quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Refletindo nas passagens preferidas no período de eleição

Provérbios 21.1

O mundo inteiro pertence ao Senhor, nada acontece por acaso ou pelo destino. Confiamos plenamente na soberania de Deus e segundo essa doutrina cremos que nada ocorrerá sem a preordenação e permissão divina. Caminhando junto com essa doutrina está àquela chamada de responsabilidade humana, essa nos informa que o homem toma decisões responsáveis perante um Deus Santo. O homem não é uma máquina, mas um ser autônomo e responsável. Essas duas doutrinas não se conflitam, mas se complementam.

Hoje fomos às urnas para eleger nossos representantes no contexto político da nossa nação. Os que forem eleitos nesse processo serão responsáveis por uma parte considerável de nossas vidas nos próximos quatro anos. Temos a responsabilidade perante Deus por nossas escolhas, mas também cremos que Ele está conduzindo nossa história. Mesmo os nossos erros estão sendo administrados por Deus e é por essa razão que trabalhamos para que nossas decisões reflitam os valores do Reino, quando isso acontece, somos abençoados, mas quando fazemos o contrário, não nos resta nada a não ser pagarmos pelas decisões que tomamos equivocadamente.

Dentro desse conceito de eleições eu gostaria de refletir sobre quatro passagens bíblicas que são geralmente evocadas nessa época. Gostaria de refletir quais são as implicações dessas passagens, saber se realmente aplicamos elas corretamente quando as usamos e vermos o que podemos deduzir de tais passagens. Para isso, a fim de nos orientar, gostaria de sugerir um título: “Refletindo nas passagens preferidas no período de eleição”. Sei que não serei exaustivo na exposição, mas buscarei instruir a igreja naquilo que Deus deseja para nós, nesses momentos onde estamos fitos naquilo que esse processo eleitoral nos reserva.

Considere comigo as seguintes lições das seguintes passagens:

Salmo 33.12, a nação feliz governada pelo Senhor.
Essa passagem bíblica é exaustivamente usada por políticos cristãos. Segundo a comum interpretação, eles entendem que uma nação governada por Deus envolve representantes que sejam fiéis, que tenham princípios cristãos a fim de tornar uma nação realmente governada por Deus. Observemos o texto de perto e vejamos as lições que podemos tirar dele:

Contexto – Esse salmo de romagem demonstra um dos benefícios da comunidade do pacto na antiga dispensação. O salmista está especificando os benefícios da nação de Israel em comparação com as outras nações. As outras nações rivais a Israel confiam em reis, exércitos, homens valentes (v.16), mas Israel confia em Deus.

Relevância para nós – Esse texto tem por base uma nação que pactualmente depende de Deus, logo, bem sabemos que quase nenhuma nação atualmente goza desse privilégio. Mesmo Israel atualmente não tem o direito de se por dessa forma, uma vez que esses negaram o Messias. Este status que foi dado a Israel, nenhuma outra nação possui atualmente.

Aplicação espiritual – É inegável que as nações que tem a graça de que homens de Deus governem estão mais próximas de serem conduzidas por Deus para Seus propósitos santos, mas isso não quer dizer que Deus não possa nos abençoar sob o governo de ímpios. A Inglaterra do século XVI, sob o governo de Mary “a sanguinária” recebeu talvez os homens mais santos da Europa ocidental e isso foi uma bênção para a igreja daquele país.

Provérbios 21.1, o coração do rei nas mãos do Senhor.
Essa passagem é bastante usada para demonstrar a regência de Deus sobre o coração do rei. E isso quer dizer suas volições, vontades e inclinações. Vejamos a mesma mais de perto:

Contexto – O livro de provérbios é uma coletânea de pensamentos em linguagem de sabedoria. O mesmo é atribuído ao rei Salomão, que pediu sabedoria a Deus e recebeu. O texto em questão se enquadra nesse conceito, pois não tem nexo com o restante dos outros versos a não ser o verso seguinte provavelmente.

Relevância para nós – Deus continua sendo o administrador do coração de qualquer líder que haja no mundo. Esse não é um privilégio apenas de Salomão. Mesmos reis ímpios são usados por Deus como Ciro, são usados por Deus para obedecerem ao Seu propósito (Isaías 45.1). Esse conceito ajuda-nos a confiar no governo de Deus, mais exaltado do que qualquer governo.

