quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os motivos de nossas orações

Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tiago 4.2-4)

Esta carta foi escrita a cristãos de origem judaica perseguidos num período denominado pelo próprio Tiago como dispersão. Ela constitui-se em recomendações de como esta igreja, mesmo longe da presença apostólica deveria se comportar. Nesta seção em especial (capítulo 4), fica evidente o teor exortativo das palavras de Tiago. Alguns ao lerem estas linhas muitas vezes chegam a pensar que tais palavras são destinadas a descrentes, levando em consideração a forma contundente que a exortação apresenta, mas, no entanto, estas palavras são dirigidas aos próprios crentes e penso que elas tem muito a nos dizer em épocas como a nossa. Por isso, convido você a pensar comigo sobre as palavras de Tiago.

Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. As palavras utilizadas por Tiago são claríssimas e contundentes, haviam pessoas naquelas comunidades que estavam longe do propósito evangélico, ou seja, estavam errando em fazer suas orações de modo adequado. Tiago não se preocupa em ser digerível ao gosto da congregação, mas a urgência de sua mensagem implica em sinceridade, por esta razão ele fala sem rodeios, o pecado não é mascarado, mas exposto com toda sinceridade. Ele fala em termos fortes, dizendo que aqueles crentes estavam cobiçando, buscando coisas que não consistiam no propósito divino e por esta razão estes estavam se prendendo em seus objetivos e em desejos impuros que ele chama de cobiça. Ele diz que estes crentes não recebiam o que pediam porque a razão do pedido era pecaminoso. Eles estavam até mesmo dispostos a matar e comportar-se de maneira injusta com inveja e não tinham nada porque o Senhor não lhes daria o que desejavam por ser algo reprovado por Ele mesmo. Seus projetos eram empreendidos com grande força, mas por serem injustos não seriam atendidos, mesmo que lutassem e fizessem guerras contra os seus semelhantes. Deus não prosperaria seus intentos e isso é evidente. Assim sendo, não basta apenas desejarmos algo, visto que a alma humana se preocupa consideravelmente, durante sua vida, em saciar suas pretenções. Na realidade Deus julga nossas pretenções e nesse julgamento Ele considera se estas são justas diante dEle, caso não sejam Ele simplesmente nega-nos, tendo em vista Seu propósito santíssimo.

Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. As petições que empreendiam estes crentes eram tidas como nulas. Mais na frente fica claro que eles pediam, mas tal eram impuras essas intenções que não importava o vigor das mesmas, elas seriam tidas como nulas assim mesmo. A forma real de pedir, humildimente, sinceramente e buscando a glória de Deus não era exercida e por esta razão obtiveram a negativa do Senhor. A decisão divina era de não receber, porque as súplicas eram más. Aqui lembro-me da frase de M. Lloyd Jones "até mesmo de joelhos, no momento mais sublime somos tentados". Não se engane meu amigo o nosso inimigo não cessa de nos tentar, nem tão pouco devemos desconsiderar nossa própria maldade. O fato de estarmos orando, um ato tão sublime e piedoso, não nos fazem merecedores, principalmente quando o que move estas orações são nossas cobiças. Devemos, como crentes, nos desfazer de nossas intenções impuras, egoísticas e centradas na nossa satisfação "vossos prazeres" e ao longo da jornada da piedade solicitarmos a morte do nosso ego. Deve ser assim em nossas orações e na própria vida. Enquanto estivermos maculados com esta jactância estaremos longe de buscarmos o real sentido da oração que é a glória de Deus.

Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. A severa advertência do escritor não é de forma alguma desmedida, de fato seremos infiéis se a glória de Deus não for o nosso alvo. É por isto que ele relaciona o fato de sermos tidos como infiéis se nos baseamos no modo de viver do mundo sem Deus. A incongruência apresentada por ele é grandemente flagrante, orações sem o objetivo sincero são inimizades contra Deus. Ele não somente não as escuta, Ele as repele, expulsa-as de Sua presença. Está na minha mente as multidões de súplicas influenciadas pela pérfida teologia da prosperidade de nossos dias. Orações por carros, bons empregos, viagens fúteis e uma inormidade de ídolos dos nossos dias, são simplesmente a prova mais evidente de que a igreja de hoje está errando o alvo. Estas são inimigas de Deus, pois são verdadeira abominação diante da santidade de Deus. Logo, se queremos ser amigos de Deus precisamos nos desvenciliar de tais projetos impuros que não visam a glória do Seu Nome. Não bastam apenas as intenções que julgamos as melhores, mas sim aquilo que Deus estabeleceu para todos nós. Portanto, aqueles que são influenciados por essa "teologia" repulsiva deveriam considerar palavras tão claras aos piedosos como estas, desfaçam-se de suas arrogantes pretenções que visam a religião falsa do culto a si mesmo. Não podemos mesclar o culto ao Deus Santo à pérfida adulação própria de nossos dias. Quem assim o faz, como nas palavras ditas acima são verdadeiramente inimigos de Deus e suas orações verdadeiras blasfêmias, pois que não buscam a glória de Deus.

Ao orarmos lembremo-nos desses versos e antes de qualquer projeto de vida olhemos e analisemos se glorifica ao Senhor. Caso elas estejam focadas em nós mesmos façamos um bem a nossa própria vida, "lancemos fora o velho fermento, para que sejamos uma nova massa, como somos de fato, sem fermento, Pois também Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado." (1 Co 5.7). grifo meu.

Soli Deo Gloria

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