segunda-feira, 6 de junho de 2011

Lobos Vorazes da igreja brasileira

Tenho certeza de que hoje vivemos dias difíceis. Se não bastasse a imensa ignorância teológica de nossos dias vivenciada pela maioria daqueles que se dizem evangélicos, prolifera-se a entrada de ensinos e opiniões heterodoxas. O povo evangélico parece gostar de ser enganado e não é a toa que essa disposição para o engano é tão comum. A religião é por assim dizer, um campo fértil para se conseguir algo de alguém, sem necessariamente forçar a vontade contrária. Uma vez que se absorva o conceito religioso pretendido, as mais diversas falácias desejadas podem ser implantadas em uma mente pouco questionadora e vulnerável a este empreendimento satânico.

No texto de Atos dos Apóstolos 20.29 e 30 o apóstolo Paulo alerta que após a sua partida entrarão no seio da igreja, "lobos vorazes que não pouparão o rebanho", eles na realidade não demonstrarão nenhum tipo de sentimento complacente pela igreja e a razão disso é porque eles não estão preocupados com a igreja, visto não pertencerem a ela. A própria figura utilizada é importante para este entendimento, o lobo é um aproveitador em sua caça, a imagem sugerida é de um animal voraz, faminto para atacar o rebanho, a igreja que se encontra vulnerável até o ataque de terrível algoz. Algumas questões poderiam ser questionadas aqui, por exemplo, porque a igreja se encontra vulnerável diante de tão grande ameaça? Penso que faz parte do propósito divino submeter a Sua própria igreja a esta vulnerabilidade para que a mesma se conduza ao fortalecimento, ou seja, quando ela se posiciona de forma tão indefesa o Senhor pode fazer levantar-se entre os irmãos aquele que poderá conduzi-la de uma maneira adequada. Este um verdadeiro pastor, alguém que venha a proteger e livrar a igreja dessa vulnerabilidade.

Porém o texto deixa claro que a igreja, ainda que naturalmente possa produzir pastores fiéis, ela também pode produzir ervas daninhas perniciosas. É o caso que relatou o nosso Senhor na parábola do joio em Mateus 13. Paulo fala nesse texto com autoridade apostólica e profética. Talvez diante dessa advertência, pouco tempo depois da morte dele, como relatado no livro de Apocalipse, a igreja de Éfeso resistiu a entrada desses lobos (Ap.2.1-7), só que esta luta teve consequências grandiosas para a igreja, o que a fez perder o amor inicial sob pena de ter a sua luz espiritual retirada (candeeiro), caso não se arrependesse.

Hoje, atentos quanto a palavra do apóstolo, vemos as mais variadas doutrinas diante de vários aspectos que englobam questões como sexualidade, vida financeira, cosmologia, providência, adoração, pneumatologia entre outros, no leque preferido pela maioria dos evangélicos sendo imensamente deturpadas. Na realidade as próprias ovelhas do rebanho são responsáveis pela entrada dessas doutrinas uma vez que é requerida da igreja a manutenção da verdade do Evangelho, mas como não culpar os lobos desses nossos dias? Eles, tanto quanto aqueles previstos por Paulo, estão interessados no rebanho. Estão interessados na gordura acumulada de ignorância que muitos vivem hoje. Estes são pressas fáceis uma vez que não são bereanos (Atos 17.11) na forma como recebem os ensinos. Na realidade estas ovelhas estão em pé de igualdade com os seus líderes, uma vez que aprovam os ensinos desses, semelhante ao povo de Israel na época do profeta Oséias (Os 4.4) e semelhante a profecia do mesmo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 4.3, estão cercando-se "de mestres segundo suas próprias cobiças" e obedecendo os ensinos de demônios (1 Tm 4.1).

A falta de conhecimento generalizada (Os 4.6) está comprometendo o próprio testemunho da igreja de Cristo em nossos dias. Não cessam os casos de escândalos a nível nacional e local. Onde líderes e pessoas do povo estão lançando o bom nome do Evangelho no lixo, fazendo do testemunho evangélico um escárnio. Nas palavras do Senhor "um reino dividido não subsiste", no entanto a mensagem do povo evangélico hoje é confusa e desconexa. Parece-se muito com meninos que "sentados na praça, gritam uns para os outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não chorastes" (Lc 7.32). É por isso que uma das palavras mais usadas pelos evangélicos nesses dias não faz nenhum sentido, unção. Não é possível observar esta unção, nem no púlpito, nem na sociedade e nem na vida pública de quase ninguém hoje em dia. Falta-nos líderes que não sejam vendidos pelos altos salários e cargos importantes. Homens que estejam dispostos a trilhar o ministério de uma maneira simples e abnegada. Tão logo se descobre um líder, mesmo que ele tenha sido simples no passado, ao ter acesso aos manjares da fama, este se torna tão político e astuto quanto qualquer outro mais experiente. Falta-nos os profetas que acusem o pecado, mas que tenha voz para clamar no deserto que vivemos.

Creio que a única maneira que temos de nos vermos livres desses insaciáveis lobos vorazes é o levantar desses profetas, que conduzam o povo na pura teologia, que não sejam apenas homens de letras, mas homens de ação, que não troquem a primogenitura por um prato de lentilha (Hb 12.16), que não se venda como Judas pelo amor ao dinheiro e que esteja disposto a ser ignorado se possível, mas contudo guarde o bom depósito de Cristo (2 Tm 1.14). Oremos para que os lobos não prevaleçam. Oremos também para que o Senhor levante crentes que estejam dispostos a serem pastoreados por aqueles que pregam fielmente, que sejam hábeis em manusear a Palavra da Verdade e que não sejam tão vulneráveis a estes lobos. Este caminho, apesar de parecer mais complicado, no entanto será a glória da igreja brasileira. Será a vida dentre os mortos, como manancial em uma terra seca, e um prenúncio de um verdadeiro derramar de Deus. Queira o Senhor que assim seja, amém.      

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