segunda-feira, 6 de maio de 2013

Thomas Watson, 1699, The Christian Soldier or Heaven to taken by Storm – O Soldado Cristão ou o céu tomado à força.


Thomas Watson, 1699, The Christian Soldier or Heaven to taken by Storm – O Soldado Cristão ou o céu tomado à força.

INTRODUÇÃO

João Batista ao ouvir na prisão sobre a fama de Cristo envia dois de seus discípulos com a seguinte pergunta: “És tu aquele que deve vir ou devemos esperar outro?” (verso 3). Não que João Batista não sabia que Jesus Cristo era o verdadeiro Messias, pois isso tinha sido confirmado pelo Espírito de Deus e por um sinal vindo do céu (Jo 1.33). Mas João Batista vinha se esforçando para corrigir a ignorância de seus discípulos que tinham mais respeito por ele do que por Cristo.

No quarto verso, Cristo responde sua pergunta “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são anunciadas aos pobres”. Jesus Cristo demonstra que Ele próprio é o verdadeiro Messias. Seus milagres eram provas visíveis de Sua divindade. Os discípulos de João ouviram, da parte de Cristo, um grande elogio a respeito de João Batista (verso 7), “O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? É como se Cristo tivesse dito “João Batista não eram um homem inconstante, com pensamentos dúbios, como uma cana sacudida de uma opinião para outra, ele não era Rúben, instável como a água, mas era fixo e firme na piedade, nem mesmo a prisão pôde alterar o caráter dele”.

No verso 8, Ele diz: “Não, o que vocês foram ver? Um homem vestido de roupas finas?” João não usava roupas de seda, mas de pele de camelo, ele não desejava viver na corte, mas no deserto.

Novamente Cristo elogia João como sendo ele o precursor que preparará o caminho diante dEle (verso 10). Ele era a estrela da manhã que precedeu o Sol da justiça e Cristo honra este homem santo. João não é apenas um paralelo para o ministério de Cristo, mas o chefe dos profetas. O verso 9 diz “Então, o que vocês foram ver, um profeta? Sim, eu vos digo que mais do que um profeta. Eu vos digo a verdade: entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista”. Ele era eminente, tanto para a dignidade do cargo, como pela clareza do ensino. E assim, nosso texto proclama: “Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado à força e os servos o tomam dessa maneira”.

1. O prefácio ou a introdução: “Desde os dias de João Batista até agora”. João Batista era um pastor zeloso, um Boanerges, ou filho do trovão, que por meio de sua pregação muitos começaram a ser despertados dos seus pecados.

Sendo assim, aprender que tipo de ministério é esse que em toda sua excelência, trabalha na consciência humana como nenhum outro. João levantou sua voz como trombeta pregando a doutrina do arrependimento debaixo do poder de Deus: “Arrependei-vos, porque o reino de Deus está próximo!” (Mt 3.2). Isso cortava os pecados dos homens e imediatamente seguia-se da pregação sobre Cristo. Primeiro João falou sobre o vinagre da Lei, para só então falar do vinho do Evangelho. Essa foi a pregação que fez os homens buscarem o céu. João não pregou para receber louvor humano, ele preferiu revelar os pecados destes, sem buscar o reconhecimento deles como sábio. Esse tipo de pregação deve ser preferida, pois revela a malignidade humana e expões esta em seus corações. João era uma luz ardente e brilhante que se consumiu com sua mensagem, fazendo esta brilhar em sua própria vida, levando muitos com ele para o céu.

Pedro que estava cheio de um espírito de zelo, humilhou seus ouvintes demonstrando os pecados deles, abrindo em seguida, uma fonte no sangue de Cristo, justamente em seus próprios corações compungidos (At. 2.37). É, sem dúvida uma grande compaixão, receber um ministério que chama o pecador. Se alguém tivesse uma ferida mortal, esse mesmo desejaria ter sua alma aliviada, se encontrasse a cura para isso, ele prontamente diria que teve sua dor aliviada.

2. A matéria do texto. “O Reino de deus é tomado à força e os servos se apoderam dele pela força.”

Em Mateus 5.5 ouvimos que a “terra é a herança dos mansos”. Como então, tomamos esta pela força? Temos uma vida militar. Cristo é o nosso capitão, o Evangelho nosso estandarte e a graça nossa artilharia espiritual, então o céu é tomado à força. Estas palavras se dividem em duas partes:

a) O Combate – Com violência.
b) A conquista – Os servos a tomam pela força.

Trata-se então, de homens que devem ser mestres em buscar o Reino, mesmo que seja a força.

Doutrina: A maneira correta de tomar o céu pela força. Os que entram no céu são guerreiros queridos por Deus.

Essa força tem um aspecto duplo. Trata-se de guerreiros que devem ser corajosos.

