quinta-feira, 9 de maio de 2013

O crente e a bebida alcoólica, uma reflexão sobre um assunto demasiadamente exaurido.



É fato que esse assunto está extremamente desgastado. Muitos comentaristas já versaram sobre o mesmo e volumosas obras também podem ser buscadas e analisadas quanto a este particular. É também notório que geração após geração esse assunto é retomado e muito se discute se é lícito ao crente, homem regenerado, tomar bebida alcoólica. Os defensores desse costume afirmam que não há problema algum, visto que a bíblia não condena o uso moderado, condenando exclusivamente a embriaguez decorrente do excesso. O outro lado, porém, enfatiza os malefícios da bebida e também utiliza um argumento bíblico para condenar a prática. Afinal de contas, quem está com a razão quanto a isso?

Antes de tudo, afirmo que não serei eu que colocarei fim a esse debate. Não me julgo capacitado suficientemente para isso. Acredito que dos dois lados existem argumentos plausíveis e que é necessário que o assunto seja abordado com seriedade e sabedoria, visto que apenas Deus poderá julgar as práticas de cada lado em questão. Neste aspecto fico com o apóstolo Paulo, “tudo o que não provém de fé é pecado”, logo os que bebem ou os que não bebem serão julgados se seus argumentos provêm de fé ou apenas são licenciosos, fazendo muitos errarem com eles. Esse texto apenas tem como objetivo analisar os prós e contras a respeito do uso e finalmente concluir com a opinião do autor, que você pode ouvir e desconsiderar, caso assim o deseje.

O que a Bíblia diz sobre a bebida alcoólica?
Aqui está o cerne da disputa. Existem textos na Sagrada Escritura que parecem aprovar o uso da bebida, fazendo referências poéticas, bem como, doações ao templo eram feitas em forma de oferendas de bebidas, além do argumento que o próprio Senhor Jesus fez uso da bebida quando exerceu seu ministério terreno entre os homens. Por outro lado, existem textos que parecem ser contrários a esse argumento. Esses textos enfatizam questões que são determinantes para aqueles que pensam de modo contrário, ou seja, que não desejam aprovar o uso da bebida, nem para si, nem para os outros. Vejamos a questão analisando o seguinte:

1. A primeira vez que a Palavra “vinho” é mencionada na Bíblia é em Gênesis 9.21. Nesse texto Noé fica embriagado e expõe sua nudez, sendo visto por seu filho Cam, que expõe a situação a seus irmãos, após isso, Cam é amaldiçoado, mas evidentemente, o mais importante é que na primeira ocorrência é realçado o caráter negativo e constrangedor do ato de Noé, apesar do julgamento cair apenas na questão de Cam.

2. Ló e o encesto com suas filhas. Em Gênesis 19.33 obtemos a narrativa de como as filhas de Ló embriagam seu pai com fins de reproduzir a descendência de maneira incestuosa. Esse ato levou a considerar os efeitos do álcool em um homem com certa prudência em outras ocasiões, que fica vulnerável aos efeitos da bebida e o faz transgredir a Lei de Deus a seu contragosto. Logo, esse texto também pesa de forma negativa ao uso da bebida alcoólica.

3. A proibição aos sacerdotes. Em Levítico 10.9 não é condenado o uso do vinho, mas sim o uso por parte dos sacerdotes, quando ministrassem diante do Senhor. Aqui vemos que o Senhor não desejava que seus serviços sagrados fossem feitos por alguém que fosse beberrão e que estivesse sob o efeito de uma substância que faz perder o sentido. Esse texto então, não aprova o uso nesse caso.

4. Os nazireus. Estes homens eram referência de consagração a Deus. Desde o nascimento não podiam fazer uso da bebida (Nm 6.20), levando ao entendimento de que isso dificultaria seu voto e seria visto por Deus como algo leviano. A consagração também em outras passagens, no que se refere à bebida, era recomendada a abstinência em muitas ocasiões, como em votos solenes ou antes de guerras.

5. A repreensão de Eli a Ana. Em 1 Samuel 1.14, o sacerdote Eli chama Ana de filha de belial, em razão de vê-la orando apenas com o movimento da boca. Ana se defende dizendo que estava amargurada e não sob o efeito do vinho. Aqui também existia a prática de se reprovar, quem quer que fosse de orar a Deus sob o efeito do vinho ou da bebida forte. Assim como era proibido para o sacerdote o era também para o adorador.

6. A questão espiritual. Em Efésios 5.18, Paulo repreende a igreja enfatizando que é mais necessário o enchimento do Espírito do que o do vinho, ele ainda afirma que no uso do vinho há dissolução, dando a entender que os apóstolos não viam o vinho de maneira tão favorável.

Todos esses textos demonstram que a Bíblia não é tão amistosa quanto ao uso da bebida e que apesar de haverem texto que parecem aprovar a prática, existem outros, tão importantes quanto, que a reprovam, mas continuemos com nossa reflexão.

A questão cultural
Dentro da tradição cultural israelense é inegável que a mesma continha amplas considerações agrárias. Biblicamente falando, muitas vezes a concepção agrária da cultura judaica foi evocada. Como nas profecias que comparavam o vinho ao sangue derramado pelo juízo divino. A própria Santa Ceia, instituída pelo Senhor é realizada a partir desse simbolismo vinho-sangue. É, então, bem natural que esse entendimento permeasse a bíblia, mas isso não garante que tal prática seja aprovada, meramente por haver menção ou até mesmo palavras que falem da “alegria do vinho” e outras.

Outros países seguiram de perto essa questão cultural. Como é o caso de países protestantes como a Alemanha se identificar com a cerveja, a Escócia com o whisky e a Inglaterra com os Pubs. Esses países podem até mesmo arrogar essa nacionalização dessas bebidas e práticas, mas não podem servir de modelo para a nossa concepção acerca da bebida alcoólica, pois mesmo que sejam práticas culturais, devem ser consideradas a luz da Bíblia e a luz de sua finalidade e necessidade para o povo de Deus.

Os efeitos danosos
É constatado que o alcoolismo é uma prática danosa em todos os aspectos a aquele que faz uso. Tal prática tem efeitos morais, físicos e familiares não somente nos alcoólatras, mas também naqueles que estão mais perto. A família de um alcoólatra tem que enfrentar grandes dilemas com aquele que é dependente químico e a instabilidade familiar é sempre a mais prejudicada.

O alcoolismo é também um grande vício. Vício esse que traz efeitos sobre o corpo e sobre o bolso. Boa parte dos mendigos e pobres em situação de extrema pobreza tem algum tipo de relacionamento com o vício ao álcool. Logo, não podemos esperar que efeitos tão devastadores, no que concerne a aqueles que o praticam, bem como as famílias envolvidas, devam ser aprovados por quem quer que seja. Até mesmo aqueles que não dispõem de argumentos bíblicos tem o vício ao alcoolismo como uma grande mazela e não são receptivos com aqueles que “estão na sarjeta” em razão do uso da bebida.

As instituições que tratam desses dependentes como o AA são taxativos ao afirmarem “evite o primeiro gole”. Muitos cristãos ignoram essa recomendação e dizem que podem se controlar, mas não existe como provar que conseguem esse tal controle a não ser por uma obstinação contumaz e leviana, visto que não somos diferentes organicamente dos não convertidos e os mesmos riscos que eles correm, nós corremos também.

Conclusão
Disse no início que daria meu ponto de vista quanto a esse particular e assim farei aqui. Não creio realmente que a bebida seja algo a ser buscado por um crente piedoso. A própria Bíblia dá indícios de que a prática desse consumo nunca foi ratificada por ela. As nações que se envolveram culturalmente com o álcool tem um retrospecto de escândalos e exemplos danosos, que sem dúvida, as envergonham nacionalmente e familiarmente.

Em nosso país, nunca se buscou aprovar a bebida como algo moralmente digno. Nem mesmo algumas marcas querem estar ao lado de marcas de bebidas e aqueles que são flagrados sob o efeito do álcool, por mais renomado e respeitados que sejam, quando vistos dando vexame, são questionados e julgados por esta índole. O que ganha o cristão no uso desse artifício? Ao meu modo de ver existem muito mais percas do que fatores positivos.

O álcool é algo degradante moralmente. Não deve fazer parte de nossos costumes, nem mesmo ser considerado como algo chique ou adulto. Não existe nada de adulto quando se acaba com o caráter, com a família ou com a sobriedade. Ainda que a Bíblia não proíba, cabe ao crente repudiar o uso. A bíblia também não proíbe o uso de maconha ou outras drogas, mas você realmente está disposto a defendê-la? Concluo meu argumento dizendo que devemos evitar aquilo que nos torna vulneráveis e que nos faz colher destruição e miséria. Se você deseja agradar a Deus em sua vida, faça isso de maneira sóbria e não dando lugar a licenciosidade, efeito que sem dúvida o álcool fará em sua vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário