segunda-feira, 5 de julho de 2010

A ABORDAGEM EVANGELÍSTICA PARA O SERTANEJO


Cumulativamente, o pensamento a respeito do homem sertanejo é deveras distorcido e contraditório no entendimento intelectual brasileiro. Desde da obra “Os sertões” de Euclides da Cunha, várias abordagens diversificadas tem sido dadas para a origem do homem sertanejo. A mescla da raça é fator determinante na formação do povo nordestino. O cruzamento de raças distintas formou um povo mulato, caboclo e misto. Só que as implicações etnológicas não são suficientes para a devida compreensão de um povo, apenas explica externamente sua origem, mas não implicações mais abrangentes. Por esta razão, é necessário compreender a formação da língua, da cosmovisão e outros fatores necessários.

Neste povo complexo vemos o aparecimento de um contexto religioso altamente místico, diferentemente dos centros intelectuais do litoral brasileiro, o sertão configura-se como um ambiente propício para o surgimento de lendas, heróis sertanejos como Lampião, Padre Cícero e outros folclóricos personagens.
A instrução do povo, por conseguinte é caracterizada por uma constante negligência às massas menos influentes, por esta razão é tão importante o contexto coronelista do interior nordestino. O povo aprendeu a depender dos favores de líderes regionais que muitas vezes eram o único meio de se conseguir algum benefício. Desta sujeição surge a insegurança e a desconfiança tão característica deste povo. Ainda resta na alma sertaneja a esperança de que as migalhas do poder público irão, de alguma forma, solucionar suas quimeras.

Além do que foi anteriormente exposto subsiste o fato da religiosidade nordestina ser altamente vinculada a estas características, ou seja, marcada pelo sincretismo religioso de um catolicismo místico e de crendices populares. Tal sujeição intelectual, política e religiosa fazem do vigário um dos mais importantes mentores da alma sertaneja, residindo nele às aspirações religiosas. Talvez por esta razão o catolicismo seja tão premente no sertanejo, o senso de mediação exercido pelo vigário, seus diversos santos que explicam a falta de chuva bem como algumas crendices, fazem parte do imaginário sertanejo. Neste, qualquer intromissão religiosa é tida como uma verdadeira afronta a alma sertaneja, que vê em seus símbolos seculares a explicação do sofrimento do abandono e da comunhão.

O evangelismo neste contexto deve, ao meu modo de ver, entender as diversas dificuldades existentes deste povo, que ao contrário dos grandes centros da sociedade brasileira ficou vinculado a um grande sentimento interiorano de religiosidade, muito identificado com seus símbolos e sua cultura. Característica esta que faz o sertão nordestino ainda pouco alcançado. Cidades médias desta região são mais propícias a quebra destas características, por causa do pensamento cosmopolita e inovador, refletindo a entrada das diversas culturas sertanejas, bem como setores mais identificados com os grandes centros sociais. Mas cidades pequenas pela pouca influência desses ramos pouco são influenciados. Por esta razão, a pregação ao sertanejo não deve substituir as crendices católicas, fazendo pontes culturais contrastantes com o evangelho, mas reproduzir uma temática voltada para os anseios do povo, bem como uma adaptação cultural, não necessariamente litúrgica, mas proeminente no sentido de abordagem e linguagem.

Ao povo sertanejo deve-se ser empreendida uma mescla de tradição purificada por uma visão bíblica, enfatizando os valores culturais riquíssimos do sertanejo, bem como aflorar uma temática de profundidade escriturística. Esta temática aplicada à sociedade nordestina influenciará as massas mais suscetíveis, por uma questão cultural própria, bem como ser proeminentemente respeitadora de símbolos naturais do sertanejo.
Não adianta implantar o ponto de vista evangelístico empreendido nos grandes centros culturais da sociedade brasileira. Tal posicionamento pode ser visto como abertamente contrários a tradição sertaneja e ser fator descriminante, criando subclasses culturais no sistema nordestino. Isso já tem sido vivenciado quando na mentalidade popular “os crentes” são vistos como um povo alienígena e diferenciado que optaram pela negação da cultura e da forma de viver simples do homem nordestino.

Na temática da evangelização do sertanejo não se busca a quebra da tradição, a não ser que esta seja flagrantemente famigerada biblicamente, caso contrário a preservação de certos símbolos será muito bem visto pela alma sertaneja. É necessária, de forma urgente, uma abordagem que seja menos ofensiva e mais respeitosa, que expila os símbolos culturais ofensivos a doutrina do evangelho, mas que contemple o entendimento da cosmovisão sertaneja. Não tentando desmistificá-la a todo custo, jogando fora o bebê junto com a água da bacia, mas sendo mais criteriosos no julgamento dos símbolos. Boas interpretações simbólicas não taxam todas as coisas de pagãs, mas analisam as mesmas por uma perspectiva de influencia intelectual, valorizando os símbolos, mas não descartando os mesmos de forma leviana.

No empreendimento do alcance do homem sertanejo a temática deve ser rediscutida, para que as massas ainda não alcançadas sejam contempladas, não como um “estupro” cultural, mas uma abordagem piedosa e voltada para contemplação dos anseios e sentimentos do homem como um todo. Este deve ser o pensamento daqueles que desejam alcançar o sertanejo. Deus nos faça aclarar mais este entendimento e que multidões de almas sertanejas se rendam a Cristo, sem crendices, sem símbolos místicos, mas definitivamente fiéis ao genuíno evangelho.


Soli Deo Gloria!

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