1. Punição dos pecados. Quando o Urim e Tumim de Arão não fazem efeito, deve-se recorrer à vara de Moisés. Os ímpios são a parte contaminada e o cancro da comunidade, que por conta dos magistrados, devem ser removidos para fora. Deus colocou os magistrados “para terror dos malfeitores” (1 Pd 2.14). Eles devem ser como o peixe espada, que tem uma espada na cabeça e que não tem sentimentos. Eles devem ter uma espada na mão, com coragem suficiente para cortar a impiedade. A leniência de um magistrado é algo terrível e por não punir os transgressores ele incentiva seus pecados, tornando os pecados de outrem os seus próprios. Magistratura sem zelo é como o corpo sem espírito. Clemência demais encoraja o pecado. Não devemos raspar a cabeça daquele que merece o corte.

2. A defesa dos inocentes. O magistrado deve ser o altar de asilo ou refúgio para os oprimidos que desejam fugir da opressão. Charles, duque da Calabria, era tão apaixonado pela justiça que mandou fazer um sino para ser pendurado no portão do seu palácio, de modo que, quem quisesse tocá-lo seria imediatamente admitido na presença do duque ou na presença de algum de seus oficiais para ter sua causa julgada. Aristides era conhecido por sua justiça. Um certo historiador testemunhou que ele nunca seria a favor de qualquer demanda por causa da amizade, nem tão pouco seria injusto com seu próprio inimigo. A justiça do magistrado é o escudo do homem oprimido.

A violência deve preocupar os cristãos. Embora o céu nos seja dado livremente devemos também lutar por ele. “O que encontra a sua mão para fazer, faça-o conforme as suas forças” (Ec. 9.10). Nossa obra é grande, nosso tempo é curto e nosso Mestre deseja urgência. Precisamos convocar, portanto, todas as faculdades de nossa alma e nos esforçar como se estivemos lutando em uma guerra que custasse nossa vida ou morte, para que, enfim, cheguemos ao Reino celeste. Não só devemos ser diligentes, mas fazermos uso da bravura nesse empenho. Para ilustrar essa preposição, gostaria de demonstra-la aqui.

1. Qual é o tipo de violência que se exclui nesse texto.

1.1.            Uma violência sem conhecimento. Guerrear sem sabedoria. Atos 17.23 “quando passei perto e vendo os vossos santuários, achei também um que estava perto, com esta inscrição, para o deus desconhecido”. Estes atenienses eram guerreiros em suas devoções, mas pode-se dizer a eles as mesmas palavras que Cristo disse a mulher de Samaria (Jo 4.22) “Vós adorais o que não conheceis”. Assim, os católicos também são guerreiros em sua religião. Testemunham penitências, jejuns e dilaceram-se até que lhes escorram o sangue, contudo é um zelo sem conhecimento. A coragem deles é melhor do que a visão que eles têm. Quando Arão foi queimar o incenso sob o altar, ele foi o primeiro a acender as lâmpadas (Ex 25.7). Quando o zelo queima com o incenso o primeiro lugar a ser acendido deve ser o do conhecimento.
1.2.            Ele exclui a violência sangrenta que é dupla. Em primeiro lugar, quando se usa mãos violentas sobre si mesmo. O corpo é uma prisão terrena, onde Deus colocou a alma. Não devemos por fim a essa prisão, mas permanecer com ela até que Deus nos livre pela morte. Somos sentinelas que não tem permissão para abrir a cela sem autorização do nosso capitão. Não devemos ousar fazer isto sem a permissão de Deus. Nossos corpos são templo do Espírito Santo (1Co. 6.9); quando se faz dano ao corpo, destrói-se o templo de Deus. A lâmpada da vida deve permanecer acessa, pois naturalmente existe combustível para mantê-la assim.

Em segundo lugar, quando se tira a vida de outro. Há muitas evidências dessa violência em nossos dias. Nenhum pecado clama como esse que é feito a custa do sangue de outrem (Gn. 4.10). Se existe uma maldição para aquele que fere em oculto como explica Deuteronômio 27.14, então o assassino é duplamente amaldiçoado por causa do homicídio. Se alguém matasse outro sem intenção era possível adorar, desde que levasse sua oferta ao altar, mas se ele tivesse feito isso por vontade própria, ninguém poderia protegê-lo, nem mesmo o santuário de Deus (Ex. 21.14) “se um homem planeja e mata outro homem deliberadamente, levará o homicida e será morto longe do meu altar”. Joabe, sendo homem de sangue, buscou fugir da ira do rei Salamão, embora tenha se apegado às pontas do altar (1Re. 8.29). Antigamente na Boêmia um assassino devia ser decapitado e sua cabeça colocada no mesmo caixão daquele que ele havia matado. Aqui vemos a exclusão dessa violência.

