sábado, 30 de outubro de 2010

As bases doutrinárias da Reforma e sua aplicabilidade hoje.


Judas verso 3

INTRODUÇÃO: Caros irmãos. Nesta noite eu gostaria de refletir sobre a Reforma Protestante. Hoje comemoramos os 493 anos que o Monge Martinho Lutero afixou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo. E diante deste dia especial, gostaria de abordar aquilo que ficou conhecido como “Os Cinco Solas da Reforma”.
Acredito que nunca vamos esgotar um assunto tão vasto como a Reforma da Igreja, visto que até o dia de hoje precisamos reformá-la. Diante disso, esse sermão atende a este propósito, falar de doutrinas antigas, mas também falar da atualidade, pois ainda necessitamos delas atualmente. Por esta razão, sugiro um tema: “As bases doutrinárias da Reforma e sua aplicabilidade hoje”. Porque queremos provar aos irmãos que as doutrinas antigas fazem ecoar em nossas consciências que não estamos livres de perversões doutrinárias. Diante disso, chamo atenção para o seguinte:

I- Sola Scriptura - Somente a Escritura (2 Timóteo 3.16-17)
Toda a afirmação levantada pela Reforma tem como objetivo refutar algum erro romanista. Isso é perfeitamente claro neste Sola. Enquanto o catolicismo abolia a Bíblia de sua doutrina, a Reforma enfatizava a mesma. Vejamos a implicação disso:
a)    Única regra de fé e prática – Nunca houve tão grande promoção do livro sagrado como na Reforma. Não era apenas um ponto doutrinário é a alma da Reforma, de onde procedem seus dogmas e a vida do povo. Logo, isso foi contestado pelos católicos e ainda hoje é motivo de discussão entre os protestantes.
b)   O Pentecostalismo é contra este Sola – A partir do momento que coloco a Bíblia em segundo plano a ouvir um profeta, quando ela não é honrada, nem obedecida estamos fugindo da aplicabilidade do Somente a Escritura.
  
II- Sola Christus – Somente Cristo (João 14.6)
a)    A obra substitutiva de Cristo – Este ponto da doutrina reformada enfatiza a obra mediatória de Cristo, é Ele sendo nosso substituto, tomando nosso lugar, fazendo-nos apenas agraciados pecadores por tudo que Ele mesmo realizou. Acreditamos que sem o Mediador não há evangelho, nem salvação.
b)   O repúdio a outro evangelho – Qualquer tentativa que faça esta obra substitutiva algo menor é uma grande perversão da verdade. Nisto incluímos movimentos como pelagianismo, arminianismo e ecumenismo. O homem só será salvo se for substituído por Cristo em Sua eficácia e eleição.

III- Sola Gratia – Somente a Graça (Efésios 2.8)
a)    Graça suficiente – Somente somos salvos por graça, visto que não merecemos nada a não ser a punição pelos pecados. Nascemos mortos e só podemos ter vida por meio da graça regeneradora. Deus nos levanta do abatimento, nos vivifica da morte e da incapacidade moral, para enfim nos tornar justificados.
b)   Repúdio de uma postura contrária – Temos como demoníaca e perversa o desejo de nos acharmos dignos de salvação. Em nós, como diz o apóstolo, não existe bem nenhum (Rm. 7.18). Não podemos nem mesmo aceitar a idéia de cooperar com esta graça, pois quando dizemos “somente”, excluímos qualquer contribuição humana.
IV- Sola Fide – Somente a Fé (Romanos 1.17)
a)    O artigo fundamental – Lutero disse que este artigo é o reconhecimento de que se ele é crido a igreja permanece ou cai. Cremos nisso. Não cremos que o homem vem a Cristo sem fé. Baseado no texto, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11.6). A simples união a uma igreja não garante nada ao homem. Ele precisa crer para ter vida em Cristo (Jo 3.36).
b)   Repúdio ao nominalismo atual – Devemos, não só quanto a nossa vida, mas quanto à vida da igreja, repudiar os que se dizem crente e não são. Estes, na maioria das vezes, são os responsáveis pelas cismas e confusões. Não se permitem admoestar, nem tão pouco, evoluem na fé. É necessário avaliarmos também se manifestamos fé, se nos agradamos das coisas santas e se nos arrependemos para viver na fé.
  
V- Sola Deo Gloria – Somente a Deus Glória (Isaías 42.8)
a)    A glória exclusiva – Como foi dito no texto, o Senhor não reparte sua glória. Ele não dividirá com os ídolos, o amor ao dinheiro ou a si próprio. O homem que quer agradá-lo precisa se desfazer da sua “fábrica de ídolos” e centrar sua vida e adoração exclusivamente em Deus. Devemos buscar os interesses dele e não os nossos, se isso acontece jamais podemos afirmar este artigo completamente.
b)   Repúdio a postura atual – Quão longe estamos disso hoje. Buscamos satisfazer a nossa vontade e se der fazemos a de Deus. Somos egoístas e mudamos a oração para “eu declaro”, “decreto”, ou coisas assim. Deus para nós é o nosso maior servo, ao invés de Senhor. Que tipo postura é essa? Só podemos lamentar se vivemos assim.

