terça-feira, 11 de julho de 2017

CONHECENDO O CONCEITO ENCARNACIONAL DE MISSÃO DA IGREJA


A encarnação de Cristo nos possibilitou conhecer a divindade e sua gloriosa existência. Assim proclama o Evangelho de João em seu primeiro capítulo, verso 14. A encarnação de Cristo é celebrada na maior festa da cristandade, o natal. Jesus, como afirmam alguns “tabernacula” conosco ao vir a esse mundo, viver 33 anos entre seres caídos e retorna para o Pai, não sem antes demonstrar a gloriosa perspectiva da divindade e não somente isso, mas também deixa lições profundas para a igreja em todos os tempos, a necessidade de sermos encarnacionais em nossa mensagem ao mundo.

Há pouco tempo tenho me deparado com conceitos advindos da igreja missional e esses conceitos têm me ajudado a compreender a necessidade de termos uma igreja mais atuante nesse mundo. Alguns estudiosos, de dentro e de fora da igreja, têm comentado acerca daquilo que é denominado de período pós-cristandade e também outro termo correlato seria pós-modernidade. Os dois termos abordam expectativas que indicam um movimento de abandono da influência do cristianismo no mundo ocidental. Esse abandono torna a cultura hodierna em uma afluência ao ceticismo e porque não dizer ao neo-paganismo. Outros nos lembram duma ideia que se esvai, deixando um vazio que ao se deixar é logo preenchido por outra ideia que se posiciona de forma subsequente, portanto, podemos ter certeza que o movimento de abandono dos padrões cristãos no Ocidente já estão sendo preenchido por conceitos pós-cristãos, alavancados pela pós-modernidade.

Alan Hirsch descreve da seguinte forma o conceito encarnacional em sua página no facebook[1]:

Eu uso a palavra (encarnacional) para descrever esse modo de engajamento missionário que leva a sugestão da doutrina da Encarnação de Deus em Cristo. Se missional se refere à nossa "sentença" como crentes / igreja, então encarnacional dá forma a entendermos como devemos nos envolver nessa missão. Deus veio ao mundo em um ato de identificação profunda, não só com a humanidade como um todo, mas com um grupo particular de pessoas. Que Ele estava na vizinhança por 30 anos e ninguém percebeu, isso nos diz muito sobre Deus e como Ele se envolveu na situação humana. A Encarnação nos mostra que Deus fala a partir de uma cultura particular, de maneira que as pessoas possam perceber, entender e responder. A Encarnação nos dá o modelo bíblico primário de engajamento - é assim que Deus faz isso e nós que seguimos seu Caminho. Devemos seguir os seus passos. A missão encarnacional exige que contextualizemos o Evangelho de forma que sejam valorizadas as situações culturais e existenciais particulares dos vários povos, sem comprometer a própria missão. Ser missional significa sair (ser enviado) para o mundo, então, o ser encarnacional significa entrar profundamente em uma cultura.”

Nesse conceito defendido por Hirsch, o modelo principal do conceito é a atitude do próprio Cristo, logo, a postura dos seguidores de Cristo deve ser copiar o exemplo de Cristo, na relevância que Ele atribui a Sua missão, misturando-se, sem, contudo, contaminar-se com os pecados, da raça humana, frequentando festas, comendo e construindo pontes relacionais com aqueles que Ele pregava o Evangelho.

As igrejas que defendem o modelo encarnacional, são, portanto, mais abertas à compreensão cultural do ambiente onde estão inseridas. Isso ajuda a conhecer as demandas, frustrações e perspectivas daqueles que são evangelizados. Alguns podem objetar  essa ideia defendendo que nós só precisamos conhecer a cultura bíblica e tornar nossa mensagem mais parecida com aquela da igreja apostólica e não conhecer as questões culturais que estão sendo desenvolvidas no mundo. Essa postura despreza uma série de demandas e principalmente isola a comunidade cristã em uma espécie de gueto religioso afastando das ansiedades atuais, consequentemente inviabilizando o testemunho e o relacionamento cristão. Se o Senhor tivesse essa postura nós nunca saberíamos acerca da Sua divindade, nem tão pouco conheceríamos a Sua graça e misericórdia.

O conceito de igreja encarnacional também se contrapõe a aquilo que é definido como igreja “atracional ou extracional”, ou seja, a igreja que espera que seu poder atrativo na comunidade leva os não crentes a desejarem conhecer essa igreja. O problema com essa perspectiva é que segundo defende Hirsch em seu livro “On the Verge” apenas 40% das pessoas afirmam que frequentariam uma igreja nos moldes atracionais. O que fazer com as outras 60%? Pessoas que não veem relevância na igreja e que, portanto, não frequentariam seus templos apenas porque estes estão abertos em determinados horários.

Somente uma igreja que se preocupe em levar aos não crentes uma forma atraente da mensagem de Cristo, num conceito que se preocupe em responder os dilemas da pós-modernidade conseguirá aplicar sua mensagem de forma satisfatória. Crentes que se envolvam na comunidade onde residem, que trabalhem de forma a pregar o Evangelho a colegas de trabalho, não de forma espalhafatosa e defeituosa, mas com a centralidade da mensagem cristã, buscando desenvolver relações profundas, conseguirão atingir o foco do evangelho encarnacional.

Sendo assim, nossa defesa por esse modelo passa por uma compreensão profunda da nossa definição de missão. Não é mais uma tarefa para profissionais remunerados, mas a tarefa da igreja, como foi no início, tendo a igreja de Antioquia (Atos 11) seu principal modelo. Crentes que amam o Evangelho precisam compartilhar esse mesmo Evangelho de maneira apaixonada e eficaz. Não basta apenas esperar que os não crentes possam ir a igreja no domingo, a evangelização é um estilo de vida e não um programa da igreja que se faz quando as receitas vão mau.

Que novas comunidades encarnacionais se proliferem no Brasil, que esse conceito não seja apenas uma nomenclatura teológica destituída de significado para os leigos, mas que os pastores possam pregar sobre isso e propagar a redescoberta do estilo de vida cristão que glorifica a Deus com o Evangelho centrado na Palavra e na missão de cada um.




[1] Hirsch Alan https://www.facebook.com/notes/alan-hirsch/what-do-i-mean-by-incarnational/10150189514096009

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A missionalidade da igreja em tempos onde imperam a frouxidão e o legalismo

Antes de iniciarmos esse assunto que não pretendo me delongar muito, não pretendo defender uma ideia “revolucionária”, ou mesmo me sentir um iluminado por conceber a igreja de forma a pensar acerca do que pode dar certo ou errado nela, fazendo ponderações bombásticas e nunca praticadas. Falo ao considerar, sobretudo, aquilo que a bíblia ensina sobre a função da igreja nesse mundo. Pensamos em tudo o que vemos e percebemos que a igreja hodierna tem verdadeira sina por extremos. Neste entendimento vemos grupos que são extremamente frouxos sobre os padrões de moralidade, onde as pessoas que pertencem aos mesmos podem viver sem nenhuma crise de consciência, não sendo confrontados com os padrões exigidos nas Escrituras, bebendo muito, falando palavrões, sendo descuidados com a moralidade e outras licenciosidades e do outro lado encontramos grupos extremamente legalistas em exacerbar os conceitos da Lei, fazendo que a mesma assuma uma proeminência tão grande que pouco se pode conhecer acerca da graça de Deus em seus arraiais. Tais pessoas são tão literalistas que estão dispostas a fincar estacas no radicalismo, vendo os outros como relaxados e infiéis, apenas porque não comungam com eles acerca de um ou outro ponto do Evangelho. Os puristas se consideram os únicos santos autênticos e por essa razão se fecham em seu grupo que consequentemente, respeita suas ideias e estilo de vida.

Estes dois grupos infestam o nosso cenário religioso. A conclusão que vemos nisso tudo é que pouco ou quase nada pode ser realmente vivido se caso pendermos para alguns desses extremos. O Evangelho não é um claustro. Não nos leva a nos isolar do mundo como se desejássemos uma “subcultura” ou mesmo “uma cultura de gueto”. Muito pelo contrário o Evangelho nos leva a nos relacionar com o mundo de forma transformadora e imersionista. O cristão de fato, não vive às margens da cultura ou do seu relacionamento com o mundo, mas pensa a cultura com a visão que Deus tem da cultura, ou seja, vendo a cultura que é concebida de forma ímpia com a necessidade de modificação e usando aquilo que é possível usar de maneira a fazer pontes para relacionamentos, que possam ser redentivos quanto a proclamação do Evangelho.

Quanto ao outro grupo, os legalistas, buscamos de modo sábio leva-los a conhecer a liberdade de Cristo, procurando libertá-los das amarras da religião que aprisiona o homem, que faz com que sejam vistos conceitos cristãos apenas na superfície e não na devida profundidade. Por essa razão, é necessário ponderar a maneira como se debate, mas nunca se entregando a uma posição ofensiva, por parte daqueles que desejam uma discussão sincera. Sempre levando em consideração que o Senhor Jesus não levantava sua voz ao debater com os fariseus e que muitas vezes os deixou falando sozinhos, pois os mesmos não apenas estavam errados acerca dos pontos levantados pelo Senhor, mas também eram intransigentes na defesa de seus posicionamentos inviabilizando um debate que pudesse produzir vida ou lhes trazer algum benefício espiritual.


Em nossa defesa de uma conduta missional precisamos nos conscientizar que não estar nesses dois polos nos coloca em uma condição desfavorável, pois, teremos poucos que juntarão forças ao nosso lado. Porém, isso não pode barrar nossa condição de luta em favor de sermos ouvidos. Sempre procurando observar o Evangelho de modo que este, por ser fator que liberta os homens das amarras do pecado, da licenciosidade e do legalismo. Os dois pontos são extremamente danosos a mensagem bíblica e devem ser postos como extremos e depreciativos ao Evangelho de Cristo. Que Deus nos faça manter o real equilíbrio e sejamos usados assim, amém.