angélicos isso é bem possível, mas tentar dizer o que uma ordem faz e a outra não, não é o nosso objetivo. Aqui simplesmente vemos Cristo acima de todos os anjos e isso nos basta. Em segundo lugar Ele é acima de todo nome, isso sem dúvida quer dizer qualquer nome. Não existe nenhum outro nome acima de Cristo (Atos 4.12).

Cristo acima de tudo e pertencente a igreja (v.22) – Outra posição exaltada aqui é a condição que Cristo ocupa frente às coisas criadas. Nada é semelhante a Ele em importância. Paulo ainda enfatiza que Cristo pertence à igreja e a igreja a Cristo. Deus deu Seu próprio Filho para a igreja, isso significa a substituição vicária, como também o bem maior que a igreja recebe a ter Cristo como seu. 

Cristo e a igreja (v.23) – Por fim, vemos aqui que Cristo é o Cabeça do corpo (igreja), sem Ele teríamos um monstro, uma deformação horripilante. Cristo é o responsável pela manutenção do corpo, enchendo a mesma de Suas ricas providências.

Que importantes doutrinas temos aqui. Que bela harmonia Deus estabeleceu em Seu propósito de unir Cristo e a igreja. Esses dois pontos são complementares entre si. É verdade que Cristo seria ainda exaltado se não tivesse a igreja, mas sem dúvida Seu nome é mais exaltado ainda quando Ele adorado por Seu próprio povo.


Pense no grande benefício que Deus te fez ao te dar Cristo como salvador. Lembre-se de sua condição caída e da necessidade que você tem de viver apenas para Cristo. Lembre-se da posição exaltada de nosso Mediador e veja como Ele enfrentou todas as coisas em nosso favor. Fazendo isso sinceramente veremos que nada deveria nos desestimular na igreja de Deus. Deus mesmo é que a mantém. Ele é o Senhor da igreja e conduzirá esse povo para o objetivo que Ele assim tenciona. Que Deus nos faça amar a igreja e muitas vezes mais, nos faça amar o nosso Salvador, amém.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os eleitos adotivamente predestinados

Desta feita estaremos nos dedicando a um estilo de pregação conhecido como Lectium Continua ou lições continuadas. Esse foi o estilo de pregação dos grandes reformadores, notadamente João Calvino que pregou seus sermões sempre de maneira a instruir a igreja versículo por versículo, de modo que, seus sermões até hoje são preservados em forma de livros. Faremos o mesmo com a graça de Deus, começando por essa carta tão importante, escrita pelo apóstolo Paulo.

A cidade de Éfeso era uma importante cidade da Ásia menor. Era um centro que englobava duas importantes culturas a ocidental e oriental. Dentre seus principais edifícios estavam o templo da deusa Diana. Essa deusa era exaltada como a fundadora da cidade de Éfeso e nas cercanias do templo existia a prática de permitir que os artífices fizessem seus nichos e imagens que eram vendidos para toda região. É precisamente esse cenário que Paulo encontra em Atos 19 durante a sua segunda viagem missionária. Paulo encontrou alguns discípulos de Cristo que ainda não tinham sido batizados pelo Espírito Santo (19.1-7) e deles estabeleceu uma igreja, também em Éfeso fez da escola de Tirano o primeiro seminário cristão, durante um período de dois anos (19.8-20). Nesse período muitos se converteram e queimaram seus livros de bruxaria (19.19-20). Também em Éfeso um certo ourives chamado Demétrio excitou um tumulto contra os cristãos, apelando para o passado idólatra da cidade (19.23-40). Paulo nessa confusão não falou a turba, mas alguns cristãos foram apanhados em seu lugar (Aristarco e Gaio), conforme ensina Atos 19.29. Depois desse incidente Paulo decide partir para a Macedônia (20.1).

Éfeso é a primeira cidade mencionada nas cartas enviadas pelo Senhor Jesus às igrejas da Ásia Menor (Ap. 2.1-7). A igreja nesse período é identificada como uma igreja perseverante e que punha a prova àqueles que se diziam apóstolos e não eram, provavelmente essa igreja ainda tinham uma ortodoxia forjada durante o período de ensino do apóstolo Paulo (v.2). Era uma igreja que guardava o nome de Cristo bravamente (v.3), mas já era uma igreja fragilizada e sem ânimo espiritual (v.4). O conselho de Cristo era que ela se levantasse de onde caiu e voltasse a praticar as suas primeiras obras (v.5).

Depois que conhecemos um pouco mais sobre sua história, proponho um título para a nossa meditação: “Os eleitos adotivamente predestinados”. Essa é a principal ideia nessa porção inicial. Para que sejamos orientados no ensino exarado, vejamos quais são os benefícios de sermos adotivamente predestinados, são eles:

Somos reputados como santos e fiéis (vv.1-2)
O apóstolo Paulo (v.1) – Provavelmente Paulo escreve essa carta quando estava preso em Roma, próximo do martírio. Essa carta então é fruto de uma vida de reflexão e entendimento do que é a igreja de Cristo.  Paulo saúda os efésios com um tratamento extremamente digno, chamando-os de santos. A razão de eles serem considerados assim é razão da fé em Cristo Jesus.
A saudação do apóstolo (v.2) – Paulo continua sua saudação explicitando que eles foram alcançados pela graça de Deus e que recebem por essa razão a paz que vem dele, nosso Pai e do Senhor Jesus.