Aplicação espiritual – Nesse entendimento entendemos que toda história obedece à determinação do Senhor, mesmo reis ou governantes que não conheçam ao Senhor podem ser usados por Ele e isso Ele o faz. Eles seguem o curso que Deus determinou, mesmo sem saber, mesmo sendo eles descrentes e ímpios. Somos confortados com o governo de Deus sobre toda a terra.

Provérbios 29.2, o governo dos justos.
Outra passagem preferida pelos políticos cristãos é essa que estamos analisando. Segundo eles, apenas quando somos governados por justos teremos o lenitivo, em contrapartida um governo ímpio é uma tragédia para o povo. Vejamos o que podemos aprender aqui:

Contexto – Nem todas as traduções traduzem בִּרְב֣וֹת - birōw por governo. Algumas usam a expressam como “multiplicar”, como no caso da revista e atualizada. Na King James a tradução é “tem autoridade”, logo, nem todas indicam governo, na forma como conhecemos. Segundo a tradução que usamos pode ser entendida somente como quando crescem os fiéis há mais justiça sobre a terra.

Relevância para nós – Deus não depende de governos para fazer a Sua vontade. Na época de Cristo existia claramente um governo muito distante dos propósitos divinos, mas foi a época conhecida como plenitude dos tempos. No período apostólico a igreja conheceu talvez a pior perseguição que já houve, no entanto, foram dias de crescimentos expressivos em número e em piedade. Nesse caso os justos se “multiplicaram”, mesmo sem a interferência no Estado.

Aplicação espiritual – O texto nos conclama a buscarmos a expansão do Reino de Deus através de nossas vidas santificadas, no testemunho, piedade, evangelismo, igrejas sadias. Não nos diz que devemos ter um “projeto de poder”, ou seja, dominarmos todas as esferas culturais e sociais. Isso pode acontecer um dia, mas enquanto isso não acontece devemos continuar nossa marcha de levarmos pecadores aos pés de Cristo.

Mateus 22.21, o que pertence a César e o que pertence a Deus. Finalizando estaremos observando o último texto, esse por sua vez está no Novo Testamento e foi dito pelo próprio Senhor Jesus Cristo.

Contexto – Jesus está sendo questionado o pelos discípulos dos fariseus e pelos herodianos (v.16). O primeiro grupo já estava a algum tempo buscando fazer o nosso Senhor cair em alguma falha na Lei de Moisés. O segundo grupo tinha uma bajulação subserviente à Roma, então todos estavam interessados em saber um pouco sobre a opinião do Senhor sobre as questões relativas ao Estado. Seria Jesus contrário ao Estado? Eram essas as questões envolvidas aqui.

Relevância para nós – A fé cristã não se opõe as organizações humanas como o Estado. Jesus deixou claro que ambos podem coexistir, a fé e as responsabilidades cívicas. Não somos como os anabatistas no passado, contrários e com pensamentos anarquistas quanto a toda forma de governo. Servimos a Deus neste mundo como peregrinos, sabendo que nossa pátria está no céu. “Tememos a Deus e honramos o rei” (1 Pedro 2.17).

Aplicação espiritual – Enquanto depender de nós trabalharemos exaustivamente para que todas as esferas de nossa atuação nesse mundo caído reflitam os princípios do Reino de Cristo. Ele reina, mesmo que esses princípios não estejam plenamente estabelecidos. Nós somos instrumentos desse Reino, vivemos como se lá vivêssemos, com isso cumprimos a determinação de Cristo exposta nesse texto.

Quando descansamos nessa expectativa, ou seja, Deus governa o mundo, entendemos que nada pode impedir o avanço fiel de sua Grei. Somos instrumentos de Deus nessa terra, seja em nossas famílias, nossa sociedade e em nosso Estado. Os governantes dessa nação estarão nas mãos de Deus, sejam eles crentes ou descrentes. Nenhum deles tem autonomia de governarem sem Deus. É por isso que oramos para que eles exerçam seus governos com a bênção de Deus. Que a igreja não seja tocada por eles, pois assim sendo a ira de Deus vira sobre os mesmos.


Seja quem for que seja eleito, hoje e no futuro, serão como todos os outros do passado, apenas homens que Deus colocou ali. Não estão neles a nossa confiança de coisa alguma. Nossa confiança está em Deus. É nEle que descansamos, e é somente nEle que iremos viver. Que Deus conduza todas as coisas em nosso país. Que os justos se “multipliquem”, que os crentes trabalhem para o bem de nossa pátria e que Deus governe todas as nossas esperanças, amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário