sexta-feira, 12 de março de 2010
Vivendo na Entressafra
A entressafra na agricultura é um período essencialmente angustiante, pois se deve preparar a terra para a safra que chegará na devida estação. Também é um momento onde o agricultor suporta grandes dificuldades financeiras, caso não tenha se programado. Hoje estamos vivendo um período similar quanto aos pregadores do Evangelho. Comparativamente ao período da entressafra na agricultura, os dias de hoje não são propícios para grandes colheitas. Não me refiro as conversões apenas, pois é de todos sabido que pela graça de Deus, multidões ainda estão sendo salvas, mesmo que a qualidade destes seja também questionada, mas me refiro ao que semeiam, aos que tem a responsabilidade de arar a terra, os ministros do Evangelho. Estes, não colhemos aos montes, como deveria ser.
Parece um tanto quanto emblemático que haja um crescimento entre os convertidos e não haja o mesmo entre os que são responsáveis por estas conversões. Na realidade não se pode desvincular um crescimento do outro. Ou seja, um é totalmente dependente do outro. Como mencionei acima o crescimento dos convertidos vem acompanhado por uma série de “pragas” (para se usar um termo agrícola), que são disseminadas por não haver um controle daqueles que semeiam. Como todo agricultor, ou qualquer profissional que se pressa, estes deveriam estar capacitados, conhecendo cada terreno, cada estação, cada tratamento para uma fertilização e daí por diante.
Temos presenciado em nossa nação uma enormidade de figuras pitorescas entre os cléricos mais conhecidos, aqueles que estão mais na mídia e são os responsáveis por estereótipos em nossa sociedade. Uns são bonachões, querem ser vistos como um típico avô, um tio animado querendo sensibilizar nossas afeições, outros são tão enigmáticos que não se pode dizer com certeza se aquilo que eles estão pregando relembra os princípios fundamentais do Evangelho, outros ainda são subprodutos da mídia televisiva que subscrevem suas cartilhas e assim por diante.
É interessante observar os tipos, eles são diferentes em muita coisa, mas possuem algo em comum, estão muito distantes dos padrões bíblicos de um homem de Deus. Não me refiro apenas aos trejeitos e similares, fica realmente muito difícil copiar ou se espelhar naqueles que estão separados de nós pelo um vácuo temporal de dois mil anos, mas me refiro às qualidades que despertavam os verdadeiros servos do passado, coisas estas que estão em extinção em nossos modelos hodiernos.
Aqueles homens tinham várias características que nos fascinam, mas umas são impossíveis de não serem notadas. Vejamos quais:
1) Profetas – Eram apenas e tão somente portadores de uma mensagem extremamente urgente e pessoal. Esta mensagem deveria ser dada como algo sublime, onde a essência desta mensagem deveria ser mantida e não podia ser maculada com nenhum ingrediente meramente humano. Por esta razão, eram fiéis, não apenas ao que proclamavam, de acordo com a mensagem original, mas com o efeito que esta mensagem e sua própria tarefa exerciam sob o caráter destes homens. Estes que temos hoje em dia, nem de longe lembram estes arautos de um Reino divino, são proclamadores de si mesmo e é exatamente por isso que gastam tantos recursos em promoção pessoal.
2) Avessos a qualquer tipo de fama - Os grandes homens do passado se contentavam com a missão que tinham recebido. Eles não julgavam os seus ministérios pelo nível de receptividade que tinham, nem tão pouco, com quantos o ouviam. Tinham por hábito estarem felizes por serem proclamadores e não importava se falavam a milhares ou apenas a alguns gatos pingados. Os pregadores de hoje desprezam aquilo que não aparece para os homens, são muito parecidos com os fariseus que buscavam os melhores lugares. Ostentam poder e dinheiro e querem o mundo aos seus pés.
3) Reconhecidos pela piedade – Aqueles grandes homens do passado tinham algo em comum, seja em que época viviam, eram homens de joelhos. Viviam essencialmente nessa dependência divina que marcam os verdadeiros fiéis, não se julgavam homens poderosos, mas apenas servos humildes. Tinham costume o de confessar as suas iniqüidades e temiam viver como vivem os mundanos. Estes dos nossos dias nada podemos saber sobre as suas vidas piedosas. É mais fácil os conhecer pelos requintes dos especialistas em marketing, do que pela fama de sua piedade. A internet e a televisão limitam a nossa visão de mundo, bem como mostra apenas aquilo que se quer mostrar. É possível maquiar as imperfeições da alma apenas vendo aquilo que se quer ver.
4) Havidos em tudo o que faziam – Estavam certos que a pregação era urgente e por esta razão não eram displicentes, buscavam o real sentido da mensagem e aplicavam ao sentido atual, para serem despertados por um senso de discernimento que apenas os homens que descansam aos pés do Mestre possuem. Estes dos nossos dias, como pouco sabem sobre doutrinas básicas da fé genuína, pouco tem a oferecer, sua mensagem não é urgente, eminentemente escriturística, mas grandemente holística e existencialista. É mais próxima da religião de Mamôn do que da religião de Jeová. A displicência é também marcante nestes pregadores. Gastam pouco tempo em estudos e se julgam senhores do saber, pregam o refugo no lugar do manjar e estão descansados e satisfeitos com tudo o que fazem.
5) Comprometidos com Deus e não com os homens - Esta era outra característica marcante nos pregadores do passado, a fidelidade a Deus como fator determinante em tudo que faziam. Os homens não lhes podiam ditar as normas de como se portarem, porque haviam aprendido diretamente de Deus. Não queriam ter um ministério fracassado pela desaprovação divina, e ter um ministério que agradasse ao homem caído era deveras degradante a aqueles homens. Hoje o que mais se busca é a honra e a glória dos poderosos e da massa alienada. É ser amigo dos homens do que ser amigo de Deus. As palavras do Senhor ainda estão em nossos ouvidos, “se perseguiram o Dono da casa, perseguiram também os serviçais.” Estes dos nossos dias temem a perseguição, foge-lhes o sono o só pensar em serem reprovados. São covardes como cães que escondem o rabo em uma noite de sono e não vão a frente das ovelhas, mas atrás, na covardia de verdadeiros lobos.
Estas são algumas características que, de fato, diferenciam e muito o evangelho pregado hoje, com aquele pregado pelos notáveis homens de Deus do passado. Pouco se escuta do ribombar profético daqueles dias, somos deploravelmente pobres em exemplos e fortemente afetados por toda uma gama de maus exemplos que infestam a nossa Seara. Estas comparações mencionadas supra, são apenas superficialmente aquilo que nos segrega daqueles homens. Tempos de entressafra são estéreis e quase sempre nos fazem refletir muito. Refletir sobre qual é o tipo de fidelidade que hoje estou observando em meu ministério, esta é consagrada a Deus ou aos homens, refletir sobre estes atuais pregadores, se eles de fato nos representam como ministros, refletir sobre a qualidade que seus ministérios produzem na vida daqueles que são conquistados por eles.
Temo que esta entressafra dure mais do que possamos suportar. É por isso que clamo ao Senhor que tenha misericórdia da mensagem proclamada em diversos púlpitos em nosso país, da qualidade dos crentes que ouvem esta mensagem e também da futura geração que nos sucederá, que Deus nos perdoe de tudo isso. Engrosse este clamor comigo não fique apenas meneando a cabeça se conformando com este século, erga o seu clamor ao Altíssimo Deus, quem sabe ele nos envie dos céus uma colheita grandiosa de homens de Deus, que verdadeiramente mereçam este título, amém.
Rev. Fabiano Ramos Gomes
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