Somos alvo da bênção de Deus e escolhidos antes da fundação do mundo (vv.3-4)
Um Deus abençoador (v.3) – Paulo continua sua saudação à igreja enfatizando que temos um Deus abençoador. Quando ele diz “nos tem abençoado”, ele naturalmente explica que não somente ele, Paulo, mas também a igreja tem sido alvo da bênção do Senhor. Essas bênçãos são espirituais, mais que são sentidas fisicamente por nós. São bênção de salvação e também do cuidado paternal de Deus por nós. E finalmente quando ele demonstra por que nos são concedidas essa bênçãos, vemos que nosso Mediador é aquele que propicia tal condição, sem Ele nunca receberíamos tão grande mercê.
Uma escolha antiga (v.4) – Aqui o apóstolo começa nessa carta a descortinar os altos mistérios da predestinação da igreja. Aqui somos informados que isso aconteceu antes da fundação do mundo. Ou seja, isso não é algo novo, não foi considerada nossa vontade, nem nosso estado em pecado, mas apenas o beneplácito de Deus em salvar um povo para si. Essa escolha nos direciona para a santidade e vida irrepreensível, algo que alguns acusadores insistem em não observar. E isso tudo aconteceu porque Ele nos amou antes mesmos de praticarmos qualquer obra (Rm 5.8).

Somos adotados por meio de Cristo graciosamente no Amado (vv.5-6)
O objetivo da predestinação (v.5 parte a) – Após sermos instruídos que Ele nos adotou em Cristo, agora somos informados a razão dele nos escolher. Ele nos escolhe para Ele, somos predestinados a fim de pertencermos a Deus. Não fomos apenas salvos do inferno, fomos salvos para Deus, somos propriedade dele e devemos viver assim como Ele vive.
O beneplácito da vontade divina (v.5 parte b) – Foi a suma vontade de Deus que nos elegeu. Não havia nada em nós que agradasse ao Senhor. A vontade divina e Seu propósito gracioso foram as causas de nossa salvação.
 Salvos para adorar (v.6 parte a) – Exaltamos ao Senhor porque por Sua graça Ele resolveu nos salvar. Isso nos estimula a adorar, pois não havia nada em nós que nos fizéssemos justos perante o Senhor.
Gratuito sem pagar nada (v.6 parte b) – Nada fizemos para conseguir a salvação. Tudo veio de graça por causa de Cristo, a Quem fomos dados e Quem conquistou tudo. Nisso somos totalmente passivos e Cristo ativo, morrendo por nós e nos justificando ainda quando éramos pecadores.

O início dessa carta deveria nos fazer adorar a Cristo incansavelmente. Contrariando a visão ufanista da humanidade que encontramos hoje em dia, vemos o homem totalmente dependente da graça de Deus. Vemos o Senhor nos abençoando, nos adotando, nos predestinando, nos justificando e nos fazendo um em propósito por Cristo. Nada está no homem, tudo está em Deus. Deveríamos nos envergonhar se caso ainda pensemos que temos algum tipo de participação em nossa salvação. Tudo é para Deus, por Cristo e para Sua glória e faremos muito bem se entendermos tudo isso conforme está nessa porção de Efésios.


Que Deus nos ajude a glorificar a Deus por tão grande salvação, que o Senhor abençoe a igreja ricamente, amém. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Seria o homem um produto do meio? Uma reflexão sobre as perspectivas de uma nova vida no Evangelho

Existem algumas "máximas" do pensamento comum, aceito pela grande maioria das pessoas que se não refletirmos bem estaremos fadados a nos envolver em muitas dificuldades de epistemologias e porque não dizer até mesmo muito estreitas, pois a medida que nos identificamos com elas e repetimos tais "máximas" acabamos aceitando a estreiteza de suas convicções. Dentre essas "máximas" está a que diz que o "homem é produto do meio". Este pensamento é associado a sociólogo alemão Karl Marx que claramente está influenciado pelas diferentes concepções existencialistas em torno do homem, que faz do indivíduo um mero agente em construção de suas próprias perspectivas. 

Apesar do citado pensamento ser de fato um indicativo de como um indivíduo pode ser influenciado pelo meio em que vive, quando diante das diferentes perspectivas morais, sociais e culturais a que é submetido pode interagir de modo a ser tragado por determinado meio, como por exemplo alguém que vive em um ambiente onde ele não tem valores morais, onde a criminalidade é imperativa, onde lhe foi negada uma reflexão repleta de conceitos benéficos, esse pode mesmo ser condicionado, a partir dessas influências, a uma vida que realmente reflita tais condições. Não discordo que esse entendimento possa, de alguma forma, ser até mesmo determinante em suas escolhas e fazê-lo optar por uma forma de viver muito próxima daqueles que lhe legaram tais condições depreciadas. Mas descordo que em todos os casos isso possa ser posto como axiomático com relação a todas as pessoas. Para isso estou pensando naquele que, apesar de estar dentro de um conceito ou meio perverso se torna um cristão e tem suas prioridades e vontades transformadas à luz da nova vida implantada em seu coração.

Essa homem nesta condição, estaria factualmente rompendo com o histórico degradante e amoral que outrora vivia e as distintas mudanças que ocorreram em sua mente e sentidos não pode mais se enquadrar nas influências que este havia recebido outrora. De fato aconteceu com esse homem uma mudança de perspectiva fundamental, aquilo que no passado regia seus impulsos foi suplantado pela luz do Evangelho que destronou o antigo homem e o levou a uma nova condição em Cristo, fazendo desse homem uma nova criatura, criado segundo Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. É óbvio que alguns não vejam essa condição da maneira com ela acontece de fato, atribuirão a essa mudança uma explicação a partir do meio primário como meramente uma apreensão de conceitos religiosos e que o homem continuará com as influências apreendidas em sua vida pregressa, porém do ponto de vista das Escrituras, uma vez que ela é o nosso pressuposto para o argumento aqui levantado, nos mostrará que uma nova natureza foi implantada no homem renovado, conduzindo-o a uma nova perspectiva, rompendo imediatamente com aquela antiga natureza que fazia com que os conceitos que haviam sido legados pelo meio, fossem gradativamente destruídos por essa nova vida.

