sexta-feira, 4 de outubro de 2013

496 ANOS DE REFORMA E AS IMPLICAÇÕES DO MOVIMENTO REFORMADO PARA A IGREJA BRASILEIRA

Estamos no mês de outubro, mês que, mormente comemoramos o aniversário da grande Reforma do século XVI. Esse acontecimento que sem dúvida alguma é um marco para a igreja de Cristo, uma vez que nos libertou de inúmeras superstições, adquiridas aos montões durante séculos de obscurantismo, nos chamando ao caminho das Escrituras. Essa data deve realmente ser comemorada como um grande dia. Todas as honrarias ao Deus da história são insuficientes para mensurar tão grandes benefícios.

A Reforma teve seu florescimento na Europa depois que o monge Agostiniano Martinho Lutero contesta as práticas da igreja medieval sobre as indulgências. As intenções com as 95 teses não eram outras a não ser convocar a todos para as reflexões apontadas nestas teses, aliás, a prática em questão era muito comum e teria passado despercebida se não fosse a soberania de Deus conduzindo o movimento.

A Reforma não se restringiu apenas aos países europeus que alcançou, mas também teve seus reflexos em países que foram posteriormente colonizados pelos anglo-saxões, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul. No Brasil tivemos algumas ocasiões onde as influências reformadas foram de alguma forma marcantes. Já no Brasil colonial os Franceses huguenotes tentaram estabelecer o calvinismo em uma empreitada que foi frustrada internamente entre os anos de 1555 e 1560. Naquela ocasião os pastores enviados por Calvino não conseguiram estabelecer a fé reformada em razão da dura oposição sofrida por membros da missão que ainda eram católicos romanos.

Outra tentativa foi o período holandês no Nordeste brasileiro. Esse período marcante em nossa história ocorreu entre os anos de 1630 e 1637. Apesar de se tratar de uma questão comercial, onde a prioridade era a conquista da região que produzia a cana de açúcar, também se tratou de um empreendimento religioso e esse foi à tentativa de se estabelecer a fé reformada na então colônia. Naquele período igrejas reformadas foram plantadas em todo nordeste e até mesmo os índios aderiram à fé e foram tratados com muito respeito, superior aos dos portugueses católicos.

Por fim, existe o período que vem até os nossos dias, onde podemos destacar o período conhecido como o das igrejas de missões. Destas igrejas que inicialmente evangelizaram brasileiros podemos destacar inicialmente os Luteranos (1817), Congregacionais (1855), Presbiterianos (1859) e Batistas (1871).

Desde então a população brasileira, conta em sua totalidade, com uma expressiva parcela de seus habitantes que professam ser de origem protestante. A grande maioria deles atualmente é de linha pentecostal, sendo a Assembleia de Deus a maior denominação desse segmento. Segundo estatísticas recentes, estima-se que em 2040 os protestantes serão a religião dominante no país, uma situação raríssima em qualquer lugar do planeta (veja reportagem aqui do site Exame.com). Nesta atual conjuntura, o que se espera da fé Reformada em nossa nação para os próximos anos, qual é o quadro atual? O que pode ser feito? Essas são as questões que procuraremos tratar neste post, sem tencionar ser exaustivo, mas buscando melhorar o debate.

 A FÉ REFORMADA PARA OS PRÓXIMOS ANOS

No artigo “Os calvinistas estão chegando” (veja aqui o post) publicado no blog O TEMPORA, O MORES, o reverendo Augustus Nicodemus ressalta o crescimento da fé reformada em todo o mundo e cita aquilo que já podemos perceber em nosso país, onde crescem grandemente o número de eventos que contam com palestrantes reformados e outros que são exclusivamente dessa linha, como a Conferência Fiel para Pastores e Líderes, que ano passado juntou aproximadamente 4.000 pessoas interessadas na fé calvinista, além de outros tantos que acessaram o link da Conferência pela internet.

Espera-se, com a adesão de jovens evangélicos, que até mesmo estão em igrejas de linha pentecostal, que estes sejam introduzidos ao conhecimento reformado. Isso se deve a imensa propaganda disseminada na internet através de blogs e vídeos do Youtube, onde pastores como John Piper, Paul Whaser e outros são imensamente visualizados por uma crescente gama de pessoas que buscam saber um pouco mais sobre esses pastores e suas convicções. Nas igrejas que foram plantadas sob a perspectiva reformada também vemos avanços bem significativos, como o crescimento dos batistas reformados e dos presbiterianos que constantemente são despertados para suas antigas doutrinas. No nordeste brasileiro atualmente vemos o crescimento de grandes eventos relacionados à fé reformada, como por exemplo, o Congresso de Consciência Cristã realizado nos feriados de carnaval em Campina Grande-PB e o Congresso dos Puritanos realizado em Alagoas. Recife, no Estado de Pernambuco, parece também entrar nesse cenário, recentemente o Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) vem realizando eventos que contam com um grande número de pessoas, ao exemplo, o Congresso de Aconselhamento Bíblico ocorrido no mês passado na capital pernambucana.