2.  Qual é a força utilizada em nosso texto? Uma força santa. Esse sentido é duplo.

Temos que empreender força para defender a verdade. É necessário citar a pergunta de Pilatos “que é a verdade?” A verdade é tanto a bendita Palavra de Deus, que é chamada a “Palavra da verdade”, como as doutrinas que são deduzidas a partir da Palavra. Demonstro com isso as seguintes doutrinas: A doutrina da Trindade, a da criação, a graça, a justificação pelo sangue de Cristo, a regeneração, a ressurreição dos mortos e a vida de glória. Estas verdades precisam ser defendidas com zelo e força por nós, mesmo que isso custe a nossa própria vida.

A verdade é o que existe de mais glorioso. Não se deve esconder esse ouro precioso que é a verdade. O que devemos fazer para proteger essa riqueza? Ela é antiga, seus cabelos são brancos e evocam respeito, pois se trata daquele que é Ancião de dias. A verdade é infalível, ela é a estrela que conduz a Cristo. A verdade é pura (Sl 119.140). Ela é comparada a prata refinada sete vezes (Sl. 12.6). Não existem manchas, por menores que sejam no rosto da verdade. A única coisa que ela respira é a santidade. A verdade triunfa. Ela é como um grande conquistador, ela abate os seus adversários, depois de conquistar o país e exibe seus troféus de vitória. A verdade pode ser combatida, mas nunca vencida. No tempo de Diocleciano os dias pareciam desesperadores, a verdade parecia sucumbida, pouco tempo depois veio à época de Constatino e então a verdade novamente ergueu a cabeça. Quando as águas do Tâmisa pareciam que iam secar as fortes águas vindas de Deus estavam do lado da verdade. Conquanto houvesse medo que ela não prevalecesse, os céus foram dissolvidos (2Pe 3.12) e a verdade que vem de Deus permaneceu (1Pe 1.25).

A verdade tem efeitos nobres. A verdade faz germinar o novo nascimento. Deus não nos regenera por milagres ou revelações, mas pela Palavra da verdade (Tg 1.18). A verdade é criadora da graça, por isso ela a alimenta (1Tm 4.6). A verdade santifica (Jo 17.17) “santifica-os na verdade”. A verdade é o selo que imprime a santidade em nós, ela é tanto um espelho para nos mostrar os nossos defeitos, como uma pia para lavá-los. A verdade nos torna livre (Jo 18.32), ela lança fora os grilhões do pecado e nos coloca em um estado de filiação e realeza (Rm. 8.11). A verdade é reconfortante, ela anima mais do que o vinho. Quando a harpa de Davi não podia dar nenhum conforto, a verdade se encarregou disso (Sl 119.50) “Esta é a minha consolação na minha aflição porque a tua Palavra me consola”. A verdade é um remédio contra o erro. O erro é o adultério da mente que mancha a alma com traição e sangue. O erro é como um dique de vícios. Um homem pode muito bem morrer por envenenamento, assim como por um tiro, mas estando no erro como estará perante a verdade? A razão pela qual, muitos têm sido levados ao erro é porque ou não conheciam ou não amavam a verdade. Eu nunca teria palavras suficientes para louvar a verdade. A verdade é o fundamento de nossa fé que fornece um modelo exato de piedade, que nos mostra em que devemos acreditar. Se nos tirar a verdade a nossa fé é um conto de fadas. A verdade é a flor mais bela e a coroa da igreja. Nós não temos joias mais ricas e preciosas do que a nossa alma, porém Deus confia a nós Sua joia mais preciosa que é a Sua verdade. A verdade é o símbolo de que nos distingue da falsa igreja, como a castidade distingue a mulher virtuosa de uma prostituta. Em suma, a verdade é o baluarte de uma nação. Em 2 Crônicas 11.17 diz “os levitas que eram anunciadores da verdade fortaleceram o reino”. A verdade pode ser comparada com o capitólio de Roma que era o lugar de maior segurança ou como a torre de Davi em que “pendiam mil escudos” (Ct 4.4). Nossas tropas e exércitos não nos protegem como a verdade o faz. A verdade é a melhor defesa de um reino, se apenas uma parte desse reino defender o papado, a mecha do cabelo é cortada e onde estará à força desse país? Porque seríamos guerreiros se não fosse pela verdade? Estamos convocados para lutar, como se estivéssemos em agonia “pela fé que uma vez foi entregue aos santos (Jd, verso 3)”. Se a verdade de uma vez for embora da nossa alma, podemos escrever este epitáfio no túmulo de pedra da Inglaterra: “Sua glória se foi!”.





Nenhum comentário:

Postar um comentário