Aqui então, segundo o nosso argumento, o conceito pretendido como axiomático para todas as pessoas não se aplica ao cristão depois de regenerado. Se porventura esse cristão tenha sido criado em um meio onde os valores que lhe foram transmitidos foram aqueles que aparecem nas Escrituras e que foram aplicados ao meio onde ele vive e então esses valores já existem, esse indivíduo então pode ter o entendimento de aquilo que fora apreendido pode agora ser esclarecido por um conceito bem mais efetivo, onde não mais subsiste apenas no que fazer ou deixar de fazer, mas na obediência a Cristo por amor a Ele e ao Seu Evangelho. Aquilo que já fazia desse homem um sujeito íntegro, fará dele um homem preocupado com valores eternos, com sua salvação e com o agrado de Cristo. Essas preocupações não lhe eram comuns em sua vida pregressa, mas apenas as praticava como que por instinto e não por uma reflexão adequada.

Quanto a aquele que teve sua vida imerso em uma cultura degradante e foi criado onde os valores éticos não lhe eram conhecidos e a maldade e a condição moral do meio não tinham qualquer indício de valores, esse, ao conhecer a Cristo é levado ao entendimento de que laborou em erro por toda uma vida e que as perspectivas que lhe foram legadas em nada agradam a forma de vida que agora ele se preocupa. Seus valores são mudados, seu meio também, fazendo com que venha a se apegar a aquilo que satisfaz a Cristo, seguindo de perto os padrões que a Revelação lhe orienta. Assim entendemos porque nações inteiras tiveram um histórico pérfido abandonado simplesmente quando foram alcançadas pelo Evangelho. As mesmas tinhas estado nessas condições por séculos e a perfídia adquirida durante esse tempo os identificava com aquilo que há de mais baixo e ofensivo, mas que tão logo tiveram uma apreensão do Evangelho, abandonaram seus conceitos e buscaram uma vida orientada pela revelação, mudando-se não somente a cultura desse país, mas suas leis e até mesmo suas cosmovisões, fazendo da cosmovisão bíblica o balizamento de suas ideias.

Não creio que nosso país deve viver ad eternum com os conceitos e perspectivas do passado. É claro que esses conceitos para o entendimento sociológico, são determinantes devendo os mesmos nortear as concepções sobre as influências que levaram os brasileiros a absorver algumas práticas, como por exemplo o tal "jeitinho brasileiro", a corrupção e uma visão não muito realista daquilo que ele significa dentro de um quadro bem mais amplo, seja fácil de se resolver. Principalmente porque o tipo de evangelho empreendido por muitas denominações protestantes hoje em dia, em quase nada serve para uma real mudança a esse respeito. Defendo que somente uma perspectiva que forneça uma cosmovisão cristã, preocupada com a vida como um todo, que aborde a necessidade de uma mente cativa, de uma mudança urgente, possa contribuir para que tais mudanças aconteçam  a longo prazo na sociedade brasileira. Se acontece no passado, pode acontecer conosco. Alguns indícios importantes já podem ser detectados, mas eles ainda são muito tênues e precisam ser mais sentidos. Esse é um tema para outra publicação. A priori defendemos uma releitura dos quadros sistêmicos que influenciam a perspectiva de se ver o brasileiro e a partir daí observar quais serão os impactos sentidos de uma forma mais geral e não somente individual. Que Deus ao Seu tempo alcance aqueles que ainda não foram afetados pela mensagem de Cristo e uma vez alcançados esses possam contribuir em todas as áreas do pensamento humano, levando a uma mudança global de nossas perspectivas. É o que esperamos do nosso país quando esse for fielmente alcançado pelo Evangelho.  

sábado, 12 de outubro de 2013

A exposição da Palavra e sua solidão


O ministério da Palavra de Deus é um ministério solitário. Essa preposição não é algo "apocalíptico" para aqueles que almejam tal labor. É verdade que existem pregadores atualmente que conseguem grandes números em sua audiência, que conseguem levantar grandes multidões em torno de si, mas que no entanto, deixam-se persuadir meramente com os números e não com a fidelidade bíblica na exposição. Concordo que existam grandes pregadores fiéis em nosso tempo e que muitos deles sabem o que é ficar sozinhos quando defendem alguma grande verdade evangélica preterida por nossos dias, mas o que estou dizendo é que ser um pregador da Verdade com essa ânsia numérica é algo bastante desafiador. Na minha opinião o pregador não devia se importar demasiadamente com recursos persuasivos para fazer a sua audiência mais suscetível a algum tipo de convencimento, mas sim em buscar a emancipação do espírito dessa época, que autoritativamente clama por "pastores de sucesso", que repudia os ministros de campos pequenos, como se esses não pudessem ser homens aprovados pelo simples fato de não terem a "reputação" tão pretendida por muitos.

Outra questão importante é que o fato de estarmos em pequenas congregações não nos deveria permitir que olhássemos como objetivo o pastorear grandes rebanhos. Não que eu ache que seja necessário termos pequenas igrejas, como se esse fosse o fardo de todo pastor bíblico, mas que devêssemos nos contentar com aquilo que o Senhor nos confiou, mesmo que isso implique em ser praticamente desconhecido pastoreando uma igreja pequena. Existem grandes oportunidades em uma pequena congregação, que o pastor fiel pode e deve se utilizar quando realiza seu ministério aprovado. Ele tem mais tempo para admoestar pessoalmente cada irmão, numa exposição não apenas de púlpito, mas pessoal, ensinando a Bíblia de casa em casa, admoestando seu rebanho de maneira sóbria e atenciosa. Ele terá mais tempo para se dedicar ao estudo, deverá ler mais e deverá orar mais, uma vez que faça o trabalho de uma maneira mais objetiva e particular. 

