sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O CRENTE E A MÚSICA SECULAR


A música é algo peculiar ao ser humano em seu relacionamento com o mundo. De modo que sua existência se confunde com a origem da civilização humana. A Bíblia relaciona seu surgimento aos primeiros homens existentes na terra. Entre os descendentes de Caim havia um, chamado Jubal que foi pai de todos os que tocam harpa e flauta (Gn.4.21). Entre os sacerdotes consagrados no templo havia os levitas, estes eram responsáveis, além das cerimônias e transporte dos utensílios, de entoarem os louvores na congregação israelita. Na reforma desse ministério nos dias do rei Davi, a música teve um destaque grandioso, com o surgimento de vários salmos, bem como da restauração do ministério levita.

Entre os gregos, a música era tida como procedente de divindades e alguns deuses tinham suas histórias relacionadas a fatos ligados à música. Dentre eles contam-se Dionísio e Apolo. Segundo a mitologia Anfião teria aprendido a música com Hermes e teria construído Tebas através do som. Orfeu podia tocar harpa com tamanha doçura que até as feras podiam quedar-se absortas. Outras nações também têm suas histórias relacionadas à música, como os babilônicos e outros.

Entre os cristãos a música tem também alcançado muita proeminência em seus cultos religiosos. Desde o período onde Cristo desenvolvia seu ministério terreno (Mt.26.30) até o apostólico onde passagens de hinos são citados em certos trechos da Bíblia como Romanos 11.33-36. Desde então a música teve um papel vital para o desenvolvimento da fé, sendo um rico instrumento para instruir e exaltar a Deus.

No período medieval ressalta-se o canto gregoriano, tendo esse nome em razão de serem selecionados no século VI, algumas orações que foram metrificadas por Gregório Magno. Este canto é um gênero de música vocal monofônica, monódica (só uma melodia), não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o organum, com o ritmo livre e não medido. Sendo uma forma de interpretação belíssima, seguindo de perto aquilo que o dizia Santo Agostinho “Quem canta ora duas vezes”.

No período Reformado as músicas na igreja passaram por uma reformulação grandiosa. São dessa época os belíssimos saltérios compostos de salmos metrificados pelo próprio João Calvino, e outras influências musicais legadas por Lutero em seu inesquecível “Castelo Forte”, música adaptada de uma canção cantada em bares alemães. Em período posterior a música recebe influências de nomes como Carlos e João Wesley, Hendel, Bach, Newton, entre outros.

Mas o objetivo desse artigo é mostrar a contribuição da música para o crente, bem como abordar algumas questões como, é lícito ao crente ouvir música não cristã? Passo a expor meu pensamento a este respeito.

Há algum tempo a música não cristã, tida como secular era um grande vilão para algumas instituições religiosas. A música era tida como profana e algumas igrejas até proibiam que seus membros sequer assobiassem as mesmas. Mas, atualmente isso parece estar sendo vencido por uma consequente secularização cultural por parte do povo de Deus. É necessário dizer que esta postura, até então, proibitiva era característica de ramos tidos como pentecostais da igreja brasileira. Enquanto que aqueles tidos como históricos ou tradicionais sempre foram mais maleáveis quanto a este particular.

Esta secularização ganhou destaque com o surgimento das igrejas denominadas neo pentecostais. Estas igrejas, bem menos rígidas em suas exigências, tinham uma abertura maior para as músicas seculares, por exemplo, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) tinha em sua terapia do amor um apelativo a esse gênero musical, notadamente as mais românticas.

Hoje o número de crentes que ouvem música secular cresce em alta velocidade, principalmente entre aqueles que são a segunda geração de evangélicos no Brasil. Ao contrário dos seus pais, estes detêm um maior conhecimento de certos meios, fazem parte de redes sociais e são aquilo que chamam de geração cibernética. Mas quanto à absorção desses valores por esta geração vejo com alguma resistência. Principalmente porque os valores hoje aceitos não passaram por uma análise sistemática da Bíblia Sagrada, ou seja, a absorção está sendo feita sem nenhum critério que tenha em vista buscar a aprovação divina, mas é uma absorção cultural o que pode fazer com que muitos errem ao trazerem a música não cristã para dentro de suas vidas sem levarem em conta o cuidado com as letras.

Acho também que não existe ritmo sagrado. Não penso que apenas músicas evangélicas são dignas de serem escutadas pelos crentes. Penso que a música cristã tem seu lugar no templo, bem como no coração de cada adorador, que não cessa de adorar quando está fora do templo, mas que ainda assim o adora em sua vida e com seus lábios, testemunhando e honrado a Cristo. Porém, como ser sociável, vivendo em uma sociedade relacionável, pode também fazer uso das tendências musicais da atualidade, mas tendo cuidado com a vulgaridade e com letras perniciosas tão comuns na musicalidade brasileira. O cristão ao fazer uso dos recursos musicais deve se perguntar se agrada a Deus, se edifica, se não é ofensivo a sua fé. Deve evitar música que falem profanações, adultérios, libertinagem, entre outras formas de se corromper com aquilo que se ouve. Todas estas questões devem ser levadas em conta, além de achar, particularmente, que é papel da liderança da igreja orientar a atual juventude.