Todos esses eventos provam a vitalidade da fé reformada em denominações protestantes e em diferentes regiões de nosso país. As perspectivas são animadoras e certamente a influência reformada nos setores evangélicos do nosso país podem até mesmo se estender com o entendimento de que é possível influenciar biblicamente todo esse cenário, com a firmeza doutrinária adquirida durante tantos anos de Reforma Protestante.

A POSTURA NECESSÁRIA

Entendo que ainda estamos muito insipientes em toda a obra reformada em nosso país. Já contamos com inúmeras instituições de peso como editoras, seminários, conferências e outros tantos avanços que fazem da fé reformada um seleiro constante de estudiosos que crescem em conhecimento e ajudam a manter um nível elevado de debate, porém resta-nos estabelecermos nossas instituições teológicas. São extremamente necessárias medidas que concretizem os cursos de pós-graduação para os bacharéis em teologia, que não se concentram apenas nas regiões mais abastadas de nosso país, para isso é necessário que nossos teólogos busquem desenvolver essas regiões, fortalecendo os seminários e proporcionando uma administração menos burocratizada e com maior sensibilidade às necessidades regionais.

Compete às nossas denominações uma postura mais firme sobre a profissão dessa mesma fé, uma vez que muitos insistem em buscar a aceitação de setores que não andam nessa perspectiva e muitas vezes tomam decisões políticas, tratando de questões de grande urgência como a doutrina do culto com evasivas e artimanhas retóricas que nem sempre buscam a fidelidade doutrinária. É dever de nossas igrejas extirpar essa “politicagem” e fazer prosperar uma postura mais comprometida com a fidelidade das Escrituras, pois, assim sendo, teremos como falar de uma verdadeira Reforma, pois essa não acontece apenas com Conferências, Editoras e Instituições, mas com homens piedosos que sejam havidos na educação, mas também em piedade. Sendo instrumentos em suas denominações e que isso seja refletido nas decisões conciliares, sem dúvida isso traria inúmeros benefícios para as mesmas, bem como para o povo que saberá que linha seguem suas denominações, ao invés de acolherem setores pragmáticos e heterodoxos que danificam o Corpo de Cristo.

Devemos favorecer o acesso de livros a população leiga. Precisamos estudar uma maneira de baratear os custos dos livros reformados em nosso país. É necessário que as editoras estejam dispostas a investirem em escritórios regionais ou mesmo lojas em cada região do país, pois os preços cobrados pelo frete pela estatal de Correios encarecem os livros em mais de 20% e isso é muito desestimulante.

É preciso também romper com as “panelas de influência”, pois muitos pensam que ser teólogo reformado é ter aceitação de pessoas de grande influência nesse setor. Isso não nos ajuda no debate teológico, mas centraliza o mesmo em pequenos grupos e isso não faz desenvolver as diferentes perspectivas reformadas. É necessário que nossas denominações favoreçam o acesso a cursos de pós-graduação, permitindo algo mais descentralizado e que invistam recursos nesses cursos. Muitos pastores de pouca condição financeira desejam participar desses empreendimentos, mas muitas vezes são impedidos de chegarem ao propósito acadêmico pelas condições financeiras limitadas do ministério.

CONCLUSÃO


Termino dizendo que o quadro é animador, porém desafiador. Temo que em nosso país apenas uma pequena elite tenha acesso à fé reformada, enquanto que uma grande massa de pessoas, espalhadas nas pequenas cidades e longe dos grandes centros, ainda tenham que conviver com a ignorância de alguns pastores e líderes quanto aos princípios que incendiaram o mundo há quase cinco séculos atrás. Podemos estar perdendo a oportunidade de ampliarmos nossas cercas. Temos recursos e material humano, mas precisamos focar no que queremos, ou seja, influenciar o maior número possível de pessoas e fazer com que nossa fé, realmente seja algo acessível e menos elitizada. Conclamo as grandes denominações protestantes a fazerem seu papel, bem como as editoras e instituições de ensino a também se engajarem. Temos muito ainda para fazer em nossas igrejas locais, mas é necessário um maior empenho de todas as partes, pois precisamos continuar a obra que nossos pais reformados iniciaram. Que Deus abençoe a Reforma em nosso país e que ela verdadeiramente ocorra em toda a sua excelência o quanto antes. Soli Deo Gloria!

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