A pregação da Palavra para todo ministro, seja ele pertencente a uma igreja grande ou pequena deveria ser feita debaixo de algumas práticas bem salutares, tanto para o ministro quanto para a igreja que ele pastoreia, vejamos algumas delas nessa breve consideração:

A Palavra é a Palavra de Cristo
Não estamos em frente do nosso povo para pregarmos nossas próprias palavras. Estamos diante de nossos irmãos como um arauto, que fala as Palavras do Rei aos seus concidadãos e não como se fossemos o próprio rei em pessoa. Tenho notado, infelizmente em nossos dias que alguns pregadores são, de fato, grandes oradores. São homens hábeis em entreter o povo, em dizer-lhes coisas cotidianas, mas que quase nunca prestam às honras que a prédica merece, ou seja o lugar de honra em nossas considerações quando estamos diante do povo que Deus nos confiou. Quanto a isso gostaria de lembrar as seguintes palavras do apóstolo Paulo: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande temor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1Co 2.1-4). Aqui o apóstolo revela qual foi sua abordagem diante de homens de origem grega, acostumados com grandes oradores, que naquela ocasião desejavam ver o Evangelho sendo pregado com a mesma técnica daqueles homens, algo totalmente renunciado por Paulo. Perceba que nessas palavras o apóstolo escolhe não fazer tal coisa, ou seja, pregar com "ostentação de linguagem", algo que sem dúvida ele tinha condições, porém escolhe não fazer em razão do seu compromisso com "o Cristo crucificado".

Acho que temos muito o que aprender com esse exemplo. Temos que nos desvencilhar de toda e qualquer aspiração para o sucesso, de toda e qualquer situação que nos faça perder o objetivo da pregação, que é pregar a respeito de Cristo e esse crucificado. Qualquer pregação que não se enquadre nesses parâmetros não é de fato uma genuína pregação, pois diz muito pouco acerca de Cristo e muito acerca de quem prega, sendo assim um grande erro e um grande despréstimo para quem precisa se beneficiar da Palavra de Cristo.

A exposição nossa maior tarefa
Temo que nossa geração se acostumou com essa prédica existencialista e mística de nossos dias. Existem audiências que já se preparam para embarcar, misticamente, em uma jornada sem volta, através de uma pregação humanista. A audiência, entenda-se aqui igrejas, são extremamente suscetíveis a esse tipo de abordagem e quase ou nenhuma preocupação creditam à exposição. Nenhuma outra forma de pregar é tão importante quanto a exposição. Ela consiste em considerar acuradamente cada verdade enunciada no texto bíblico, procurando trazer a nós o real sentido do texto, o sentido pretendido pelo escritor sacro, que sem dúvida era a intensão do Senhor a nos deixar tais palavras. Para nos familiarizar com a exposição precisamos que uma verdadeira via de mão dupla seja estabelecida: A do pastor que deve se empenhar em conhecer detidamente a Bíblia, suas línguas, sua história, sua teologia e a igreja que deve também ser educada de modo a se preparar para ouvir apenas as Escrituras sem nenhum tipo de artifício que venha a prejudicar a sua absorção. 

Aqui reside a grande dificuldade, essa via é muito difícil de se estabelecer, e eu diria até mesmo muito dolorosa. Da parte do pastor que precisa se policiar quando à tentação de exercer um ministério pífio onde o estudo dedicado não lhe seja uma constante, onde as técnicas aprendidas durante o seminário nunca foram repensadas e adequadas à excelência de exposição. Nesse caso deve o pastor fazer uso de grande tempo de dedicação aos estudos, bem como ter o costume de investir parte dos seus recurso na aquisição de bons livros que o façam pensar teologicamente, de modo a instruir de maneira capacitada o seu povo. Acho também muito próprio a utilização de reciclagens, onde o obreiro seja enviado para cursos de pós-graduação e simpósios onde possa interagir com outros ministros, que conheça a realidade do campo como a nenhum outro e que seja instrumento de promoção de uma cultura bíblica em sua comunidade. Tais atribuições são realmente grandes, mas é necessário buscá-las, caso queiramos ser encontrados fiéis.

Quanto à igreja deve esta buscar manter uma excelência no púlpito e isso deveria ser tarefa dos presbíteros ou líderes de cada comunidade. É preciso conhecer aqueles que desejam se fazer ministros nessas comunidades, saber de suas experiências ministeriais, suas antigas igrejas, buscar conhecimento de sua reputação entre outros cuidados. Mas sobretudo deve-se buscar uma sucessão inspiradora do púlpito em qualquer comunidade. Isso se consegue fazendo com que a igreja seja saturada com a genuína pregação. Pouco a pouco a igreja acostuma com a exposição, ela percebe que o alimento que se é dado em seu púlpito realmente supre, realmente alimenta e realmente traz efeitos duradouros. Essa preocupação, do ministro e da igreja, afastará os lobos e as heresias e manterá a igreja em perfeita saúde espiritual. Remédio melhor do que esse não há e deve ser aplicado sem restrição.

Conclusão
Certamente é necessário que busquemos, o quanto depender de nós, fazer com que a Palavra de Cristo seja conhecida. Isso implica dizer que nem sempre o seremos. Que os homens lembrem-se mais do Evangelho do que de nós. Não deveríamos percorrer o caminho da fama quando buscamos a glória de Cristo. Deveríamos percorrer o caminho do servo humilde e inútil que não faz outra coisa a não ser buscar a honra e a glória do nosso Salvador. Nossas igrejas necessitam conhecer o "velho caminho" que caminharam todos os santos do passado, o caminho do Evangelho. Eles não conseguirão conhecer esse caminho a não ser que a verdadeira pregação seja poderosamente recuperada com fidelidade. Que Deus nos conduza a sermos qualificados para tanto e que nossas igrejas, perpetuamente, sejam orientadas e alimentadas com o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Soli Deo Gloria!  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

496 ANOS DE REFORMA E AS IMPLICAÇÕES DO MOVIMENTO REFORMADO PARA A IGREJA BRASILEIRA

Estamos no mês de outubro, mês que, mormente comemoramos o aniversário da grande Reforma do século XVI. Esse acontecimento que sem dúvida alguma é um marco para a igreja de Cristo, uma vez que nos libertou de inúmeras superstições, adquiridas aos montões durante séculos de obscurantismo, nos chamando ao caminho das Escrituras. Essa data deve realmente ser comemorada como um grande dia. Todas as honrarias ao Deus da história são insuficientes para mensurar tão grandes benefícios.

A Reforma teve seu florescimento na Europa depois que o monge Agostiniano Martinho Lutero contesta as práticas da igreja medieval sobre as indulgências. As intenções com as 95 teses não eram outras a não ser convocar a todos para as reflexões apontadas nestas teses, aliás, a prática em questão era muito comum e teria passado despercebida se não fosse a soberania de Deus conduzindo o movimento.

A Reforma não se restringiu apenas aos países europeus que alcançou, mas também teve seus reflexos em países que foram posteriormente colonizados pelos anglo-saxões, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul. No Brasil tivemos algumas ocasiões onde as influências reformadas foram de alguma forma marcantes. Já no Brasil colonial os Franceses huguenotes tentaram estabelecer o calvinismo em uma empreitada que foi frustrada internamente entre os anos de 1555 e 1560. Naquela ocasião os pastores enviados por Calvino não conseguiram estabelecer a fé reformada em razão da dura oposição sofrida por membros da missão que ainda eram católicos romanos.

Outra tentativa foi o período holandês no Nordeste brasileiro. Esse período marcante em nossa história ocorreu entre os anos de 1630 e 1637. Apesar de se tratar de uma questão comercial, onde a prioridade era a conquista da região que produzia a cana de açúcar, também se tratou de um empreendimento religioso e esse foi à tentativa de se estabelecer a fé reformada na então colônia. Naquele período igrejas reformadas foram plantadas em todo nordeste e até mesmo os índios aderiram à fé e foram tratados com muito respeito, superior aos dos portugueses católicos.

Por fim, existe o período que vem até os nossos dias, onde podemos destacar o período conhecido como o das igrejas de missões. Destas igrejas que inicialmente evangelizaram brasileiros podemos destacar inicialmente os Luteranos (1817), Congregacionais (1855), Presbiterianos (1859) e Batistas (1871).

Desde então a população brasileira, conta em sua totalidade, com uma expressiva parcela de seus habitantes que professam ser de origem protestante. A grande maioria deles atualmente é de linha pentecostal, sendo a Assembleia de Deus a maior denominação desse segmento. Segundo estatísticas recentes, estima-se que em 2040 os protestantes serão a religião dominante no país, uma situação raríssima em qualquer lugar do planeta (veja reportagem aqui do site Exame.com). Nesta atual conjuntura, o que se espera da fé Reformada em nossa nação para os próximos anos, qual é o quadro atual? O que pode ser feito? Essas são as questões que procuraremos tratar neste post, sem tencionar ser exaustivo, mas buscando melhorar o debate.

 A FÉ REFORMADA PARA OS PRÓXIMOS ANOS

No artigo “Os calvinistas estão chegando” (veja aqui o post) publicado no blog O TEMPORA, O MORES, o reverendo Augustus Nicodemus ressalta o crescimento da fé reformada em todo o mundo e cita aquilo que já podemos perceber em nosso país, onde crescem grandemente o número de eventos que contam com palestrantes reformados e outros que são exclusivamente dessa linha, como a Conferência Fiel para Pastores e Líderes, que ano passado juntou aproximadamente 4.000 pessoas interessadas na fé calvinista, além de outros tantos que acessaram o link da Conferência pela internet.

Espera-se, com a adesão de jovens evangélicos, que até mesmo estão em igrejas de linha pentecostal, que estes sejam introduzidos ao conhecimento reformado. Isso se deve a imensa propaganda disseminada na internet através de blogs e vídeos do Youtube, onde pastores como John Piper, Paul Whaser e outros são imensamente visualizados por uma crescente gama de pessoas que buscam saber um pouco mais sobre esses pastores e suas convicções. Nas igrejas que foram plantadas sob a perspectiva reformada também vemos avanços bem significativos, como o crescimento dos batistas reformados e dos presbiterianos que constantemente são despertados para suas antigas doutrinas. No nordeste brasileiro atualmente vemos o crescimento de grandes eventos relacionados à fé reformada, como por exemplo, o Congresso de Consciência Cristã realizado nos feriados de carnaval em Campina Grande-PB e o Congresso dos Puritanos realizado em Alagoas. Recife, no Estado de Pernambuco, parece também entrar nesse cenário, recentemente o Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) vem realizando eventos que contam com um grande número de pessoas, ao exemplo, o Congresso de Aconselhamento Bíblico ocorrido no mês passado na capital pernambucana.

Todos esses eventos provam a vitalidade da fé reformada em denominações protestantes e em diferentes regiões de nosso país. As perspectivas são animadoras e certamente a influência reformada nos setores evangélicos do nosso país podem até mesmo se estender com o entendimento de que é possível influenciar biblicamente todo esse cenário, com a firmeza doutrinária adquirida durante tantos anos de Reforma Protestante.

A POSTURA NECESSÁRIA

Entendo que ainda estamos muito insipientes em toda a obra reformada em nosso país. Já contamos com inúmeras instituições de peso como editoras, seminários, conferências e outros tantos avanços que fazem da fé reformada um seleiro constante de estudiosos que crescem em conhecimento e ajudam a manter um nível elevado de debate, porém resta-nos estabelecermos nossas instituições teológicas. São extremamente necessárias medidas que concretizem os cursos de pós-graduação para os bacharéis em teologia, que não se concentram apenas nas regiões mais abastadas de nosso país, para isso é necessário que nossos teólogos busquem desenvolver essas regiões, fortalecendo os seminários e proporcionando uma administração menos burocratizada e com maior sensibilidade às necessidades regionais.