Mesmo não sendo músico, acredito que a música cristã tem algo a contribuir até musicalmente dentro da musicalidade brasileira. Fazer com que nomes do cenário gospel venham a estar nas paradas de sucesso parece não ser tão impossível assim, principalmente com o crescimento desse mercado atualmente. Mas uma música de qualidade deve ser buscada, tanto técnica quanto harmonicamente. Além de buscar a fidelidade as Escrituras. Uma série de cuidados faz-se necessário quanto a este particular, bem como, tantos outros são necessários em outras áreas. Mas nunca devemos nos esquecer daquilo que somos como cristãos, nem dos nossos valores e aquilo vivemos. “Todas as cousas são lícitas, mas nem todas convêm; todas as cousas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co.10.23). Aplicando este princípio faremos bem em nos guardar para a glória de Deus.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A visita do papa a Alemanha e o ecumenismo


A visita do Papa Bento XVI na Alemanha será marcada por inúmeros protestos. O líder católico-romano chegou hoje à Alemanha e foi recebido pela premier Alemã Angela Merkel, filha de pastor evangélico. A própria primeira ministra declarou que a visita do papa tem uma grande importância na união dos cristãos da Europa. O papa procura estreitar seus relacionamentos com a Igreja Luterana Alemã, fato que tem avançado bastante, principalmente depois da declaração de fé comum assinada em Augsburg no ano de 1999, onde unificava o entendimento entre católicos e luteranos quanto à doutrina da justificação pela fé. Acho que cabe aqui algum comentário a respeito dessa postura católica, como também a crescente aspiração ecumênica de algumas igrejas ligadas a Reforma Protestante.

O catolicismo, principalmente na administração do antecessor de Bento XVI, João Paulo II, empreendeu grandes esforços na união com igrejas reformadas, naquilo que foi denominado ecumenismo. Esta postura procura aproximar a igreja de Roma no intuito de manter um relacionamento fraternal e de parceria com outras igrejas. Mas muitos críticos, principalmente do lado protestante, vêem com desconfiança esta união, uma vez que os católicos sempre demonstram a petulância comum de suas posturas, até mesmo ratificando o fato de eles serem a “igreja de Cristo”, enquanto que os protestantes são rotulados de comunidades cristãs e irmãos separados. Igrejas que, na sua maioria, estão desmoronando-se teológica e espiritualmente do antigo continente são os mais ávidos neste particular. Ao que parece, estas igrejas vêem nesta união algo como um renovo, visto que o catolicismo ainda continua a exercer alguma influência e isso causa a cobiça por privilégios e outras aspirações.

Em especial, igrejas como a Luterana e a Anglicana, estão passando por momentos graves em sua história, isso a reboque do fator secularismo, fazendo-os aliarem-se aos católicos, que também enfrentam as mesmas crises. Os católicos estão envolvidos em muitos escândalos, principalmente por instituições ligadas a esta igreja, que comprovadamente estão envolvidas com casos de orgias, estupros e pedofilia em quase todos os países europeus. A união parece ratificar os escombros do continente europeu. Antes centro das grandes causas religiosas no período da Reforma, hoje um amontoado de frieza e indiferença que nem de longe relembra os dias mais celebres. É por isso que muitos estão migrando para uma postura mais “flexível” para com os católicos.

A pergunta que fica é quantos desses atuais representantes dessas igrejas estão envolvidos com os pilares da fé reformada? Se isso fosse possível, certamente homens como Lutero, Zwinglio, Calvino e outros estariam se contorcendo em seus túmulos, pois jamais concordariam com esta fusão de interesses. Em países europeus este diálogo já é uma realidade, mas o que dizer das nossas terras tupiniquins? Será que este ímpeto ecumênico seria possível? Acredito que os evangélicos em nosso país são marcados por um afastamento natural do segmento católico romano, mas isto tem uma explicação razoável, se levarmos em consideração o crescimento da igreja evangélica, porém, o que dizer de setores ligados a igrejas históricas que já há muito tempo participam de concílios ecumênicos, tendo como objetivo os mesmos buscados no velho mundo? Isso se explica pela perca de membros dessas igrejas, tidas como históricas, bem como a influência da teologia liberal também nestas denominações.

Algumas igrejas brasileiras nestes dias jamais aceitariam uma postura ecumênica, mas o que dizer se num futuro não tão distante, estes mesmos evangélicos se enfraquecerem teológica e institucionalmente? Será que não buscariam um diálogo com Roma? Penso que a força da igreja não é a quantidade, mas sua vitalidade no serviço de Cristo e sua fidelidade em aplicar a Bíblia. Os católicos continuam sendo os mesmos. Os anátemas do Concílio de Trento que repudiaram a teologia reformada ainda permanecem. A teologia católica é cada dia mais “mariana”, substituindo a do Único Mediador, defendida pelos protestantes, logo, não há razão para pensarmos em uma unidade quando se há falhas gritantes na teologia católica que descredenciam a mesma como uma igreja verdadeira.

