quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Por uma defesa do Sola Scriptura


Um debate infindável trava-se entre as principais correntes da igreja brasileira, o cessacionismo ou o continuísmo. Estas duas posições refletem o caráter problemático da união da igreja brasileira naquilo que deveria aproximar em seus dogmas e pressupostos.

Pertencendo a uma igreja histórica, a Igreja Presbiteriana do Brasil, defendo sua posição confessional, exarada na Confissão de Westminster que proclama “...tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. Logo, é comum atribuir a Confissão de Fé de Westminster um caráter eminentemente cessacionista. David Dickson, teólogo escocês (1583-1663), vivendo nos dias da confecção da Confissão explica isso da seguinte forma:

Questão 3. Aqueles modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo cessaram? Sim. Deste modo, então, não estariam os Entusiastas e os Quakers errados, ao afirmarem que o Senhor não cessou de revelar a Sua vontade, como ele o fez na antiguidade? Sim. Por quais razões eles devem ser rejeitados? Porque Deus, que muitas vezes e de muitas maneiras, falou em tempos passados aos pais, por meio dos profetas, nestes últimos tem nos falado por meio de Seu Filho (Hb.1.1-2). O apóstolo chamou o tempo do Novo Testamento de últimos dias, por que sob o mesmo período nenhuma alteração deveria ser esperada, senão que todas as coisas estavam completas e deveriam permanecer sem adição ou mudança, como ensinadas e ordenadas por Cristo, até o último dia.

A posição histórica daqueles que se dizem confessionais é o cessacionismo e isso não implica em desmerecer o poder de Deus ou ser levado por uma incredulidade insuperável, por parte dos defensores dessa corrente, mas que o argumento cessacionista parte de uma defesa escriturística e séria. Os desmandos do pentecostalismo são a prova mais que cabal da ineficiência do continuísmo. O pentecostalismo não tem limites, ou seja, doutrina alguma pode ser considerada verdade absoluta, uma vez que novas interpretações e novas revelações podem ser comunicadas. Não existe uma área limítrofe que possa nortear os pressupostos pentecostais, uma vez que as Escrituras não lhe servem de cerca, ficando a critério de denominações ou interpretes pentecostais definir o que é e o que não é “de Deus”.

Críticas pertinentes tem vinculado o pentecostalismo ao catolicismo romano em sua defesa das tradições eclesiásticas. Assim como naquele ramo do cristianismo, o pentecostalismo precisa de aprovação de suas revelações. Estas nunca são submetidas ao escrutínio da Palavra de Deus, mas pauta-se, meramente na experiência mística, vivenciada por aquele que reivindica a autoridade.

O cessacionismo por outro lado não teme ser chamado incrédulo, visto que tal acusação parte daqueles que são seus opositores. Como chamar alguém de incrédulo se esse alguém não pede outra coisa para confirmar a sua fé que a Palavra de Deus. É incrédulo aquele que prefere viver por padrões definidos e ratificados apenas pelo Espírito de Cristo? Será que não corre o risco do movimento pentecostal estar se afastando da Santa Escritura por dar lugar em seus cultos a homens que sugerem grandes revelações, que afirmam ter visto Deus e que não estão interessados em expor a Bíblia Sagrada?
O continuísmo acompanha todas as seitas que tem sugerido acréscimos as Escrituras Sagradas. Os mórmons reivindicam um acréscimo a Bíblia, bem como os adventistas nas profecias de Helen White e outras tantas teses que esgotadas de todo e qualquer empreendimento para ratificar os seus dogmas de acordo com o texto sacro recorrem a fontes criadas por supostos “profetas” que buscam autoridade em algum tipo de acréscimo.

Confirmo minha opinião de que o continuísmo defendido pelos pentecostais não pode adequar-se com o lema reformado “Sola Scriptura”. As novas revelações do Espírito que alguns bradam portar não passam de delírios de uma mente perturbada, que busca por meio de transes místicos algo que iniciantes não podem portar, a não ser por ritos para os “experimentados”, algo que seitas gnósticas do primeiro século defendiam. Não é isso que defendem os pentecostais quando acusam aqueles que não falam em línguas como crentes de segunda classe?

Ir além da revelação divina é perigoso e um poço sem volta. Aqueles que contam essas experiências não guardam as mesmas para si próprios, mas trazem as experiências como fator normativo para as igrejas que lhes escutam, fazendo-os cegamente confiarem naquilo que falou o “profeta” e não naquilo que fala a Palavra de Deus. Igrejas que vivem estas experiências se cansam com a exposição da Palavra e aqueles que tentam expô-la, ao critério deles, não passam eruditos frios e sem vida, blindando o entendimento destes para aprenderem aos pés de Cristo e de Sua Palavra, fazendo este movimento algo grandemente nocivo para a igreja em todos os lugares.

O cessacionismo não é incredulidade é fidelidade à forma que Deus estabeleceu para a Sua igreja em todos os tempos. Seguir a Palavra de Deus é uma exigência do Senhor e não algo restrito a cismas entre denominações. A igreja que pretenda ser cristã não pode ter outro Profeta, Pastor ou Mestre a não ser o Senhor da Igreja o nosso Senhor Jesus Cristo, falando na Palavra de Deus por meio do Seu Santo Espirito, amém. Sola Scriptura!



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