Compete às nossas denominações uma postura mais firme sobre a profissão dessa mesma fé, uma vez que muitos insistem em buscar a aceitação de setores que não andam nessa perspectiva e muitas vezes tomam decisões políticas, tratando de questões de grande urgência como a doutrina do culto com evasivas e artimanhas retóricas que nem sempre buscam a fidelidade doutrinária. É dever de nossas igrejas extirpar essa “politicagem” e fazer prosperar uma postura mais comprometida com a fidelidade das Escrituras, pois, assim sendo, teremos como falar de uma verdadeira Reforma, pois essa não acontece apenas com Conferências, Editoras e Instituições, mas com homens piedosos que sejam havidos na educação, mas também em piedade. Sendo instrumentos em suas denominações e que isso seja refletido nas decisões conciliares, sem dúvida isso traria inúmeros benefícios para as mesmas, bem como para o povo que saberá que linha seguem suas denominações, ao invés de acolherem setores pragmáticos e heterodoxos que danificam o Corpo de Cristo.

Devemos favorecer o acesso de livros a população leiga. Precisamos estudar uma maneira de baratear os custos dos livros reformados em nosso país. É necessário que as editoras estejam dispostas a investirem em escritórios regionais ou mesmo lojas em cada região do país, pois os preços cobrados pelo frete pela estatal de Correios encarecem os livros em mais de 20% e isso é muito desestimulante.

É preciso também romper com as “panelas de influência”, pois muitos pensam que ser teólogo reformado é ter aceitação de pessoas de grande influência nesse setor. Isso não nos ajuda no debate teológico, mas centraliza o mesmo em pequenos grupos e isso não faz desenvolver as diferentes perspectivas reformadas. É necessário que nossas denominações favoreçam o acesso a cursos de pós-graduação, permitindo algo mais descentralizado e que invistam recursos nesses cursos. Muitos pastores de pouca condição financeira desejam participar desses empreendimentos, mas muitas vezes são impedidos de chegarem ao propósito acadêmico pelas condições financeiras limitadas do ministério.

CONCLUSÃO


Termino dizendo que o quadro é animador, porém desafiador. Temo que em nosso país apenas uma pequena elite tenha acesso à fé reformada, enquanto que uma grande massa de pessoas, espalhadas nas pequenas cidades e longe dos grandes centros, ainda tenham que conviver com a ignorância de alguns pastores e líderes quanto aos princípios que incendiaram o mundo há quase cinco séculos atrás. Podemos estar perdendo a oportunidade de ampliarmos nossas cercas. Temos recursos e material humano, mas precisamos focar no que queremos, ou seja, influenciar o maior número possível de pessoas e fazer com que nossa fé, realmente seja algo acessível e menos elitizada. Conclamo as grandes denominações protestantes a fazerem seu papel, bem como as editoras e instituições de ensino a também se engajarem. Temos muito ainda para fazer em nossas igrejas locais, mas é necessário um maior empenho de todas as partes, pois precisamos continuar a obra que nossos pais reformados iniciaram. Que Deus abençoe a Reforma em nosso país e que ela verdadeiramente ocorra em toda a sua excelência o quanto antes. Soli Deo Gloria!

domingo, 15 de setembro de 2013

Artigo sobre a pregação do apóstolo Paulo em Antioquia da Pisídia

Já está disponível no site ISSUU um artigo escrito pelo reverendo Fabiano sobre que tem por título "A abordagem evangélica de Paulo na sinagoga dos judeus em Antioquia da Pisídia". O artigo na íntegra pode ser lido aqui. Esse é o primeiro texto publicado nesta temática e os demais você encontra também em nosso blog Evangelismo e Reforma. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Os cegos no buraco, uma parábola para os nossos dias


O ensino para a igreja de Cristo é uma grande responsabilidade. Vivemos uma fé revelacional e isso indica que uma de nossas grandes responsabilidades é justamente repassar o ensino que aprendemos do próprio Cristo a todos aqueles que nosso ministério alcançar.

Talvez uma das grandes dificuldades da igreja atual seja professar uma fé condizente com as Sagradas Escrituras. Vivemos um momento ateológico em nossos arraiais. A igreja de Cristo parece perder o fôlego para o aprendizado das Escrituras e apesar crescer em números nunca vistos em nossa nação, cresce também em ignorância da Bíblia, nossa regra de fé e prática. Nunca se produziu tantas Bíblias, nunca livro algum foi tão lido, mas é verdade que nunca a compreensão de uma mensagem foi tão distorcida em nossos dias.

Será que é do agrado de Cristo que Sua mensagem tenha tantas interpretações e tanta confusão entre aqueles que dizem serem Seus discípulos? Acredito que o texto de hoje nos responde essa pergunta. Não, Cristo não nos chamou para termos uma fé confusa, mas para crermos em Sua uma única Palavra, que é a Sua própria.

O texto em questão está uma porção do livro de Lucas dedicada à exposição de alguns ensinamentos de Cristo sobre diversos assuntos. Talvez o texto correlato de Mateus 15.14 nos ajude a identificar o contexto, pois nos informa que Jesus discutia com alguns fariseus, que julgavam conhecer a Lei, mas que torciam as Escrituras. Em Mateus Jesus profere essas palavras, deixando que os mesmos fossem embora, pois “não passavam de cegos”.

Diante do exposto gostaria de propor um tema para a nossa meditação essa noite: “Os cegos no buraco, uma parábola para os nossos dias”. Justifico o mesmo considerando que essa parábola é realmente algo muito atual na igreja dessa época. Devemos nos esforçar para que não sejamos nem um cego nem o outro, mas sim pessoas que possuam esclarecimentos que nos façam escapar dos abismos da incredulidade e heresia.