Conclusão: Observe sinceramente se isso é o que você vive. Observe se essa é a doutrina predominante hoje. Acredito que você não precisa pensar muito para ver que não. Estamos trocando estes pilares por um evangelho fácil e voltado para nos satisfazer. Que Deus nos faça retornar ao Evangelho da Reforma, não por uma filiação histórica, mas maior do que isso, por ser aquilo que consta na Palavra. Esta é a nossa maior necessidade hoje.

Soli Deo Gloria!

5 comentários:

  1. Caro Rev. Fabiano,
    Gostaria de discordar da sua afirmação de que os pentecostais são contra o princípio do Sola Escriptura. Concordo que, em muitos casos, isto possa ocorrer, mas não se trata da regra. É importante não generalizar. De que grupo de pentecostais você se refere? Sabemos que há igrejas que creem na contemporaneidade dos dons, entre eles o de profecia, mas que mantem firme o princípio de que nada pode se acrescentar ou diminuir às Escrituras (Dt.4.2).
    Quando discuto este tema, penso em algumas questões: Todos os profetas levantados por Deus foram escrituristicos, ou tinham finalidade de trazer revelação da Palavra de Deus ao povo, ou eles, tambem, comunicavam ao povo mensagens de Deus sobre questões práticas, pessoais, casuais? O que dizer da visão de Paulo para ir para Macedonia? (At. 16.9); ou de Ananias e Paulo? (At.9.15) e muitos outros exemplos bíblicos de profecias, sonhos e revelações que não acrecentariam nada à Palavra? Além do mais, sabemos que, segundo Paulo, o dom de profeta e de profecia não eram apenas fundacionais, ou seja, não deveriam serem vistos apenas para a revelação da Palavra, o que não resta duvida de que neste sentido já cessou; mas, estes dons tinham como finalidade a edificação do corpo de Cristo (Ef. 4.11-16; 1Co.12). Neste ultimo caso teria tambem cessado estes dons? Outra questão importante é a base usada para o cessacionismo (I Co. 13.8 - 9). É importante ressaltar, como bem defende Augustus Nicodemos, o que é "perfeito" neste nexto se refere a Cristo e não às Escrituras, como pensam alguns interpretes. Neste caso, nada se opõe ao fato de haver a contemporaneidade dos dons extraordinários.
    Para concluir reafirmo, que defendo defendo o Sola Escriptura, o Solus Christus, o Sola Fide, Sola Gratia e o Soli Deo Gloria.

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  2. Caro Linhares. Quando afirmo que os pentecostais não compactuam com o Sola Scriptura não quero realmente generalizar. Alguns podem até confessar o mesmo, como você afirma, só que esta confissão é comprometida com a prática. Outra questão é que nem todos defendem o cessacionismo baseado em 1 Co 13. Alguns fazem esta interpretação como afirma o do rev. Nicodemus. O fato é que muitos, como eu o defendem pela condição de que se existe o texto bíblico é para ele ser seguido incondicionalmente, na certeza de que ele é suficiente para direcionar o povo de Deus e não novas revelações hodiernas. Portanto, discordo de que aqueles sonhos de Paulo, Ananias e outros personagens bíblicos possam ser argumento para se defender essa prática hoje. Aqueles eram revelatórios sim, tanto é que estão na Bíblia hoje. As profecias e visões pentecostais não são do mesmo nível, são fruto da imaginação e da conviniência de muitos que defendem estas idéias. Lamentavelmente elas não serão registradas jamais. Não serão norteadores para ninguém, mas apenas para os membros de sua igreja, isso se a liderança concordar. Enquanto que o texto bíblico jamais será questionado entre os piedosos, mas apenas entre os descrentes. Portanto, acredito sim que seja incompatível, porque ou temos limites ou não temos coisa alguma. E nada melhor do que acreditar apenas nos limites sempre atuais da Palavra de Deus.

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  3. Acho que está explicitamente claro que a questão é o conceito de "nova revelação". O que é nova revelação? Outra questão, na prática só os pentecostais não vivem o Sola Escriptura? Há questões que nem mesmo os mais reformados estão em acordo, como o Natal, por exemplo...

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  4. Posso dizer que novas revelações são novas manifestações espirituais não autorizadas pela Palavra. Acontecem num contexto onde não se pode provar as mesmas e fica sempre de um ponto de vista subjetivo, nunca se constatando sua veracidade. Acredito que não devemos ficar procurando quem cumpre e quem não cumpre. Sitei os pentecostais porque entendo que suas práticas são contrárias ao princípio, porque dizem que honram a Bíbla, mas no entanto, concedem aos indivíduos do seu grupo o direito de falarem autoritativamente. Para mim isto não é obdecer. Quanto ao que você mencionou do natal e os conflitos existente entre reformados, entendo que apenas os reformados, correndo o risco de parecer barrista, se preocupam sinceramente com estas questões. Temos nossas confissões, mas as mesmas não são infalíveis, mas existe respeito entre os que pensam diferentes. Portanto, a discussão em nosso meio é válida, pois parte do desejo de sermos mais bíblicos, enquanto que em outros segmentos nem mesmo se discute teologia, mas um consenso comum é a diretriz de balizamento. Não me entenda mal, só quero mostrar que existem polos distintos sobre esta questão e nada mais do que isso.

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