Às vésperas de comemorarmos mais um aniversário da Reforma Protestante devemos recobrar nossa fidelidade e lamentar pela decadência de algumas igrejas ligadas a Reforma. Que Deus preserve os remanescentes fiéis. Defendo um diálogo, mas este deve ser acompanhado por uma conversão à Palavra e não uma mera conveniência que cheira a apostasia e decadência. Louvemos a Deus pela genuína Reforma Protestante do século XVI e estejamos atentos pelos nossos dias.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Orando e recebendo, algo sobre o valor da busca diante de Deus


Mateus 7.7-12

INTRODUÇÃO: Se tem algo animador no cristianismo é a proximidade de Deus. Ele, o Senhor, é completamente acessível, totalmente disponível e relacional. Algo que nos conforta, pois, vivemos momentos desesperadores de solidão, mesmo que estejamos rodeados de uma multidão. De nada adianta o calor de uma multidão se essa é indiferente a dor de um solitário. Mas Deus não se esquece de nós de forma alguma. Nesta porção da Palavra, o Senhor Jesus retorna a falar da oração. No capítulo anterior (Mt.6.9-15), Ele nos tinha dado noções profundas sobre o ministério da oração. Aqui Ele nos explica como se dá o processo de sermos ouvidos por Deus, algo grandemente importante, pois como filhos que somos, precisamos do favor de nosso Pai.
 Faremos bem, em meditar nesse texto, pois lições preciosas estão contidas aqui. Para que possamos entender melhor estas lições convido-os a meditar no título: “Orando e recebendo, algo sobre o valor da busca diante de Deus”.
Nós nutrimos muitas vezes noções equivocadas sobre algumas doutrinas bíblicas. Não é porque Deus conhece todas as coisas que devemos esperar que Ele veja nossa carência e tenha misericórdia de nós. A oração não corrobora essa tese, ela é como alguém já disse or-ação, ou seja, é um empreendimento corajoso, vejamos as lições deste contemplando três verdades a respeito da oração:

I- A oração é um processo que obedece alguns estágios (vv.7-8).
a)   O pedido e o recebimento – O pedido aqui está no imperativo, ou seja, é uma ordem, algo urgente, para aquele que anela algo. Imediatamente o Senhor acrescenta a certeza de que receberemos.
b)   A busca e o achado – É interessante a idéia de busca, pois denota algo escondido, algo secreto, destinado a ser encontrado por apenas àqueles que empreenderem esforços nesta busca.
c)    Batendo e abrindo – O Senhor compara a oração a alguém que bate numa porta, esse ao bater não encontrará portas fechadas, mas um Deus que bondosamente abre a porta de Sua graça.
d)   A ênfase consoladora (v.8) – Neste verso o Senhor usa um recurso literário chamado hebraísmo. O hebraísmo é uso da repetição para ressaltar uma ênfase. É também a certeza de que seremos atendidos, ao pedirmos, buscarmos e batermos.

II- A oração é atenciosamente ouvida por Deus e atendida (vv.9-11).
a)   Nós que somos maus (vv.9-10) – O Senhor agora compara sua bondade a nossa e somos informados de que temos o costume de dar coisas boas a aqueles que nós amamos, mesmo sendo maus. Não damos serpentes a filhos, mas pão e sustento.
b)   O recebimento e sua natureza (v.11) – O Senhor exalta-se em virtude acima do melhor dos homens, por isso fica claro aqui a natureza daquilo que Ele tem para dar se nós o buscarmos, serão sempre coisas boas que receberemos, nada ruim ou estragado, mas a qualidade de um Deus benigno e amoroso.

III- A oração é um exemplo na questão dos relacionamentos (v.12). A primeira impressão parece ser que não vejamos um relacionamento entre este texto e a questão que foi abordada anteriormente sobre a oração, mas aqui vemos uma relação da seguinte maneira:
a)   A conduta divina – Ele deixou claro como devemos agir, a partir do Seu exemplo divino, nada mais urgente do que ilustrar a maneira de procedermos com relação aos nossos semelhantes, a partir desse exemplo. Tendo isso em vista Ele ratifica:
b)   Nossos anseios – É sempre bom sermos bem tratados e honrados. Não é natural sempre nos sentirmos com baixa alta-estima, mas estarmos sempre desenvolvendo uma dignidade própria. Por isso queremos o melhor para nós.
c)    O tratamento aos outros – Assim, Ele nos conduz a fazermos o mesmo, não com ralação a nós próprios, mas com relação aos outros. Se nós desejamos o melhor para nós, devemos fazer o mesmo aos nossos semelhantes.

Conclusão: Há algo interessante naquilo que foi dito acima. O Senhor não nos ensina a acomodação, mas o tratamento da oração como algo importante a ser buscado por muito esforço. Ele nos ensina a orar com fé, tendo certeza de que aquilo que desejamos é bom e digno de busca. Por isso, somos recomendados a uma atitude dedicada. Antes de nos conformarmos, é necessário sabermos se aquilo que buscamos vale a pena e assim pôr em prática a constância na súplica, sabendo que temos um Pai bondoso sempre ao nosso lado. E por fim, devemos buscar o bem do outro, da mesma forma que o desejamos para nós próprios.