Vejamos o que o Senhor que nos ensinar aqui:

A linguagem parabólica de Jesus.
Jesus falava por parábolas – Esse recurso literário utilizado por Jesus tinha nitidamente um objetivo específico. Na definição a parábola serve para fazer uma comparação, uma ilustração de algo ou mesmo uma analogia. A bíblia atribui à parábola o status de enigma (Salmos 49.4 e 78.2).
O objetivo da parábola (Mt.13.10) – O texto nos ensina que tinha o objetivo de revelar o conhecimento espiritual a aqueles que estavam perto, no caso os discípulos, mas também de confundir os que não fazem parte da aliança, os descrentes. Essa dupla função da parábola também pode ser aplicada a toda a Escritura, uma vez que esse é o seu efeito.

A impossibilidade de um cego guiar outro cego.
Jesus propõe algo impossível – No início da parábola Jesus propõe algo impossível. Nenhum cego pode servir de referencial, nem mesmo para ele, quem dirá para os outros. O objetivo do argumento de Jesus é provocar a resposta, algo que Ele faz posteriormente. Ninguém pode conduzir alguém sem que este mesmo conheça o caminho.
Quem são os cegos? – Algumas perguntas são pertinentes aqui, primeiro quem são os cegos. É lógico que o Senhor está falando dos líderes de Israel, conforme a explicação de Mateus 15.14. Mas isso também se aplica de forma mais especifica a outras pessoas, então vejamos. 1) Geral – De uma forma geral são todos que não entendem o Evangelho; 2) Alguém que se considera líder – Esses buscam ensinar aquilo que não aplicam a si mesmos, são, portanto, impostores; 3) Os cegos – O primeiro se faz de líder, enquanto o segundo o cegue irrestritamente.
O que é o ensino? – Sem dúvida a aplicação aqui se refere ao Evangelho. Ninguém pode ensinar aquilo que não conhece. Talvez seja esse um dos grandes problemas existentes na liderança da igreja como um todo, do discipulado e do evangelismo. Isso é refletido na prática de adoração da igreja, na sua liturgia e no seu testemunho.
A quem compete o ensino? – Pelo texto vemos que os líderes da igreja são responsáveis pelo ensino à igreja e à nação em que são chamados a servir. Esses são chamados de guias (Hb 13.17), são responsáveis pelo ensino na igreja e Deus cobrará deles esta questão. Porém algo precisa ser dito aos maridos e pais cristãos: 1) Maridos (1 Tm 2.11, 12 e 1 Co 14.35) – Estes são responsáveis pelo ensino do evangelho as suas esposas, lamentavelmente não é o que vemos hoje em dia. Mas cabe ao esposo o ensino; 2) Pais (Êx. 20.5; Dt 6.7 e Ef.6.1). Os pais são sacerdotes em seus lares. Eles devem ensinar pela vida e testemunho, mas ensinar também pela Palavra. Não deve esperar apenas que a igreja ensine, mas ele também ser, fundamentalmente, o exemplo maior de seus filhos.

O fim catastrófico de tal empreitada.
A negativa de Cristo – Cristo indica que nada que empreendem esses homens será bem sucedido. Ele mesmo responde a indagação e descarta completamente o empreendimento dos homens a uma perspectiva positiva.
Uma catástrofe os aguarda – Nenhum empreendimento que não busque os meios estabelecidos por Deus pode ser bem sucedido. Os crentes são guardados de cair, porque Deus os conduz como conduziu Israel no deserto, com a luz de Cristo. Isso os impede de incorrerem em erro, mas aqueles que não portam essa promessa serão acometidos com um fim catastrófico.
O abismo - A palavra grega βόθυνον (bathynon), significa, abismo, buraco, vala. Seja qual preferir usar, chegamos a uma só conclusão inevitável, não há promessa de salvação para estes aqui. Cristo não lhes promete auxílio, cairão e ficarão prostrados, talvez porque o Senhor tenha em mente o que diz Lucas 17.2 “Melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos”. Tanto em um caso como no outro não existe escape.

Não pensemos que estamos livres dessas ameaçadoras palavras. 
Somos responsáveis pelo ensino do Evangelho. Seja eu como pastor dessa igreja, seja você como discipulador, sejam os pais ou maridos. Não devemos negligenciar o que aprendemos na igreja. Tenhamos cuidado em não nos interessar pelas coisas que pertencem à salvação. Cada um de nós prestará contas a Deus. Não devemos ser cegos, pois ou estaremos na posição do que lidera ou do que é liderado, mas o fim de ambos é um só, o abismo, o barranco.


Tomemos cuidado com aquilo que aprendemos. Tenhamos o costume de inquerir se faz parte ou não do ensino de Cristo. Num mundo como o nosso, muitos são aqueles que desejam nos ensinar, mas pese na balança de Deus que são as Escrituras se tal ensinamento é ou não é fiel. Que Deus nos ajude a apenas seguir a Cristo e a não sermos cegos, caso contrário o nosso fim não será nada interessante. Que Deus nos seja Guia eternamente. 

sábado, 31 de agosto de 2013

Combatendo o desânimo e a estagnação do cristão


Estou certo que todo cristão deve estar preparado para as lutas que acompanham nossa caminhada, portanto não deveríamos estar assustados com as provas e com os embates que sofremos todos os dias. Mas, penso que existem muitos de nós que estão prostrados diante das situações difíceis. Lembremo-nos que somos chamados a convictamente abraçarmos um caminho de austeridade e resignação, portanto, deveríamos temer o desânimo e a fraqueza.

Nesta oportunidade gostaria de falar-lhes acerca de como o desânimo é estagnante e repulsivo. Não deveríamos jamais aceita-lo como algo normal à vida do crente.

