terça-feira, 23 de setembro de 2014

O triunfo da Semente da mulher, a nossa consolação e alegria

Gênesis 3.15

É evidente que o Evangelho não é uma novidade pertencente apenas ao Novo Testamento. Muitos resquícios dessa verdade estavam presentes no Antigo Testamento. É por isso que o Senhor com os dois discípulos no caminho de Emaús expôs essa verdade de forma tão efusiva (Lc. 24.27), de modo que lhes ardeu o coração (Lc. 24.32). O texto que iremos considerar essa noite é chamado de “síntese do Evangelho no A.T”. Charles Spurgeon, disse que “esse texto contém, praticamente todas as verdades que são encontradas no Novo Testamento”. E é tendo isso em mente que estaremos laborando nessa noite. Estaremos observando que tais verdades foram o farol para os crentes do passado, um anúncio anterior a grande verdade que hoje dispomos, de uma forma poderosa e pactual, algo que sem dúvida anuncia nossa redenção e triunfo sobre o inimigo na Pessoa da semente da mulher, o nosso Senhor Jesus Cristo.

O pano de fundo desse texto remonta a um dos dias mais negros da humanidade. Dia esse que de tão importante, ainda hoje afeta nossas afeições, desejos e interesses. Esse dia é o dia da queda da raça humana e especificamente nesse contexto é que somos informados das providências tomadas por Deus em razão dessa terrível queda. Os três personagens envolvidos estão diante do Senhor a fim de ouvirem as terríveis sentenças do Juiz de toda a terra, a serpente, o homem e a mulher. A pequena porção que estamos observando é parte da sentença divina dita à antiga serpente, satanás.

Creio que esse pequeno texto pode nos ajudar a compreender melhor as promessas de Deus no Evangelho. Ele também nos ajuda a compreender pontos importantes de nossa luta contra a semente da serpente, além de sermos conduzidos a contemplar o triunfo de Cristo sobre Seu inimigo. Tendo isso em vista, gostaria de propor um título para a nossa meditação: “O triunfo da Semente da mulher, a nossa consolação e alegria”.

Vejamos porque podemos nos consolar e alegrar nessa antiguíssima mensagem. Olhemos de perto as partes constituintes dessa mensagem, na ocasião do decreto da derrota do inimigo e entendamos como isso nos enche de alegria e regozijo.

A mulher em inimizade com a Serpente.
Uma amizade anterior – Antes dessas palavras serem ditas pelo Senhor, o que ficou constatado é que anteriormente é que havia amizade entre a mulher e a serpente. Houve uma troca de gentilezas no sentido de anuírem em comum acordo um tratado de paz de rebeldia contra o Senhor. Satanás soube conduzir a mulher no sentido de conquistar sua atenção. Com palavras agradáveis à mulher, a velha serpente a engana muito sagazmente.

Uma situação diferente a partir daqui – Depois que essas palavras foram pronunciadas pelo Senhor, houve um revés nessa relação. Como disse Spurgeon “a amizade dos pecadores não dura muito tempo”, sendo assim, nitidamente essas duas partes estiveram em um litígio permanente.

Descendências distintas e inimigas.
Muitos debates têm sido travados aqui, pois existe a necessidade de se compreender bem a questão relativa as palavras hebraicas para “tua descendência” (zar‘ăḵāזַרְעֲךָ֖) e “descendente” (zar‘āh; - זַרְעָ֑הּ). O problema está no uso do pronome hebraico para “o” descendente, no lugar de descendência. De acordo Walter Kaiser Jr, que cita R. A. Martin, diz que ele conclui que “em 103 vezes que o pronome masculino hebraico é empregado em Gênesis, em nenhum caso em que o tradutor traduziu literalmente ele tem rompido a concordância em grego, entre o pronome e seu antecedente, a não ser aqui em Gn. 3.15”[1]. Logo, segundo essa informação, é muito estranho o uso de um representante para a descendência, a não ser que consideremos o conceito de pessoa régia, existente no Messias.

A descendência da serpente – Hora, é claro que satanás não reproduziu, logo não tem descendentes filias ou genéticos, então, o que a Bíblia quer dizer com descendência da serpente? Segundo o entendimento bíblico, uma parte da humanidade foi adquirida pelo próprio satanás, ele passou a vindicar aqueles que são rebeldes contra Cristo. Logo, todos aqueles que vivem nesse estado pertencem a ele. Sendo assim, mesmo os eleitos estiveram nessa condição em outro momento, antes de serem salvos por Cristo.

O descente da mulher – Como já observamos o uso desse conceito, não de uma descendência, mas de um descendente, denota uma condição régia e messiânica. Estamos falando então daquele que tem condições de esmagar a cabeça da serpente. Isso quer dizer que a partir dele uma nova descendência seria criada. Esses são hoje inimigos dos descendentes da serpente, logo estão estes em total litígio, pois estão assegurados na pessoa do “Descendente” que é Cristo.

O ferimento da serpente na cabeça.
Quis o Espírito Santo que o triunfo fosse enunciado antes do final, talvez para mostrar que a suprema vitória do descendente é algo perfeitamente esperado, pois não existem contratempos para o Senhor.

Um golpe fatal – Dentre todos as partes constituintes do ser humano a cabeça é a mais exaltada. Nela está a sede de todos os empreendimentos, nossa racionalidade, além de nossos sentidos mais nobres. Quando o Senhor atinge essa parte do corpo de satanás, com a vitória de Cristo, isso implica dizer que todo o empreendimento do inimigo não tem mais o poder de antes. Cristo vitoriou-se sobre o algoz da raça humana, o descendente, o cabeça federal do pacto destruiu os intentos da grande serpente.

Um golpe salvador – Esse golpe significa, sobretudo, a vitória de Cristo sobre o território do maligno, sobre aqueles que lhe eram vassalos, mas que hoje são os despojos de Deus, os eleitos. Quando somos conduzidos a profundidade dessas palavras lembramos que nós pertencíamos a serpente, éramos sua descendência, porém agora, depois do golpe de Cristo, temos um novo Senhor, o Descendente, Cristo Jesus, o nosso vitorioso redentor.

IV- O ferimento do descendente no calcanhar.
Resta-nos falar dos efeitos do golpe dado pela serpente, vejamos o que isso quer dizer:

Não foi um golpe fatal – Em comparação ao golpe do Descendente, o golpe da serpente não causa tanto espanto assim. É verdade que é a partir desse golpe que vemos a terrível atrocidade que é o pecado, pois isso custou a vida do Justo, mas uma vez que Aquele que sofreu o golpe, é “a Ressurreição e a Vida”, tal golpe não o pode destroçar, mas apenas causar-lhe danos temporais. Esses são suas chagas graciosas por Seus eleitos.

Um golpe sorrateiro – Esse, uma vez que foi desferido pela serpente, ganha contornos de tocaia, pois é assim que as serpentes desferem o seu golpe. Porém, Cristo prevaleceu sobre tal empreendimento, todas as forças do inferno não foram capazes de destruir o empreendimento santo, há muito previsto da derrota do inimigo. E nenhum dos seus esforços malignos foram capazes de anular, tão previsível desfecho.
Conclusão: O Evangelho é antiguíssimo. Ele não é um planejamento, tendo por base uma estratégia mudada conforme as adversidades. Ele está previsto por Deus desde os tempos eternos. Cristo é o Cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo (Ap.13.8). Logo, Deus tinha em vista a morte substitutiva do nosso Mediador, antes que tudo tivesse ocorrido, antes da queda dos nossos pais, antes da queda do próprio diabo.

Que consoladora mensagem temos aqui. Se estamos do lado daqueles que hoje podem ser considerados “sementes da mulher”, assim como o nosso Cristo, podemos dizer que ninguém pode triunfar sobre nós. Nossa vitória em Cristo, a vitória da Noiva, da igreja é um enredo conhecido, antes mesmo de qualquer acontecimento. Cristo é a nossa garantia, Ele é o nosso Rei invicto, aquele que inimigo algum pode destruir.

Termino esse sermão com as palavras de Apocalipse 6.1,2.

“Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu Cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; ele saiu vencendo e para vencer.”







[1] KAISER JR Walter C. Teologia do Antigo Testamento, pg. 39, Editora Vida Nova, São Paulo, 2007

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