No texto proposto vemos como o apóstolo Paulo empreende seus esforços para convencer os crentes gálatas a fugirem da apostasia parcial do Evangelho. Esta apostasia acontece quando nutrimos em nosso coração uma perversão doutrinária, uma heresia que paralisa nossa caminhada no evangelho. Era justamente isso que os crentes gálatas estavam sendo ameaçados. Estavam voltando aos ritos cerimônias da antiga Lei judaica, deixando-se circuncidar, eles, que eram gentios, estavam aderindo com isso não à fé cristã, mas ao próprio judaísmo.

Baseado na argumentação que ele faz sobre esse episódio, gostaria de propor o seguinte tema para a nossa meditação: “Combatendo o desânimo e a estagnação do cristão”. A razão de mencionarmos isso é porque desejo que a igreja de Cristo seja precavida dos perigos existentes na estagnação espiritual, sono profundo que impede nossa marcha e avanço espiritual.

Para que possamos combater tão grande oponente sugiro as seguintes considerações nesse texto:

Somos livres de todo e qualquer julgo mortal (vv.1-4).
Os crentes devem evitar tudo aquilo que busque substituir Cristo de sua adoração e prioridade, vejamos o que o texto nos diz sobre isso:
Devemos evitar o julgo (v.1) – Aqui o apóstolo compara o julgo da Lei a um peso que não é necessário mais carregar. Se nascemos de novo, estamos livres do peso que nos prendia aos aguilhões do pecado, não deveríamos nos sentir presos as propostas sutis desse mundo caído. Assim estavam os gálatas esquecendo-se da cruz e caminhando para aquilo que Cristo já havia conquistado e subjugado, o fardo da Lei.
Cristo sem proveito – Um cristianismo sem Cristo não é cristianismo. Muitos hoje em dia reduzem o cristianismo a uma série de ordenanças e costumes como se o próprio Cristo não tivesse utilidade alguma, isso, repito não é cristianismo e de nada serve diante de Deus.
A incoerência de uma religião falsa (v.3) – Ao deixarmos os fundamentos doutrinais que nos ligam a Cristo, seria como se estivéssemos voltando a um caminho não mais eficiente, suplantado e ultrapassado. Todos aqueles que estão se desfazendo dos meios deixados por Cristo, estão jogando o próprio Cristo na latrina da indiferença. Voltando aos erros do passado que de novo nos prendem à escravidão.
Caídos da graça (v.4) – Esse texto me faz lembrar o que aconteceu com o próprio inimigo, ele caiu da graça. Todos aqueles que se desligam de Cristo caem da graça. Aqui não estamos advogando que um crente genuíno pode perder a salvação, mas que aqueles que pensam estar em Cristo e deixam os fundamentos do evangelho decaem de qualquer oportunidade de salvação. Essa apostasia parcial é um cancro, um câncer purulento, que deve ser expurgado da vida do verdadeiro cristão.

Somos chamados a uma corrida de busca incessante (vv.5-9).
Espera-se de um crente a fé (v.5) – Cristo espera de nós nada mais nada menos do que uma vida de fé. Estranho é se um crente não possui essa fé para prevalecer nos momentos de desânimos. Devemos ter um depósito abastecido, para que quando for necessário usarmos de maneira adequada.
Cerimônias sem valor (v.6) – Vemos aqui como é sem valor algum termos práticas religiosas que não mais são necessárias para provar nossa fidelidade. Os gálatas estavam usando algo que o próprio Cristo aboliu, por isso a indignação de Paulo.
Uma carreira interrompida (v.7) – Essa pergunta de Paulo não fica sem resposta aqui. Quem impediu a carreira que estava proposta foram os próprios crentes que mal preparados espiritualmente foram levados por aqueles que queriam deixa-los debaixo do julgo. De nada adianta portar o nome de cristão e não amar o caminho de Cristo e conhece-lo profundamente.
A massa e o fermento (vv.8-9) – Cristo não persuade ninguém a ser vacilante. Seu chamado é convicto e claro, ninguém deve duvidar que fomos chamados para a convicção e não para vacilar. Paulo nos informa que se somos fermentados com o fermento errado, crescemos de maneira deficiente e não viveremos segundo a vontade de Deus.

Estamos em um caminho contrário a adulação desta época (vv.10-12).
Os perturbadores da igreja (v.10) – Nesse caso aqui era o grupo conhecido como judaizantes que perturbava a igreja, mas hoje quem são? São os libertinos que pedem uma fé sem compromisso? São os de fora, que nos querem ver afastados de Cristo? Ou são os falsos irmãos que nos incitam a rebeldia? Seja quem for, sofrerá condenação, conforme orienta o apóstolo.
O evangelho diferente da adulação de hoje (v.11) – Muitos querem hoje em dia um cristianismo sem Cristo por que desejam fugir do escândalo do cruz. Paulo diz que é possível anular esse escândalo apenas amoldando nossa fé as exigências dessa época fraca.
A mutilação dos inimigos (v.12) – Paulo conclui qual deve ser o desejo de todo cristão fiel, que os inimigos da cruz fossem mutilados de suas blasfêmias. Não devemos tolerar a apatia em nosso meio, irmãos seja de qual natureza ela for.

Todo o nosso caminho deve nos direcionar a glória de Cristo, não nos permitiremos fraquejar quando estamos em tão grande empreendimento. Podemos estar exaustos, mas a espada colou com sangue em nossas mãos, assim como o guerreiro de Davi na batalha. Podemos estar cansados, mas Deus renovará o abatido como de um salto nos porá de pé.

Esquecemos aqueles que nos persuadem a deixar o caminho de Cristo, eles nos desanimam a abandonar a nossa fé, apenas porque desejam nos ver alimentando suas fraquezas. Que Deus nos conforte e nos leve a fugirmos desse vale de apatia que jamais deveriam repousar os guerreiros. Que Deus nos abençoe por meio de Cristo, amém.